Defesa da vida

Lula, sobre volta da fome: “Falta de vergonha de quem governa o país”

“A fome não é um fenômeno da natureza, é um fenômeno da falta de vergonha na cara de quem governa este país”, disse em entrevista o ex-presidente, que apontou a culpa de Bolsonaro também pela alta do preço de combustíveis e alimentos
Lula, sobre volta da fome: “Falta de vergonha de quem governa o país”

Foto: Ricardo Stuckert

Em entrevista à rádio Capital, de Mato Grosso, nesta quarta-feira (29), o ex-presidente Lula denunciou que a falta de governo de Jair Bolsonaro tem levado ao aumento da fome e condenado a população a pagar muito caro por combustíveis e alimentos. “Bolsonaro não governa absolutamente nada. Passa o dia falando bobagem com seus fanáticos, que são como um grupo de torcedores que, mesmo quando o time perde, pensa que ganha”, analisou.

Lula ressaltou que a fome atinge 19 milhões de brasileiros por falta de políticas de proteção social como as criadas em seu governo e que retiraram o país do Mapa da Fome, segundo a Organização das Nações Unidas (ONU). “O Mato Grosso, que é símbolo de desenvolvimento do Brasil, tem 30 milhões de cabeça de gado. E esses dias mostraram uma mulher na beira de um açougue procurando um osso para comer. Como é que pode se explicar isso? A fome não é um fenômeno da natureza, a fome é um fenômeno da falta de vergonha na cara de quem governa este país. Vou falar outra vez: a fome não é um fenômeno da natureza, é falta de vergonha de quem governa este país. Porque nós mostramos que é possível acabar com ela”, disse (assista a íntegra aqui).

Segundo o ex-presidente, Bolsonaro age com completa irresponsabilidade ao dizer que não entende nada de economia e ao deixar todas as decisões na mão do ministro da Economia, Paulo Guedes, que não tem um plano de desenvolvimento do país e só pensa em se desfazer do patrimônio público. Assim como a fome, disse Lula, o altíssimo preço cobrado nos combustíveis também é resultado da falta de governo.

“É inadmissível o óleo combustível, a gasolina subirem mais uma vez. Subordinar o nosso preço a uma política de preços internacional teria justificativa se o Brasil fosse importador de petróleo, fosse dependente [do petróleo de outros países]. Mas o Brasil é autossuficiente na produção de gasolina e de óleo diesel, portanto não deveríamos estar submetidos ao preço internacional”, afirmou.

De acordo com Lula, “a Petrobras está fazendo acúmulo de dinheiro para pagar aos acionistas, sobretudo aos acionistas americanos”. “O Brasil pode ter um preço próprio para a gasolina, para o óleo de avião, para o gás de cozinha. E nós fizemos isso quando éramos governo”, acrescentou.

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O preço dos combustíveis, ressaltou, acaba também por afetar o custo dos alimentos. “O governo federal precisa assumir a sua responsabilidade, porque não tem explicação o aumento do preço do combustível da forma liberada como está hoje. Quem está ganhando com isso são os investidores nas ações da Petrobras e não os consumidores brasileiros, que, na verdade, são vítimas quando pagam o preço do combustível e quando vão comprar um quilo de feijão ou de arroz no supermercado, porque o aumento do preço do combustível está colocado no preço da comida. É irresponsabilidade pura.”

 

Distribuição de renda e Fies

Perguntado sobre como o Partido dos Trabalhadores pretende governar quando retornar à Presidência, Lula disse que o foco será o combate à desigualdade social. “Eu aprendi que o pobre não é problema, o pobre é solução. Quando você coloca o pobre no orçamento e ele começa a ter um pouquinho de dinheiro, ele vira consumidor, começa a comprar o que comer, o que vestir, uma telha, um saco de cimento para reformar a casa dele, a economia deslancha. Este foi o milagre que nós fizemos no Brasil: colocar o pobre dentro do orçamento. Por isso, a solução para o Brasil é colocar o pobre no orçamento da prefeitura, do estado, da União e colocar o rico no imposto de renda. Porque rico não paga imposto sobre lucro nem sobre dividendos”, frisou. “Assim vamos arrecadar um pouco de dinheiro para que ele chegue na mão de cada pessoa. Muito dinheiro na mão de poucos é concentração de riqueza. Pouco dinheiro na mão de muitos é distribuição dessa riqueza.”

Lula também foi questionado, por um ouvinte, sobre como tratará os estudantes que não conseguem pagar a dívida do Fies caso volte a presidir o Brasil. “Vamos ter que renegociar essa dívida ou anistiar. Todo ano, este país faz um Refis, para anistiar a dívida de empresários que não pagaram impostos. Ora, por que a gente não pode fazer isso para os estudantes brasileiros? Por que a gente pode financiar qualquer empresa, qualquer projeto, e não pode financiar um jovem que vai adquirir conhecimento para ajudar o Brasil a crescer, a ser mais independente, a ser mais competitivo, a produzir com mais qualidade? Então, ou a gente renegocia ou a gente anistia. Financiar educação é uma obrigação do Estado brasileiro porque quem vai colher é o próprio país”, pregou.

 

Por fim, Lula disse que, apesar de toda a destruição promovida por Bolsonaro, é possível reconstruir o país. “Quando tomei posse em 2003, a inflação estava 12%, o desemprego estava 12%, o Brasil devia US$ 30 bilhões ao FMI, e muita gente sabida dizia que o Brasil estava quebrado e que o Lula não ia conseguir governar. Pois bem, você viu o que aconteceu com este país. Quando entreguei o Brasil à Dilma, estávamos crescendo 7,5% ao ano, o varejo chegou a crescer 16% ao ano e o povo teve, durante todo o meu mandato, aumento real de salário todos os anos. O salário mínimo era reajustado todos os anos” lembrou. “Estou convencido de que nós vamos consertar este país, porque nós já fizemos uma vez”, concluiu.

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