Retrato do setor mais prejudicado pelas medidas de isolamento social impostas pela pandemia em 2020, a Pesquisa Mensal de Serviços divulgada nesta sexta-feira (12) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) revela queda em um momento que deveria ser de recuperação. Como a Produção Industrial (-0,4%) e o Varejo (-1,3%), o setor de Serviços recuou 0,6% na passagem de agosto para setembro.
A queda, maior do que a esperada pelos analistas do mercado, interrompeu uma sequência de taxas positivas nos cinco meses anteriores, período em que acumulou ganho de 6,2% sobre a terra arrasada do ano passado. O setor está 3,7% acima do patamar pré-pandemia, registrado em fevereiro do ano passado, mas 8% abaixo do recorde alcançado em novembro de 2014, sob o Governo Dilma Rousseff.
Em setembro, houve recuo em 20 das 27 unidades da Federação, na comparação com o mês anterior. O maior impacto veio de São Paulo (-1,6%), seguido por Minas Gerais (-1,3%), Rio Grande do Sul (-1,3%), Pernambuco (-2,2%) e Goiás (-2,2%). Quatro das cinco atividades investigadas pela pesquisa acompanharam o recuo, com destaque para transportes (-1,9%), com a taxa negativa mais acentuada desde abril de 2020 (-19%).
“O principal impacto negativo nessa queda do setor de serviços veio dos transportes, que foram influenciados pelas quedas no transporte aéreo de passageiros, devido à alta de 28,19% no preço das passagens aéreas, no transporte rodoviário de cargas e também no ferroviário de cargas”, explica o gerente da pesquisa, Rodrigo Lobo.
Outras atividades que recuaram no período foram outros serviços (-4,7%), informação e comunicação (-0,9%) e serviços profissionais, administrativos e complementares (-1,1%).
“A queda do setor de serviços se deu de maneira relativamente disseminada. Quando observamos por segmentos, as principais pressões negativas vieram, além do transporte aéreo de passageiros, de serviços financeiros auxiliares e de telecomunicações”, prosseguiu o pesquisador.
O setor de serviços prestados às famílias (1,3%) foi o único a avançar. “Esses são justamente os serviços que mais sofreram com os efeitos econômicos da pandemia e têm mostrado algum tipo de fôlego, de crescimento”, afirmou Lobo. “Com o avanço da vacinação e a flexibilização das atividades econômicas, as pessoas voltam a consumir com maior intensidade serviços de alojamento e alimentação”, finalizou, ressaltando que o setor ainda está 16,2% abaixo do patamar pré-pandemia.
Economist: “Bolsonaro é ruim para a economia brasileira”
Frente a setembro do ano passado, o volume de serviços avançou 11,4%, sétima taxa positiva consecutiva. No ano, o setor acumula ganho de 11,4% na comparação com o mesmo período do ano anterior. Já o acumulado em 12 meses atingiu 6,8%, a taxa mais intensa da série histórica, iniciada em dezembro de 2012. Esses avanços, no entanto, ocorrem diante de um tombo recorde de -7,8% em 2020.
“Com o número de hoje temos os dados fechados do terceiro trimestre das principais pesquisas do IBGE e é seguro dizer que a economia parou no trimestre encerrado em setembro”, afirmou em nota técnica o economista André Perfeito, da Necton Investimentos.
Para ele, o recuo generalizado da economia demonstra que a política monetária do Banco Central (BC) não precisa ser mais contracionista do que “já está contratado”. O mercado espera alta de 1,5 ponto para a taxa básica de juros (Selic) na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), com a taxa fechando o ano em 11,5%.
“O Brasil está sem nenhum pólo dinâmico no momento, e com a renda em queda por conta da inflação e do elevado desemprego o prognóstico se mantém de desaceleração”, prosseguiu o economista. “Neste sentido a alta de juros se mostra inócua, uma vez que a inflação não se trata de demanda aquecida, pelo contrário.”
Diante do cenário de degradação econômica disseminada por todos os setores, e do vácuo de propostas do desgoverno Bolsonaro para recuperar a economia, Perfeito revisou de 1% para 0,3% a estimativa de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) em 2022. Os juros altos, aponta, “irão contribuir ainda mais para desacelerar a economia que já está fragilizada”.
A nota do economista brasileiro ecoa as conclusões da revista britânica Economist em artigo publicado nesta sexta. “O crescimento desacelerado da economia mostra que Bolsonaro não é ruim apenas para o meio ambiente, para os direitos humanos e para a democracia, mas também para a saúde fiscal do Brasil”, afirmou a publicação ao final do texto.
(Com Imprensa IBGE)