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Muito além de questão de segurança nacional, a quebra de privacidade das comunicações de milhares de cidadãos em todo o mundo – inclusive no Brasil – foi uma mera questão de espionagem. Segundo o jornalista Glenn Greenwald, que falou, nesta terça-feira (06), a parlamentares na Comissão de Relações Exteriores (CRE) do Senado Federal, a curiosidade americana que ele denunciou com o auxílio do americano Edward Snowden tinha muito menos relação com segurança e estratégia militar e muito mais com espionagem comercial e sobre ações de governos que, não necessariamente, eram ameaças.
“É muito importante que todos saibam desse esquema de espionagem”, disse o jornalista, que passou dez dias em Hong Kong para recolher os dados reunidos por Snowden. Greenwald, que vive no Rio de Janeiro, publicou no jornal The Guardian informações relatadas pelo ex-técnico da agência de segurança americana (NSA).
O jornalista garantiu aos senadores que o governo americano teve acesso a dados muito mais “detalhados” que apenas os metadados (título e destinatários de e-mails e números discados de ligações telefônicas). “Eles acessaram o conteúdo integral de conversas. O objetivo era muito claro: eliminar a privacidade dos cidadãos e dos governos em todo o mundo”, assegurou, afirmando que a qualidade de vida de qualquer pessoa em qualquer lugar do mundo fica muito prejudicada quando as pessoas sabem que são espionadas.
“É muito importante levar em conta que os Estados Unidos sempre alegam que fazem tudo sob a justificativa de que é preciso garantir a segurança nacional mas, na verdade, trata-se de uma questão de espionagem”, resumiu o depoente, enfatizando que o sofisticado esquema americano bisbilhotou todos os governos da América Latina.
Brasil e México foram os principais alvos nos últimos cinco anos. A Colômbia veio logo em seguida foi o segundo alvo prioritário na América Latina nos últimos cinco anos. “O programa utilizado pelo governo americano é muito poderoso, porque, se eles (o governo) sabem seu e-mail, seu IP ou se tem qualquer informação sobre você, podem rastrear sua correspondência eletrônica, que sites você visitou, que páginas de pesquisa você acessou e coisas do tipo”, explicou, lembrando que a legislação americana proíbe esse tipo de invasão, se o espionado for um cidadão americano. “Se não, eles simplesmente não precisam recorrer a tribunais e nem nada”, disse.
Esquema de guerra
Greenwald lembrou que o sistema de espionagem de comunicação foi criado para reunir dados sobre o inimigo em momentos de guerra. Hoje, o esquema sofisticou-se a tal ponto que a simples curiosidade parece ser motivo suficiente para “grampear” um governo ou um cidadão. “Quanto mais eles conhecerem, mas poder eles terão e assim, poderão aumentar o poder do Estado”, explicou.
Segundo o jornalista, embora muitos governos tenham manifestado sua indignação contra o esquema americano, é muito pouco provável que a bisbilhotice oficial tenha se reduzido e muito menos terminado. “É importante que os diversos governos cuja privacidade foi invadida se unam contra essa espionagem generalizada”, recomendou.
Lindbergh propôs uma moção de louvor ao |
Voto de louvor
O senador Lindbergh Farias (PT-RJ) disse que, como representante dos cariocas, orgulhava-se de ter Greenwald residido em seu estado. Ele propôs uma moção de louvor ao jornalista pela importância de suas revelações. A votação do texto ficou para a próxima sessão da Comissão.
Em outro momento da reunião, um grupo de jovens entrou na sala e, em silêncio, exibiu máscaras com o rosto de Edward Snowden. Conhecido por seu engajamento em questões do tipo, o senador Eduardo Suplicy (PT-SP) fez questão de posar com a máscara para manifestar seu apoio ao grupo.
Giselle Chassot
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