ARTIGO

Água é direito e não mercadoria

Em artigo, Rogério Carvalho destaca como "a pandemia tem nos mostrado a importância do acesso universal à água"
Água é direito e não mercadoria

Foto: Alessandro Dantas

O neoliberalismo trata de transformar tudo em mercadoria. Que a educação deixe de ser um direito para todos, para se transformar em mercadoria, comprada por quem tem recursos. Da mesma forma a saúde e todos os direitos considerados básicos ao ser humano, que definem a democracia, pelo acesso universal a todos os bens.

A água é o mais elementar e fundamental bem natural de que as pessoas precisam para viver. Se as pessoas deixam de ter acesso a ela, se a água passa a ser um bem apropriado por empresas privadas, se nega o acesso à água para a grande maioria das pessoas. De um bem natural de acesso a todos, passa a mercadoria, à qual passam a ter acesso os que podem pagar.

O momento de pandemia pelo qual o mundo atravessa tem nos mostrado diariamente a importância do acesso universal à água como elemento fundamental de combate ao vírus provocador da covid-19.

O projeto aprovado pelo Senado, sob a alegação de que é necessário universalizar o saneamento básico e o acesso à água, promove a privatização e dificulta, ao invés de facilitar, o acesso ao saneamento e à água. Se é deficiente esse serviço propiciado por governos, estes governos podem ser mudados, pressionados, para estender esses serviços. Enquanto empresas privadas só se disporão a estender o saneamento básico e o acesso à água, se tiverem lucro nisso.

Vão separar o que é lucrativo do que não é lucrativo e vender o que dá lucro. Essa história de que o marco levará à universalização do saneamento básico é apenas discurso para convencer a sociedade a aceitar sua aprovação.

Na prática, o projeto aponta para separação das áreas que são rentáveis, abrindo a possibilidade de empresas privadas adquirirem as melhores fatias do mercado deixando as áreas deficitárias em poder do Estado.

Se pode imaginar que o saneamento de zonas periféricas das cidades é mais caro do que o serviço em bairros mais próximos as regiões centrais. Portanto, a custo maior, corresponderá custo maior, taxas mais altas. A água se tornará um bem negociado no mercado e não pela função social fundamental que ela tem.

O setor de abastecimento e saneamento básico no Brasil precisa de investimento privado, profissionalizar a gestão, tornar os processos mais racionais.

Mas um marco regulatório precisaria se atentar que está lidando com um serviço público, um direito básico dos cidadãos como preconiza a nossa Constituição de 1988.

Portanto, a prioridade é o bem-estar da população, não o lucro das empresas que devem abocanhar o que há de melhor nesse mercado.

O processo político popular que terminou levando Evo Morales a ser o primeiro indígena presidente da Bolívia e, reconhecidamente, o melhor presidente do país, começou precisamente na resistência dos povos indígenas à privatização da água, promovido por governos de direita, tentando entregá-la a empresas estrangeiras.

De tal forma é essencial para todas as camadas do povo o controle público de um bem tão essencial como a água e um serviço como o saneamento básico. É nossa obrigação continuarmos a luta para que o acesso a água permaneça um direito básico dos brasileiros e não uma mercadoria a serviço do capital.

Artigo originalmente publicado no site Congresso em Foco

To top