Fátima: é um julgamento político que tem de estar calcado em pressupostos jurídicosApesar da perplexidade causada pelo uso leviano do instrumento do impeachment, a senadora Fátima Bezerra (PT-RN) acredita que é possível barrar o golpe no Senado. “Todo mundo sabe que o impeachment é, sim, um julgamento político, como faz questão de repetir a oposição, mas é um julgamento político que tem de estar calcado em pressupostos jurídicos. Não se pode fazer um julgamento por um instrumento de exceção, que se usa em situações gravíssimas, simplesmente pela via política”. Essa compreensão, aposta a senadora, tem tudo para prevalecer na Casa.
A senadora lembra que o processo de impeachment é nada mais que o aprofundamento das manobras de “terceiro turno” executadas pela oposição desde que foi encerrada a contagem dos votos da eleição presidencial de 2014. “Sem força e competência para ganhar o governo nas urnas, a oposição conservadora desde então começou a tramar esse golpe, com o apoio da grande mídia oligárquica, esse massacre midiático”, com o apoio do apoio “do corrupto mor” do País, Eduardo Cunha.
“Acho tão interessante quando chegam aqui e dizem que a economia acabou, que o Brasil parou. Ora, como se boa parte da oposição não tivesse culpa nesse cartório, porque apostou no quanto pior melhor. Pior para o Brasil e melhor para eles”, observou.
Fátima chamou a atenção para uma reportagem publicada na Folha de S. Paulo desta terça-feira (19), segundo a qual o senador Aécio Neves (PSDM-MF) — “derrotado de 2014, que não teve a grandeza de respeitar o resultado das urnas”, como lembrou a senadora — já estaria em conversações com o vice-presidente Michel Temer. “Estavam com Armínio Fraga em um restaurante de São Paulo, um jantar que eu poderia chamar de ‘o clube da conspiração”.
Fátima manifestou sua convicção de que a política tem que ser, “acima de tudo, a arte de realizar sonhos. Tem de ser feita com dignidade, com honradez, pensando nos interesses da coletividade”. Nada disso, ressaltou, estava presente na manifestação dos golpistas na sessão da Câmara que no último domingo aprovou a admissibilidade do processo de impeachment da presidenta Dilma. “Foi exatamente o contrário. De repente, é pela família, é pelo meu avô, é pelo meu tio. Com todo respeito, mas, antes de mais nada, política não é instrumento de promoção do interesse pessoal. A política deve ser um instrumento de promoção do bem comum”, ressaltou a senadora.
No Senado, Fátima está convicta de que o debate terá outro tom, “até porque o que fez a Câmara foi tão somente aprovar o pedido de admissibilidade. O mérito mesmo será discutido nesta Casa”. Ela confia que o processo será barrado na Casa já na sua primeira etapa. Vamos corrigir o equívoco histórico que a Câmara dos Deputados cometeu ao acolher esse pedido de impeachment. Mas, se isso não acontecer, vamos ter a segunda fase, que é a do mérito. Aí vamos fazer o debate aqui com clareza, com seriedade, com responsabilidade e com discernimento”, disse.
Em aparte, o senador Telmário Mota (PDT-RR) lembrou que as “pedaladas fiscais” usadas como pretexto para o processo de impeachment — e esquecidas por praticamente todos os deputados que votaram “sim” no último domingo — beneficiaram o próprio Tribunal de Contas da União (TCU), que pediu créditos suplementares ao Executivo. “Olhe a ironia do destino, o próprio TCU, que fala em pedaladas, foi beneficiado por esses créditos. Na hora em que solicita, não é pecado!”, anotou o senador.
Telmário também acredita que o golpe será barrado no Senado. “Aqui, com certeza, ninguém vai ver esses shows, esse carnaval de hipocrisia. Vão ver senadores centrados, com a responsabilidade de dar uma resposta a este País, observando, à luz do ordenamento jurídico se realmente houve o crime de responsabilidade ou não houve, porque essa é a grande questão”.
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