A denúncia de que a extrema-direita planeja reeditar o “atentado do Riocentro” no dia 7 de Setembro deixou as forças democráticas do país ainda mais em alerta do que já estavam. A informação, publicada pela revista Veja, reforça a necessidade de aumento da segurança dos atos convocados para a data por Bolsonaro e aliados.
De acordo com o colunista Matheus Leitão, dois oficiais dos órgãos de inteligência do país confirmaram a suspeita de que há um plano em curso para simular um ataque a bolsonaristas para culpar a esquerda e o ex-presidente Lula, pré-candidato do PT e líder em todas as pesquisas eleitorais até o momento, inclusive com indicação de vitória em primeiro turno.
Para o senador Humberto Costa (PT-PE), trata-se de uma farsa planejada. “É uma denúncia gravíssima. O intuito é criar um factoide político para mudar o curso da eleição de 2022, envolvendo grupos radicais de direita”, afirmou.
Na mesma linha se manifestou o senador Fabiano Contarato (PT-ES). “O bolsonarismo busca a todo custo perpetrar sua sanha golpista! Segundo fontes de órgãos de inteligência, o intuito agora é de criar um factoide político para mudar o curso da eleição de 2022, culpando a esquerda por um ataque antidemocrático. Não passarão!”, bradou.
O líder do PT ano Senado, Paulo Rocha (PA), lembrou também que o maior medo do atual presidente é ser preso, daí a intenção de criar factóide, ameaçar golpe ou até fugir do país, caso nada disso dê certo. “Bolsonaro quer dar um golpe por medo de ser preso. Diz que vai sair do Brasil ao perder as eleições por medo de ser preso. Lula foi encarcerado injustamente e sempre afirmou que provaria sua inocência dentro da lei. Eis a diferença entre culpado e inocente”, afirmou o senador.
Durante debate no Conselho Nacional dos Direitos Humanos, Humberto Costa lembrou que a direita tem um longo histórico de ações desse tipo, como o Plano Cohen que ensejou o Estado Novo em 1937, a série de factoides que culminou no suicídio de Getúlio Vargas em 1954, o pretexto da ameaça comunista que levou ao golpe de 1964 e, no episódio mais emblemático, o fracassado “atentado” a bomba no Riocentro.
“Não podemos subestimar esse tipo de ameaça. Essas forcas políticas têm capacidade e coragem para desenvolver esse tipo de ação”, advertiu.
Riocentro, ataque à democracia
A explosão de uma bomba no estacionamento do Riocentro, onde 20 mil pessoas assistiam a um show pelo 1º de Maio, Dia do Trabalhador, chocou o país em 1981. O explosivo foi detonado acidentalmente por dois agentes do DOI-Codi do Exército dentro do carro de um deles.
Eles planejavam detonar a bomba no auditório do centro de convenções para gerar pânico e colocar a culpa em um grupo de esquerda, inativo desde o início da ditadura militar. Uma segunda bomba explodiu na casa de energia do Riocentro, mas não foi suficiente para apagar a luz do local.
A ação terrorista perpetrada por agentes do Exército, além de desmoralizar as Forças Armadas, gerou uma crise inédita no governo militar e contribuiu para enfraquecer o regime e abrir caminho para a redemocratização, que teve início em 1985, quando o civil José Sarney substituiu Figueiredo, o último presidente do período militar.