Um discurso firme e enfático do líder do PT no Senado, Paulo Rocha (PA), dominou as atenções da sessão do Plenário da Casa nesta quinta-feira (6). Incomodado com a enxurrada de mentiras que senadores bolsonaristas vêm repetindo na tribuna desde terça-feira contra Lula e o Partido dos Trabalhadores, Paulo Rocha reagiu à altura. “Será desespero porque seu governo está sendo derrotado nas urnas?”, questionou.
Referindo-se ao senador Eduardo Girão (Pode-CE), que dia a dia vem se firmando como o porta-voz das fakenews do gabinete do ódio na Casa, o líder do PT no Senado já começou expondo uma contradição de origem: “Todo esse tempo ele inicia os discursos com ‘Paz e bem’. Mas o discurso é puro ódio, salta pelos olhos o sangue. ‘Paz e bem’. Agora se diz independente, mas está sendo o porta-voz do desespero do governo Bolsonaro, que está caindo pelas tabelas na disputa democrática”, apontou.
Os resultados eleitorais de domingo (2) ajudam a entender a postura do senador do Podemos, cujos candidatos sofreram derrotas humilhantes no Ceará, estado governado pelo PT nos últimos 8 anos: Lula venceu com 65,91% dos votos, Elmano Freitas (PT) foi eleito governador no primeiro turno com 54% dos votos (o candidato de Girão teve 31%) e Camilo Santana (PT), que governou o estado até março, foi eleito senador com quase 70% dos votos (a candidata de Girão teve 26%).
Entre as repetidas mentiras de Girão está a questão da legalização do aborto. Seja por má-fé ou por ignorância, o senador insiste em dizer que o PT está à frente dessa “proposta”. Paulo Rocha lançou o desafio: “Onde é que está no programa do PT que nós defendemos essa questão do aborto? Me diga! Te dou uma cópia do estatuto, dos nossos programas de governo. Onde está isso?”, questionou Rocha, diante de um colega emudecido. “O que tem é gente dentro do partido que defende que a questão do corpo da mulher e da decisão sobre o seu corpo é da própria mulher, da consciência dela. Mas nós não defendemos que ela tem que ‘matar criança’ [expressão usada com frequência por Girão]. Onde é que está escrito isso, gente?”, perguntou, indignado, o líder do PT.
Paulo Rocha mencionou, inclusive, que o PT teve origem, também, dentro das comunidades eclesiásticas de base da igreja católica, da qual ele mesmo faz parte. E lembrou que acusações infundadas desse tipo atingem o PT desde 1989, do embate entre Lula e Collor.
O legado do PT
“Eu tenho muito orgulho de ser do PT. Sabe por quê? Porque nós organizamos o povo para tomar consciência dos seus direitos, de organizar os seus interesses. Esse é o processo democrático que nós construímos no Brasil. Por isso aqui tem trabalhador rural, tem mulheres negras, porque foi a força da consciência do povo. Essa é a revolução que nós estamos fazendo no nosso país”, ensinou Paulo Rocha.
O líder petista destacou que a parcela atrasada da elite político-econômica do país se incomoda porque um operário como Lula se tornou o melhor presidente da história do Brasil, mesmo sem ter passado por toda a educação formal. “Fomos nós que tiramos a fome das pessoas, que fizemos chegar o Minha Casa Minha Vida, o Luz para Todos, o Bolsa Família, o Mais Médicos, mais Universidades. Por isso que ficam incomodados quando um negro se forma doutor, um filho do trabalhador rural, um filho do pedreiro hoje pode ser doutor. É isso que incomoda, e transformam isso em acusações”, disse Paulo Rocha, em tom de desabafo.
Ele também falou sobre corrupção, uma espécie de disco riscado no discurso giratório do senador cearense. “A Lava Jato que poderia ser uma operação correta para combater a corrupção, mas foi usada como instrumento político para condenar aquele que ia voltar a ser presidente do Brasil. Inventaram um bocado de coisas, processos mal resolvidos, sem provas, manipulados, prenderam por 580 dias, e olha ele aí de novo”, relembrou.
Para Paulo Rocha, o senador bolsonarista tem indignação seletiva. “Se você fosse um porta-voz do seu povo, você estaria indignado com o bloqueio de R$ 2,4 bilhões do orçamento do MEC, para o instituto federal que cria técnicos qualificados para trabalhar na tua empresa. Deveria se indignar com os cortes que fizeram desde o início do governo Bolsonaro do orçamento das universidades, do Pronaf, que produz 70% da alimentação do povo brasileiro, da verba de combate ao cânce. Você que é um homem de ‘paz e bem’, deveria se indignar com isso. Cortaram a Farmácia Popular, cortaram o orçamento do SUS. Esse é o debate que está colocado, sobre o que levou 33 milhões a voltar a ter fome no país. Se quer discutir programa de governo, vamos debater aqui. Mas esse debate aí de acusações já era.
Apoio em Plenário
Os senadores Paulo Paim (PT-RS) e Jean Paul Prates (PT-RN), líder da Minoria, elogiaram o discurso de Paulo Rocha.
“Foi brilhante, equilibrado, pedindo que não se use a política do ódio, de atacar o adversário como se fosse inimigo de morte, jogando números ao vento. O colega [Girão] tem entrado de forma muito atravessada no debate, parece que é dono da verdade e que quem não pensa como ele é inimigo”, afirmou Paim. “Seria muito bom podermos divergir nas causas, em programas de governo, em ideias. Isso é positivo. O povo brasileiro não é bobo”, assegurou.
Para Jean Paul, é lamentável a tática usada por senadores governistas. Para ele, o recomendável, durante um processo eleitoral, seria “não praticar a chamada pauta de costumes, que eu chamo de pânico moral, de criar inimigos imaginários, de criar não-pautas. São pautas clássicas, como drogas, aborto, pena de morte, não só no Brasil, mas em qualquer lugar. Mas isso não cabe ao presidente, cabe ao Congresso. Se há interesse em discutir, apresenta-se um projeto de lei e se discute, mas é pauta pós-eleição”.