O deputado Fernando Franscischini (SDD-PR), que é delegado da Polícia Federal e, até ser decretada a transferência da maior parte do inquérito da Lava-Jato, era um dos principais fornecedores de informação sigilosa para a imprensa, mudou o discurso preponderante até então. Falando aos jornalistas, como previa seu script, reclamou dos trabalhos e, ao ser perguntado sobre sua avaliação do dia, reconheceu que para a oposição o dia foi pífio. Na frente das câmeras de tevê acusou: “Essa CPI cheira pizza. Essa CPI tem tudo para terminar em nada. O governo escalou dois senadores para (sic) ser coveiro da CPI”, reclamou, mudando o discurso de convocação de luta e de vitória dos defensores da CPMI mista reinante até então.
Assim que terminou de falar com a imprensa, Francischini encontrou o relator da CPI mista, deputado Marco Maia (PT-RS) e repetiu: “o governo escalou dois senadores para serem os coveiros da CPI”. Num tom descontraído, Marco Maia respondeu “que é melhor você não chamar os outros de coveiro porque depois eles podem chamar você de coveiro. E você pode não gostar”.
Ao falar com os jornalistas, o deputado do SDD criticou duramente o Supremo Tribunal Federal (STF). “É um absurdo o governo querer que a gente ouça alguns dos envolvidos sem ter os documentos em mãos. Isso é uma estratégia feita na cozinha do Palácio do Planalto, a estratégia de o Supremo levar os autos do juiz Sérgio Moro e não devolver ao juiz e à Polícia Federal”, disse, lamentando o distanciamento de documentos para novos vazamentos. E completou: “Vocês viram que a cada dia saíam fatos e denúncias novas de corrupção, de irregularidade. Isso é ruim, o jogo de instituições governamentais para calar a investigação do Congresso Nacional”.
Apenas para registro, há duas semanas, o jornal O Globo publicou reportagem que trazia Franscischini como fonte de um trecho de ofício que integra o inquérito da Lava-Jato, com ilação de que a PF via indícios de quadrilha dentro da Petrobras. O factoide não resistiu, o que não impediu o mesmo deputado-delegado de requerer documentos da Operação Lava-Jato para a unidade da PF no Rio de Janeiro.
O relator Marco Maia também conversou com a imprensa, ao final. Em abordagem de um repórter da Folha de S.Paulo, ele quis saber o motivo para não convocar a presidenta Dilma Rousseff:
Repórter da Folha – Vai ter algum depoimento antes da Copa?
Marco Maia – Com certeza. A Copa só se inicia na próxima quinta-feira (12) e depois nós vamos trabalhar na Copa do Mundo. Vai ter sessão todas as semanas e vocês (imprensa) já estão convocados para estarem aqui todos os dias.
Repórter de rádio – Por falar em convocação, o senhor acha que é possível fazer alguma oitiva séria sem ter a quebra do sigilo em mãos para analisar o que o camarada fez?
Na verdade, o importante é nós termos aqui, neste momento, os documentos. As informações que serão repassadas tanto pelo Judiciário quanto pelo Ministério Público e pela Controladoria Geral da União. Nesses documentos, nós já vamos ter uma série de quebras de sigilos bancários. Vocês vão perceber que hoje nós aprovamos um requerimento que trata especificamente dessas quebras de sigilo que foram praticadas durante a Operação Lava-Jato. Ali há muitas informações que, quando chegarem, serão importantíssimas para o processo de investigação e para as oitivas. É óbvio que vamos começar com algumas oitivas e talvez não seja necessária a presença desses documentos.
Repórter de TV – A ideia do senhor é começar por quem, deputado?
