O episódio Rafinha Bastos com Wanessa Camargo rendeu excelentes reflexões na mídia: até onde vai a liberdade de expressão, se ela é absoluta, o que é humor, qual o limite do bom-senso para a reação do ofendido, como está sendo utilizada a liberdade democrática que ora usufruímos.
Creio que grosseria não combina com humor. Mas o limite é tênue e, volta e meia, o “artista” erra a mão. Seja no caso Rafinha, que insiste em todo tipo de ofensa, a maioria sem graça, seja em uma charge, na capa do jornal “O Globo”, retratando a ministra Iriny Lopes de biquíni em uma paródia de Gisele Bündchen. Eu reclamei mandando carta, não publicada, para o jornal.
Acredito que, na maioria das vezes, onde o humor descamba para terreno lamacento ocorre um deslize não planejado pelo autor. A linha de até onde é engraçado é difícil mesmo. Alguns errarão por não conseguir conter a piada. Outros, por não pensar, como eu própria no malfadado “relaxa e goza”. Ou ainda por compulsão, como fez o diretor Lars von Trier ao afirmar que “entendia Hitler”. Depois ele disse que sabia que não deveria ter dito, mas que não conseguira se calar.
Possivelmente, os desacertos têm a ver com a personalidade do autor, sendo os mais injuriosos com sua agressividade, sua insatisfação ou sua autodestruição.
Se tudo for colocado em debate, a censura ainda será, de longe, o pior. Entretanto é bom que, de tempos em tempos, tenhamos situações como as expostas, que nos fazem pensar em como usamos nossa recém-conquistada liberdade.
Nossa própria Constituição, que proíbe a censura, exige o respeito à reputação. Essas fronteiras são tão polêmicas que a Lei de Imprensa deixa que o juiz decida. E aí temos processos nos quais até o nascituro se ofende e pede ressarcimento. Apesar de a maioria das ações ser de horror à censura, ninguém menciona a censura do patrocinador.
Entendo, ele paga e tem direito a não ver exposta numa piada de mau gosto uma pessoa que preza. Fica a pergunta: o capital pode?
Em geral, as piadas só são engraçadas para os que não são as suas vítimas. Eu conseguia rir do “Marta Suplício” no “Perdidos na Noite”, do Faustão. Assim como dou risada das piadas com o meu botox no Zé Simão. Mas não foi tão engraçado com o “Martaxa”. Faz parte.
Chama a atenção a onda de programas de TV, ditos cômicos, que vulgarizam, achincalham e insistem no politicamente incorreto para tentar fazer graça. Não sei bem identificar se estão sem rumo ou se é pobreza de ideias mesmo.
Será que daria para canalizar tanta energia para algo menos desconfortável e mais divertido? Que não ofenda corações e mentes? Que instigue ou que simplesmente faça dar boas risadas?
Artigo publicado no jornal Folha de S. Paulo do dia 29/10/2011