Após onda de indignação, Sérgio Moro manda soltar Guido Mantega

Após onda de indignação, Sérgio Moro manda soltar Guido Mantega

Juiz diz que ninguém sabia que esposa do ex-ministro enfrenta o câncer, mas a polícia chegou direitinho ao hospitalO juiz Sérgio Moro deve ser muito mal informado.  Desde 2012, os jornais noticiam que a esposa do ex-ministro Guido Mantega, Eliane Berger, enfrenta uma luta contra o câncer. No dia 19 de fevereiro de 2015, a mídia tradicional fez questão de noticiar que Mantega, já afastado do cargo, foi hostilizado por uma turba de tucanos na porta do mesmo Hospital Albert Einstein em que foi preso nesta quinta-feira (22).

Cinco horas depois de determinar a condução de Mantega à cadeia, Moro revogou o pedido de prisão, alegando “razões humanitárias”, jurando que nem ele, nem o Ministério Público Federal nem a Polícia Federal tinham conhecimento do estado de saúde de Eliane Berger.

 

A desculpa é esfarrapada, não cola – e evidencia, principalmente, a intenção do juiz de chamar a atenção em novo show midiático.

Se nenhum dos órgãos envolvidos na prisão do ex-ministro, segundo o juiz, tinha conhecimento do estado de saúde de Eliane, porque a prisão se deu justo num hospital?

Mais: os policiais só chegaram ao local, porque obtiveram a informação do filho menor de idade do ministro que a mãe estava se submetendo a uma cirurgia.

Na entrevista coletiva, iniciada às dez horas desta quinta-feira, o mesmo procurador que anunciou a prisão fazia questão de dizer que o ex-ministro não estava no centro cirúrgico “tanto que atendeu ao telefone”, observou, como se isso fosse atenuante para a truculência da decisão de prendê-lo.

 

Mantega nunca se recusou aprestar esclarecimentos à Justiça, não se encontrava foragido e nem pretendia se colocar fora do alcance da Justiça, como lembraram senadores petistas nesta manhã, denunciando a arbitrariedade e a pirotecnia dos procuradores de Curitiba que Moro aprovou.

 

Após a brutalidade contra alguém que nunca se recusou a prestar esclarecimentos, Moro tenta se explicar em seu despacho que determinou a soltura do ex-ministro:

 

“Considerando os fatos de que as buscas nos endereços dos investigados já se iniciaram e que o ex-ministro acompanhava o cônjuge no hospital e, se liberado, deve assim continuar, reputo, no momento, esvaziados os riscos de interferência da colheita das provas nesse momento. Procedo de ofício, pela urgência, mas ciente de essa provavelmente seria também a posição do MPF e da autoridade policial. Assim, revogo a prisão temporária decretada contra Guido Mantega, sem prejuízo das demais medidas e a avaliação de medidas futuras”, declarou o “bondoso” juiz.

 

Moro jura que revogou a prisão sem consultar o MPF e a Polícia Federal.

 

Alguém acredita?

É importante ressaltar que o pedido de prisão de Mantega teria sido feito em julho a Sérgio Moro, que autorizou a ação em agosto. Estranhamente, o ex-ministro só foi preso agora, às vésperas das eleições municipais.

 

A acusação

Segundo as investigações, em 2012, o então ministro Mantega teria atuado junto ao empresário Eike Batista, à época dono da empresa OSX que havia sido contratada pela Petrobras, para negociar o repasse de recursos para pagamentos de dívidas de campanha de partidos políticos aliados do governo relativas às eleições de 2010.

A base para a denúncia é um depoimento de Eike, que declarou ter recebido pedido do ex-ministro para que fizesse um pagamento de R$ 5 milhões para o PT.

 

Mantega comandou o ministério entre 2006 e 2014, nos governos dos ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff. Ele também foi presidente do Conselho de Administração da Petrobras. A prisão temporária é decretada em casos específicos e pode ser prorrogada caso comprovada sua necessidade

 

Giselle Chassot

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