Nós vamos analisar todas as informações que foram colocadas, mas eu acho que Paulo Roberto da Costa, que está convocado pela CPI do Senado pode ser um bom começo para a CPI. Mas vamos dar uma olhada em todas as convocações que foram aprovadas, e, a partir delas, vamos montar um bom roteiro de investigação. Eu estou muito contente com a aprovação que tivemos hoje. Aprovamos por unanimidade tanto o plano de trabalho quanto a proposta de convocações. Foram 233 requerimentos aprovados, o que dá conta de que a CPI começa bem, equilibrada, fazendo acordos e todos imbuídos em investigar. O que nós percebemos na votação hoje e no debate de ontem foi uma vontade de senadores e deputados de investigar e não transformar a CPI num instrumento apenas de debate político. Nós teremos no futuro outros requerimentos que deverão ser aprovados também, mas o que nós aprovamos hoje é bom, é bastante, é suficiente para que a gente possa dar início à investigação.
Repórter da TV Bandeirantes – O depoimento do Yousseff (Alberto Yousseff, doleiro preso na Operação Lava-Jato) deve ficar para depois, porque esse é um caso específico de que a quebra do sigilo. Seria importante né?
Esse é, talvez, o mais complexo dos depoimentos que nós deveremos ter e as informações são fundamentais para fazer a inquirição. Acredito que nós devemos esperar um pouco mais as informações e enquanto isso nós vamos negociando com a Polícia Federal a vinda dele até o Congresso.
Repórter da Folha – Deputado, a convocação da presidenta Dilma seria inconstitucional? (Deputados da oposição apresentaram um requerimento em que pediam a convocação da presidenta Dilma Rousseff)
Primeiro ela (a convocação por requerimento) é inconstitucional. Portanto, ela não tem legalidade na sua convocação pela CPI. Segundo, acho que ela (convocação) é inconveniente, porque neste momento trazer a presidenta Dilma ou trazer qualquer outro candidato à presidente da República, ou alguém que pudesse ser ouvido. Nós temos participações das mais variadas nesse processo. Seria inconveniente pelo momento político que nós estamos vivendo. Então, além de ilegal, na minha avaliação, é inconveniente.
Repórter de Rádio – O senhor está falando tanto em convocação. A pressa de hoje é por conta do jogo do Brasil, já que o Brasil vai enfrentar o Panamá, ou nos dias da Copa do Mundo também vai ser assim?
Hoje nós temos um jogo amistoso. Fiquei sabendo desse jogo ontem, mas nós vamos ter sessão durante a copa, nós vamos ter sessões normais durante todas as semanas e nossa intenção é trabalhar o máximo possível, com a rapidez que for possível, para que a gente possa apresentar um relatório consistente, bom, o mais rápido possível. Agora, prazos, como vamos construir isso. Vejam vocês, nós temos mais de 600 requerimentos já apresentados. Nós vamos ouvir todos os requisitados, todos os requeridos. Nós entraremos o ano de 2015 fazendo oitivas, por isso a ideia de você ir selecionando, criando lógica no processo de investigação. Agora quem faz a pauta é o presidente (da comissão). Nós apresentamos uma lista de pessoas que nós entendemos importantes de serem convocadas. O presidente, é óbvio, ouvindo alguns parlamentares, o próprio relator, vai tomar a decisão sobre a ordem dos convocados e das audiências que nós vamos realizar.
Repórter da TVSenado – As prioridades são os da Lava-Jato?
Nós temos quatro eixos de investigação. Nós deveremos, a cada semana, ouvir um desses eixos, pessoas ligadas a esses eixos, que vão chegar ao final dando um diagnóstico do trabalho da Petrobras. Então é isso que nós estamos nos propondo com esse plano de trabalho que aprovamos hoje.
Repórter da TV Bandeirantes – E o André Vargas e o Luiz Argolo que teriam ligações com o doleiro. Eles podem ser ouvidos na CPI?
Não há nenhum requerimento tratando sobre isto na CPI, mas no curso da investigação eu diria que tudo aquilo que for aparecendo, que for levantado, vai ser fruto de investigação. Os dois já são investigados pela Câmara dos Deputados, no Conselho de Ética. Ali nós teremos a produção de muitos documentos que serão importantes no processo de investigação da CPI, mas digo que isto é um passo posterior que nós ainda teremos muito tempo para analisá-lo e para chegar a qualquer conclusão sobre eles.