Investigação

Advogada do Sindnapi avisou governo Bolsonaro de irregularidades nos descontos associativos

Tonia Galetti apresentou denúncias a José Carlos Oliveira, em 2019

Alessandro Dantas

Advogada do Sindnapi avisou governo Bolsonaro de irregularidades nos descontos associativos

Governo Lula deu autonomia para investigações da Polícia Federal. Já Bolsonaro...

As evidências de que o governo Bolsonaro sabia do esquema de fraudes no INSS se avolumam a cada semana de trabalho da Comissão Parlamentar de Inquérito do INSS. Nesta segunda-feira (20/10), foi a vez de depor a advogada Tonia Galetti, assessoria jurídica do Sindicato Nacional dos Aposentados, Pensionistas e Idosos (Sindnapi). Ela confirmou o que os parlamentares petistas vêm comprovando com documentos: pelo menos desde 2019, a cúpula bolsonarista tinha ciência de graves irregularidades nos descontos associativos feitos por entidades criadas para fraudar aposentadorias e pensões.

Tonia Galetti disse que em 2019 comunicou ao então presidente do INSS, José Carlos Oliveira, fortes indícios de descontos em benefícios sem autorização dos pensionistas. Ela citou entidades como a Ambec, Amar Brasil e Conafer, que saíram de zero a milhares de associados em um ou dois meses. Ainda conforme o depoimento da advogada, Oliveira foi avisado, mas não tomou qualquer providência, seja no âmbito do INSS, seja informando à Polícia Federal.

Vale ressaltar que José Carlos Oliveira, que havia sido superintendente do INSS em São Paulo, foi guindado a presidente da autarquia e depois ministro da Previdência de Bolsonaro, em uma trajetória fulminante. Hoje é um dos principais investigados pela PF, com bens bloqueados.

O senador Fabiano Contarato (PT-ES) apresentou evidências documentais da omissão do governo anterior. Contarato listou diversos alertas que teriam sido ignorados pelas instituições federais entre 2018 e 2019, além da apresentada por Tonia Galetti. Entre as comunicações citadas estão: um ofício de 2018 da Procuradora da República a José Carlos Oliveira; denúncias de servidores do INSS e peritos médicos feitas ao então presidente eleito Jair Bolsonaro, em dezembro de 2018; pedidos de informação da Câmara ao ex-Ministro da Economia, Paulo Guedes, e ao atual senador Rogério Marinho (ex-Secretário da Previdência), sobre a inação em relação a descontos não autorizados; e um ofício de 2019 do Procon-SP ao Ministério da Justiça, que registrava mais de 16 mil queixas sobre descontos abusivos.

“A oposição tenta atribuir ao governo atual um rombo que já foi provado como ocorreu. A Oposição não fala que a CGU e a PF no governo Lula deflagaram a operação. E que é esse governo que está ressarcindo. Tem digital, nome e sobrenome do governo Bolsonaro nesse rombo perpetrado contra os aposentados”, disse Contarato.

Na avaliação do senador Randolfe Rodrigues (PT-AP), líder do Governo no Congresso, a oposição, na falta de argumentos busca performances para as redes sociais, sem preocupação com a apuração das fraudes no INSS.

“Na ausência de fundamento concreto para inquirir a depoente, juntar informações, [preferem] a agressão, a ofensa que é mais uma expressão absoluta daqueles que não querem que as investigações cheguem ao seu termo. Querem transformar isto aqui num evento de likes para as redes sociais, em que a única coisa que conseguem apresentar, em vez de inquirição, são memes. Memes, likes não chegarão ao objetivo da investigação”, disse Randolfe.

Em contraste direto com a omissão de Bolsonaro, a gestão Lula reforçou o papel de órgãos de controle, como a Controladoria-Geral da União (CGU) e a Polícia Federal (PF). Essa colaboração resultou na Operação Sem Desconto, que culminou em prisões e bloqueio de bens dos envolvidos. O combate à fraude se baseou na união de um corpo técnico especializado com a vontade política, visando desmantelar a rede nacional de fraudes e assegurar o ressarcimento às vítimas. Além da responsabilização penal, foi firmado um acordo judicial prevendo o ressarcimento aos aposentados no prazo de 90 dias. Já foram ressarcidos mais de R$ 2,1 bilhões, para 3 milhões de aposentados e pensionistas.

Golden Boys

As investigações da CGU e da PF revelaram um padrão peculiar entre os golpistas que comandavam entidades criadas durante o governo Bolsonaro para fraudar os benefícios do INSS. São  homens de 35 a 45 anos, se dizendo empresários e ostentando uma vida de luxo, com viagens internacionais, festas, mansões, joias e carros luxuosos estão sob os holofotes dos órgãos de investigação e da CPMI. Entre os chamados Golden Boys, Felipe Macedo, convocado a depor nesta segunda-feira (20/10).

Protegido por habeas corpus, Macedo não deu explicações sobre as acusações que estão no núcleo da investigação da PF. Mas ouviu o senador Randolfe Rodrigues explicar como se deu a entrada no INSS de uma instituição que, até agosto de 2022 se dedicava a prestar serviços de proteção veicular, e em poucos meses passou a desviar milhões das contas de aposentados e pensionistas.

“Estamos diante de um caso clássico de como se processou a fraude. A Amar Brasil não é um sindicato, mas uma obra da esperteza para que a corrupção se concretizasse. Para isso, bastou forjar uma assembleia, uma ata e com isso adentrou no INSS. E lá contou com cumplicidade de agentes do estado. Que aceitaram a entrada dessa associação”, disse o senador.

Randolfe afirmou ainda que a direção do INSS, no governo Bolsonaro, em agosto de 2022, contrariou parecer da procuradora Patrícia Martins, contra a assinatura de acordo com a Amar-Brasil.

“Mas o que ocorreu? [O acordo] Foi autorizado pelo superior da procuradora, Sebastião Faustino de Paula, que depois assumiu a Diretoria de Benefícios, em substituição a José Carlos Oliveira, que depois assumiria a presidência do INSS”, finalizou.

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