Além das fraudes envolvendo as vacinas contra a Covid-19, o ex-presidente Jair Bolsonaro ainda enfrenta a proximidade com mais um crime: a morte da ex-vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes. E um áudio revelado neste final de semana pelo Fantástico coloca ainda mais suspeitas sobre o caso.
Em reportagem divulgada neste domingo (7), o programa da Rede Globo mostrou áudio de Bolsonaro chamando de “segundo irmão” o ex-major Ailton Gonçalves Moraes de Barros, apontado como operador das fraudes em cartões de vacinas e que afirmou, em mensagens, saber quem mandou matar Marielle.
Na avaliação dos senadores do PT, essa proximidade mostra que o ex-presidente está cada vez mais encurralado.
“A famílicia aumentou? O homem que diz saber quem são os mandantes do assassinato de Marielle e Anderson e é investigado por fraudar carteira de vacinação é chamado de irmão por Bolsonaro. Aguardamos o avanço das investigações e a ação da Justiça sobre os acusados e, sem nenhuma coincidência, íntimos de Bolsonaro”, disse a senadora Teresa Leitão (PT-PE).
“A verdade está cada vez mais próxima. O cerco contra Bolsonaro está se fechando e as investigações já chegaram aos seus aliados próximos”, afirmou o líder do PT no Senado, Fabiano Contarato (ES).
“Que a Justiça seja feita tanto para vítimas como Marielle – cujo assassino um dos aliados de Bolsonaro diz saber quem é – quanto às mais de 700 mil vidas perdidas durante a pandemia de Covid-19, boa parte delas devido à negligência do ex-presidente. O Brasil exige respostas e punições à altura de algumas das piores barbáries da nossa história”, acrescentou.
Proximidade com escândalos
Homem de confiança de Bolsonaro, Ailton Barros acompanhava o ex-presidente em viagens e o apoiou nas últimas eleições. O ex-major também foi votar com o presidente durante o pleito.
Um pouco antes, em campanha para deputado estadual, Ailton recebeu o seguinte áudio do ex-presidente confirmando a proximidade entre eles.
“Ailton, você sabe, você um velho colega meu, paraquedista. Tu é meu segundo irmão, né? Primeiro é o Hélio Negão, depois é você. Tu sabe o carinho que tenho contigo, da nossa amizade. Eu nem posso declarar meu voto, né? Mas você é um cara que eu gostaria muito que tivesse sucesso aí no Rio, tá ok?”, diz Bolsonaro em mensagem a Ailton.
Para o senador Rogério Carvalho (PT-SE), o áudio revelado pelo Fantástico comprova “que o Brasil foi governado por uma imensa quadrilha de milicianos durante os últimos quatro anos”.
“E agora, a partir de uma fraude contra a saúde pública, o cerco se fecha mais ainda diante de outra pergunta: quem mandou matar Marielle? Não é a primeira evidência que demonstra a proximidade da família Bolsonaro com os envolvidos neste crime”, apontou o senador.
Barros vem sendo alvo de uma série de investigações da Polícia Federal, não apenas relacionadas à inserção de dados falsos do cartão de vacinas de Bolsonaro e sua filha Laura, de apenas 12 anos, no ConectaSUS. Entre elas, um áudio dele para Mauro Cid (ex-ajudante de ordens de Bolsonaro), no âmbito da Operação Venire, com a descrição de um plano para materializar um golpe de Estado no país. Cid cita na mensagem a intenção até mesmo de prender o ministro Alexandre de Moraes como forma de manter Bolsonaro no poder.
Ele ainda é peça-chave em outros dois escândalos. Um deles diz respeito a uma mensagem em que ele diz a Mauro Cid saber ‘tudo’ sobre o assassinato da ex-vereadora Marielle Franco, inclusive o mandante do crime. Já o outro é por Barros aparecer como ‘morto’ no sistema do Exército, fazendo com que sua esposa receba pensão de R$ 22 mil.
“O tempo é incontestável e as provas cada vez mais latentes. Todos àqueles envolvidos com diversos crimes, seja em fraudes na vacinação seja com os atos terroristas do 8 de janeiro, têm alguma ligação com o ex-presidente, e isso tem se revelado dia após dia. A Justiça brasileira trará luz a todas as coisas e Bolsonaro sabe que tem responsabilidade com todas essas questões. Não vai demorar muito para pagar por todos os crimes que cometeu contra à nação”, finalizou Rogério.
Relembre o caso
Bolsonaro foi acordado ainda cedo pela Polícia Federal no dia 3 de maio com mandado de busca e apreensão. Apesar de não ter recebido mandado de prisão, ele se recusou a prestar depoimento na PF no mesmo dia.
Em declaração à imprensa, o ex-presidente disse nunca ter tomado a vacina contra a Covid-19 e nem ter apresentado o comprovante para entrar nos Estados Unidos. No entanto, consta no SUS que ele foi vacinado em junho de 2021, com dose única.
Mais: as informações falsas ficaram no ar por alguns dias de dezembro. Neste período, logo após a inclusão das informações fraudulentas no sistema, o aplicativo do SUS registrou duas emissões do cartão de vacina na conta do ex-presidente e uma emissão do cartão de sua filha, às vésperas da viagem da família aos Estados Unidos, no final de dezembro. Em seguida, os dados foram apagados do sistema.
Foram presos na operação, além de Ailton Barros, o braço-direito de Bolsonaro, Mauro Cid – com quem a PF apreendeu certificados falsos de vacinação e grandes quantias de dinheiro em espécie – US$ 35 mil e R$ 16 mil e outras quatro pessoas.
Também foi alvo da operação o ex-vereador do Rio de Janeiro Marcello Siciliano, um dos investigados no caso Marielle Franco e até pouco tempo colega na Câmara do filho do ex-presidente, Carlos Bolsonaro, apontado como chefe do gabinete do ódio montado pelo governo anterior.