O dia seguinte aos atos terroristas de bolsonaristas contra a democracia brasileira foi de contabilização de prejuízos e busca de responsáveis. E desde as primeiras horas de investigação, iniciada ainda no domingo (8), logo após a tentativa de golpe de Estado, ficaram claros os indícios de conivência de autoridades, em especial policiais, e de se tratar de crime de mando, com objetivos bem definidos.
Ao visitarem o Palácio do Planalto, por exemplo, o ministro Paulo Pimenta (Comunicação Social) e o secretário do Ministério da Justiça, Wadih Damus, identificaram dois pontos cruciais para a apuração. Em vídeo publicado nas redes sociais, Pimenta mostrou detalhes do ataque. “Esta é uma sala do Gabinete de Segurança Institucional [GSI]. Armas letais e não letais foram roubadas, tentaram botar fogo”, relatou Pimenta. “Algo que chama a atenção: nos demais andares eles depredaram. Ou seja, tinham informação de que aqui se guardavam armas, tinham informação sobre o que deveriam levar daqui. Levaram armas, documentos, munição. Isso é muito grave, porque significa informação”, apontou Damus.
Além disso, Damus destacou, em entrevista à GloboNews, que a porta de vidro que dá acesso ao Palácio estava intacta, indicando que a entrada dos vândalos pode ter sido facilitada.
Imagens feitas pelos próprios agressores mostram ainda policiais fardados orientando a direção a ser tomada na entrada do Congresso Nacional, onde o vandalismo também foi extenso. Os plenários do Senado, da Câmara e do Supremo Tribunal Federal (STF) foram ocupados e depredados, inclusive com princípios de incêndio.
Para o ministro do Desenvolvimento Social e senador eleito, Wellington Dias (PT-PI), que visitou com o presidente Lula áreas destruídas, “as ações de ontem não foram apenas vandalismo, pois partiram de gente do mal, terroristas”. Ele vê os ataques como ação articulada. “Houve uma massa de manobra entre os presos, mas também haviam criminosos com alvos certos: roubaram documentos da Abin [Agência Brasileira de Informação], setor de armamentos, HD de computadores, entre outros. Isso sem falar da triste destruição das obras de arte e da estrutura dos edifícios. Coisa de golpistas!”, afirmou.
A lista da destruição continua sendo elaborada pelos responsáveis pelo patrimônio público dos três prédios atacados — além do Planalto, o Congresso e o Supremo Tribunal Federal, sede deus Três Poderes que sustentam a democracia do país. Há dezenas de vidraças quebradas, mobiliário, documentos, computadores e, o mais triste, obras de arte, algumas de valor incalculável e de difícil restauração. Só no Planalto, por exemplo, estima-se as perdas em R$ 8,5 milhões, incluindo uma tela de Di Cavalcanti, que recebeu pelo menos sete golpes de faca.
Ação orquestrada
O senador Humberto Costa (PT-PE), indignado, também acredita em terrorismo organizado, e mencionou relatos que começam a chegar dos depoimentos de parte dos 1500 terroristas presos neste domingo. “Relatos confirmando que ações terroristas foram orquestradas, planejadas e estruturadas já começam a surgir. Já há até áudio de um criminoso cobrando o pix ‘após o serviço feito’ e também depoimentos de quem chegou de ônibus com passagem, hospedagem e alimentação pagas”, confirmou.
“Esses terroristas e seus financiadores serão cobrados para que arquem, financeiramente, com os crimes que promoveram”, disse Humberto, horas antes de a informação ser repetida pelo ministro da Justiça, Flávio Dino. “A destruição no Senado teve prejuízos incalculáveis, não só do ponto de vista financeiro, mas também histórico. Invadiram o Museu da Casa, vandalizaram documentos e obras históricas, depredaram a memória nacional. Iremos punir esses terroristas severamente, dentro da lei”, garantiu o senador.
O líder do PT no Senado, Paulo Rocha (PA), por sua vez, deu nome ao principal responsável pelo terror vivenciado na capital do país. “Uma vergonha este legado deixado por Bolsonaro: ódio, violência e terrorismo. O mundo repudia atos terroristas no Brasil, pela visão dos jornais internacionais”, afirmou, ao reproduzir nas redes sociais manchetes de veículos de várias partes do mundo.
Ele participou de reunião de líderes durante toda a manhã no Senado, ao lado do líder do governo na Casa, Jaques Wagner (PT-BA), do líder do governo no Congresso, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), do futuro presidente da Petrobras, senador Jean Paul Prates (PT-RN), e de Rogério Carvalho (PT-SE), terceiro-secretário do Senado, entre outros parlamentares.
Os senadores foram convocados em caráter extraordinário pelo presidente Rodrigo Pacheco para análise do decreto de intervenção federal na Segurança Pública do Distrito Federal, editado ainda neste domingo pelo presidente Lula, diante da óbvia omissão e perda de controle do Governo do Distrito Federal sobre as forças de segurança, que deveriam ter impedido os ataques.
Para Jean Paul, a Polícia Legislativa do Senado impediu uma destruição ainda maior do prédio. “A ação permitiu que os danos ao patrimônio da Casa não fossem tão extensos. Mais de 40 terroristas foram detidos no Plenário do Senado e as investigações seguem. Neste momento a Diretoria Geral do Senado se empenha para liberar todos os espaços da Casa enquanto contabiliza os prejuízos”, registrou.
Já Rogério Carvalho fez uma vistoria ao lado de policiais legislativos e narrou o cenário de guerra. “Conferi de perto os estragos feito pelos vândalos bolsonaristas que destruíram os prédios dos Três Poderes. Não tenho nem como descrever a tristeza em testemunhar um cenário tão desolador”, lamentou. Em vídeo, ele mostrou como os terroristas destruíram tudo o que viam pela frente, usando inclusive extintores de incêndio com pó químico para atacar os seguranças do Senado.
A senadora eleita Teresa Leitão (PT-PE) defendeu punição exemplar aos envolvidos. “Seguimos acompanhando as medidas contra o terrorismo que vimos ontem no DF. É preciso chegar aos financiadores e organizadores, e punir exemplarmente. A democracia é soberana!”, disse.
Para o senador Fabiano Contarato (PT-ES), o atentado exige resposta enérgica. “Houve conivência explícita do governador do DF com os criminosos bolsonaristas, praticamente escoltados pela polícia ao destruírem os prédios dos Três Poderes. O corpo mole dos policiais é escândalo mundial. É crime!”, denunciou.
Ainda no domingo, além da intervenção federal na segurança do DF até 31 de janeiro, o governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha, foi afastado do cargo por 90 dias por decisão do ministro do STF Alexandre Moraes, relator do processo que trata de atos antidemocráticos, pela evidente omissão e inércia diante dos golpistas.
Humberto Costa, inclusive, reagiu à informação de Flávio Dino de que o plano traçado sobre a manifestação foi alterado de última hora pelo GDF no domingo, levando os terroristas a chegarem aos prédios públicos. “Incompetência ou má-fé?”, questionou.