“A política fiscal é a base do ajuste e a âncora da estabilidade”, afirma Nelson Barbosa

“A política fiscal é a base do ajuste e a âncora da estabilidade”, afirma Nelson Barbosa

Nelson Barbosa: “São medidas difíceis, mas necessárias. Não vamos deixar de fazer o necessário porque ele é difícil”O ministro do Planejamento, Orçamento e Gestão (MP), Nelson Barbosa, participou na tarde desta terça-feira (29), na Comissão Mista do Orçamento (CMO), de mais uma audiência pública para debater os projetos de lei de Diretrizes Orçamentárias, do Plano Plurianual (PPA) e da lei Orçamentária Anual (LOA) para o ano que vem. Nelson Barbosa traçou um panorama das medidas já adotadas pelo governo e de alguns resultados já notados, como a retração da inflação. O ministro defendeu o ajuste dizendo que a política fiscal é a perna mais importante do esforço, porque é a base, a âncora da estabilidade. “Com a estabilidade fiscal você garante a estabilidade da taxa de câmbio e da inflação”, afirmou.

Logo na abertura, o ministro explicou que o governo desde o início do ano adotou medidas duras, como a revisão de vários subsídios para 56 setores da economia e promoveu o alinhamento de preços administrados. Preços administrados são aqueles como as tarifas de serviços públicos, energia elétrica, combustíveis e até mesmo a taxa de câmbio. Nelson Barbosa reconheceu que ao fazer o realinhamento desses preços, no curto prazo, o resultado é um aumento temporário da inflação. E é isso que está acontecendo.

“E, para combater esse aumento temporário da inflação é necessário elevar a taxa de juros. A inflação subiu e a taxa básica de juros subiu, mas nossa taxa de juros em termos reais (o percentual da taxa Selic menos a inflação anual) está em 2,6% se pegarmos os últimos doze meses”, disse ele, ao explicar que isso tem um custo, ou seja, o juro alto é um remédio necessário para evitar que esse aumento pontual do preço se transforme num aumento permanente da inflação. “A estratégia já começou a mostrar alguns resultados, porque tivemos uma desaceleração da inflação no mês passado e a gente trabalha para que isso seja uma nova tendência, que a gente possa ter uma redução mais forte no próximo ano”, apontou.

Segundo o ministro, quanto à variação cambial, seja por motivos internos, seja por motivos externos, sofreu e também produziu efeitos do lado positivo. “O saldo comercial está crescendo e gente deve ter um déficit em conta corrente menor do que se esperava no ano passado. A variação do câmbio está aumentando a competitividade de alguns setores, está levando à substituição das importações, só que esse processo também leva um tempo até que a economia se readapte, se ajuste a essa nova estrutura de preços”, afirmou.

A terceira e mais importante fase do esforço de reequilíbrio macroeconômico, de acordo com o ministro, é a recuperação da capacidade de o governo produzir um resultado primário (arrecadar mais do que gasta) suficiente para manter estável a dívida pública. “Isso é uma condição necessária para a estabilidade”, observou, acrescentando que, devido à queda do nível da atividade, essa tarefa leva mais tempo. 

Nelson Barbosa deu uma mensagem de otimismo ao dizer que o Brasil “tem os instrumentos para resolver seus problemas. Cabe a nós decidir como vamos resolver e qual a velocidade. Há opiniões divergentes e convergentes sobre a velocidade”, disse ele.

O ministro acrescentou que o desafio do Poder Executivo, da classe dirigente, como um todo, é construir a solução sabendo que o momento é de escolhas difíceis. “Não estamos falando de escolhas fáceis como reduzir o crescimento dos gastos e recuperar as receitas. São medidas difíceis, mas necessárias. Não vamos deixar de fazer o necessário porque ele é difícil. A gente tem que fazer o que é necessário e isso vai dar frutos, vai nos permitir uma estabilização tanto da taxa de câmbio quanto a taxa de juros. Vai permitir a redução da inflação e isso são condições necessárias para a recuperação do crescimento”, salientou.

Marcello Antunes

 

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