Quem tem medo de Osmar Serraglio? O ministro da Justiça de Temer — dublê de investigado e chefe dos investigadores da Operação Carne Fraca — é o centro do escândalo que ameaça um dos principais setores da economia brasileira e deve explicações sobre seu papel na nomeação do principal chefe do esquema criminoso.
Essas explicações, porém, correm o risco de não serem prestadas à Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado. O presidente da CCJ, Edison Lobão (PMDB-MA) preferiu manobrar e encerrar a reunião do colegiado para que não fosse votado um convite para que Serraglio fosse ouvido pelos senadores. O requerimento é de autoria da Líder do PT, Gleisi Hoffmann (PR), que também requereu a presença do diretor-geral da Polícia Federal, Leandro Daiello Coimbra, para explicar a condução da operação e a espetacularização em torno da investigação.
Gleisi lamentou a falta de visão política do presidente da CCJ. “A situação é grave e urgente e teremos que esperar mais uma semana para trazer o ministro aqui?”.
Prerrogativa do Senado
O Senado tem a prerrogativa de convocar ministros e outras autoridades para prestarem esclarecimentos à Casa sobre seus atos. Serraglio foi o padrinho responsável pela indicação do ex-superintendente do Ministério da Agricultura no Paraná, Daniel Gonçalves Filho, apontado como o chefe de um esquema de corrupção que liberava a comercialização de alimentos produzidos por frigoríficos sem a devida fiscalização sanitária.
Na última terça-feira (21), a Bancada do PT na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) já tinha enfrentado grandes dificuldades para aprovar os convites a Serraglio e ao diretor-geral da Polícia Federal. Nesta quarta-feira, os apoiadores de Temer preferiram encerrar a reunião para não assumirem o ônus de votar contra a realização da oitiva.
[blockquote align=”none” author=”Gleisi Hoffmann”]É inaceitável que Serraglio permaneça ministro, ainda mais que isso lhe dá a condição de chefe da PF, que o está investigando[/blockquote]
Além de blindado da obrigação de se explicar, o epicentro do escândalo permanece ministro. “É inaceitável, ainda mais quando o ministro da Justiça é o chefe de quem o está investigando”, protesta a senadora.
A fraude revelada pelas investigações envolve 40 empresas, mas foi divulgada com tal alvoroço que causou pânico na população. Esse é o motivo para o convite ao diretor-chefe da Polícia Federal, explica Gleisi. “A operação Carne Fraca generaliza acusações que, aparentemente, só podem ser dirigidas contra uma parcela não exportadora de um setor estratégico gigantesco”. O resultado é que este setor produtivo foi duramente atingido e terá dificuldade para se recuperar. A cadeia produtiva da carne emprega seis milhões de brasileiros e brasileiras.
Ouça a senadora Gleisi Hoffmann sobre a “blidagem” ao ministro Osmar Serraglio
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