O ministro das Relações Exteriores, Carlos França, informou que o resultado da reunião de Bolsonaro com Vladimir Putin foi a assinatura de uma emenda para atualizar acordo, feito em 2008, sobre proteção mútua de informações classificadas entre os dois países. Afora isso, houve apenas uma declaração mútua dando conta do clima de cordialidade na visita e a promessa de fortalecer a parceria Brasil-Rússia. Se faltaram efeitos práticos, sobraram fake news, aponta o líder da bancada do PT no Senado, Paulo Rocha (PA), que criticou a inclusão, na comitiva, do filho do presidente, Carlos Bolsonaro, cuja credencial é um mandato de vereador pela cidade do Rio de Janeiro.
“Bolsonaro disse que leva o Carluxo nas viagens porque os ajudantes são ruins. Primeiro: Carluxo não é servidor federal, é vereador ‘fantasma’. Segundo: quem tem ajudantes ruins é porque não sabe contratar. Terceiro: Carluxo vai junto para servir de babá e produzir fakes. Quarto: leva porque é o povo que paga”, acusou Paulo Rocha em rede social.
Entre as notícias falsas produzidas e alimentadas diretamente da Rússia está a versão de que Bolsonaro ajudou a evitar a terceira guerra mundial. Nas redes sociais, a expressão #BolsonaroEvitouAGuerra chegou a ser um dos assuntos mais comentados na terça-feira (14), com os filhos do presidente e ex-ministros engrossando o coro. Uma das postagens associa a imagem de Bolsonaro a Jesus Cristo. A denúncia foi feita pela professora e filósofa Marcia Tiburi em entrevista à TV 247. “É uma exploração inescrupulosa da fé alheia”, afirmou Márcia.
O Palácio do Planalto informou que as diárias em hotel da comitiva foram pagas pelo governo russo. Mas os gastos totais dessa a das demais viagens só serão conhecidos a partir de pente-fino nos chamados Cartões de Pagamento do Governo Federal (CPGF). É o que reivindica Fabiano Contarato (PT-ES), que pediu o detalhamento dos gastos do presidente com esses cartões corporativos entre 2019 e 2021, incluindo dados pessoais do portador, que autoriza os pagamentos, e do favorecido, além dos valores pagos. O requerimento foi apresentado na Comissão de Fiscalização, Transparência e Controle do Senado e é direcionado à Secretaria-Geral da Presidência da República.
“A Presidência tem se recusado a fornecer informações detalhadas e individualizadas sobre o uso destes cartões, atribuindo o rótulo de ‘sigiloso’. Se houver algum grau de sigilo, estou pedindo a transferência do sigilo com o tratamento próprio dessa espécie à documentação”, afirmou o senador em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, que, em reportagem, apontou que o somatório de gastos de Bolsonaro em três anos de mandato, até dezembro de 2021, chegou a R$ 29,6 milhões.
Tensão internacional
O clima entre a Rússia e a Ucrânia e países ocidentais membros da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) é cada vez mais tenso. Autoridades locais, de Donetsk e de Lugansk, uma área separatista pró-Rússia na região leste da Ucrânia, ordenaram a evacuação de civis para a Rússia, e acusam o governo central da Ucrânia de planejar uma ofensiva militar contra as duas autodeclaradas repúblicas. Já há relatos de bombardeio, de lado a lado, o que significaria a quebra do acordo de cessar-fogo assinado em 2015. Do outro lado, Estados Unidos e aliados acusam a Rússia de manter na fronteira com a Ucrânia um contingente de 190 mil tropas, ao contrário do anúncio de Moscou de retirada dessas tropas do local.
Enquanto nos grupos terraplanistas de Bolsonaro se comemora a conquista de uma paz fictícia, o presidente carrega na bagagem do giro pela Rússia a contrariedade dos EUA, que emitiu dura declaração contra a posição expressada por Bolsonaro na visita a Putin. “O momento em que o presidente do Brasil se solidarizou com a Rússia, quando as forças russas se preparam para lançar ataques a cidades ucranianas, não poderia ter sido pior”, afirmou porta-voz norte-americano.