Manifestantes defendem democracia, direitos humanos e liberdadeElas lotaram o plenário do Senado Federal vestidas de lilás e agitando lenços brancos. Os parlamentares que representam a direita evitaram aproximar-se do plenário; os que apoiam as reivindicações do alegre público feminino receberam as milhares de Margaridas (mulheres de família agrícola), que desde 2000 marcham rumo a Brasília para apresentar uma pauta de reivindicações comum a campesinas, quilombolas, indígenas e extrativistas do Brasil.
Numa sessão solene, deputados e senadores homenagearam Marcha das Margaridas que, em sua quinta e edição, adota como tema o Desenvolvimento Sustentável com Democracia, Justiça, Autonomia, Igualdade e Liberdade. O evento foi presidido pela procuradora da Mulher no Senado, Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM).
Manifestantes e parlamentares foram quase uníssonos ao se revezarem no microfone. Todos criticaram a mobilização de setores conservadores para desmontar direitos constitucionais e desconstruir conquistas democráticas dos brasileiros, como o projeto que abre a terceirização de serviços inclusive para atividades-fim e precariza as relações trabalhistas e a redução da maioridade penal. E condenaram a estratégia de parte da oposição do “quanto pior, melhor”, ainda que isso implique atrapalhar o governo com a aprovação de mais e mais despesas.
Do lado das Margaridas, os discursos mantiveram o tom de defesa da democracia com o bordão “não vai ter golpe”. Na mesma linha, disseram que não admitirão qualquer recuo na questão dos direitos e da liberdade já conquistada.
Sobre a pauta legislativa, mais que qualquer outro assunto, as homenageadas destacaram a necessidade de aprovar um item da reforma política em tramitação no Congresso: o que estabelece um mínimo de vagas para mulheres em todos os parlamentos do Brasil. A matéria deve ser votada ainda hoje pela Comissão Especial da Reforma Política.
“Reforma política/tem que acontecer/ eu quero ver o povo/ e as mulheres no poder”, bradavam as trabalhadoras das bancadas normalmente reservadas aos senadores.
Falando em nome da bancada do PT no Senado, Fátima Bezerra (RN) falou da alegria de participar de “um dos maiores movimentos de massa que atuam no campo em defesa dos direitos das mulheres” e destacou o compromisso das manifestantes com a defesa da democracia. “As margaridas mais do que nunca estão atentas, estão vigilantes e estão mobilizadas e não aceitarão golpes, de maneira nenhuma; não aceitarão retrocesso de maneira nenhuma. As margaridas do Brasil querem mais democracia, para que a gente possam avançar cada vez mais na luta pela afirmação dos nossos direitos”, disse.
Fátima disse ainda que a bancada petista está atenta para combater pautas negativas, como o PL 5.288, de 2009, que tem por objetivo mudar os critérios de cálculo de utilização da terra. “Projeto de lei nefasto é o PL 5.887, que submete ao Congresso as desapropriações por interesse social para fins exatamente da reforma agrária”, enumerou e acrescentou outra proposta retrógrada: o PLS nº 107, de 2011, que pretende impedir que propriedades improdutivas sejam desapropriadas. “Temos de rejeitar exatamente essas propostas no âmbito do Congresso Nacional”, afirmou.
A senadora fez questão de lembrar que é paraibana de nascimento, como a líder das Margaridas, Margarida Maria Alves, presidente do Sindicato de Trabalhadores Rurais de Alagoa Grande – PB, assassinada em 12 de agosto de 1983.
Pauta propositiva
Representando as margaridas, Carmen Foro discursou homenageando Margarida Alves, cujo assassinato completa hoje 32 anos. Agricultora familiar do estado do Pará, Carmen falou da importância de que as mulheres falem de suas necessidades. “Nossa pauta é absolutamente propositiva”, disse, acrescentando que o movimento exige do Senado e da Câmara mais atenção à pauta já apresentada.
“Hoje é um dia da maior importância para a sociedade brasileira: o dia em que nós, mulheres do campo, da floresta, com a solidariedade das mulheres da cidade, estamos aqui dizendo que nós não queremos um país que possa retroceder. Nós queremos um país que avance nos direitos, que garanta a democracia e que garanta o direito nosso de virmos aqui, neste espaço, e fazer as denúncias necessárias para garantir vida digna para todas e para todos os trabalhadores de nosso País”, concluiu.
Também falaram as deputadas petistas Erika Kokay (DF) e Benedita da Silva (RJ)
Giselle Chassot
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