Senadores do PT reagiram com veemência às mentiras proferidas nesta quinta (22) pelo presidente Bolsonaro na Cúpula de Líderes sobre o Clima, que reúne 40 chefes de Estado. Entre outros pontos, eles criticaram a apropriação, pelo presidente, de conquistas de governos do PT no setor e o uso de dados falsos sobre recursos para combater combate o desmatamento.
“O governo Bolsonaro é negacionista em tudo, principalmente na questão ambiental. Ele é um verdadeiro devastador. Incentiva a invasão de terras indígenas, incentiva as queimadas e, portanto, mente perante os outros países na Cúpula do Clima”, apontou o líder da bancada, Paulo Rocha (PA).
“Bolsonaro usou conquistas do PT para exaltar a queda do desmatamento, deixando de lado que o problema voltou na sua gestão”, afirmou. “E ainda disse ter fortalecido órgãos de controle. Mentira! Na Amazônia, o principal sistema de proteção, o Sipam, teve o pior repasse em 13 anos em 2020”, denunciou, em referência a matéria recente na imprensa mostrando o corte pela metade do orçamento do Sistema de Proteção da Amazônia.
“Por isso”, continua Rocha, “é fundamental pressionar o governo a dar continuidade àquilo que o país já vinha fazendo, como reduzir a emissão de carbono e o problema das queimadas”.
Para o presidente da Comissão de Meio Ambiente (CMA) do Senado, Jaques Wagner (PT-BA), o discurso foi “decepcionante”.
“Enquanto outros países se comprometem com avanços na área ambiental, o presidente apresenta discurso sem conteúdo e sem compromisso com o meio ambiente. Fala de ações que não são do seu governo e nega o desmatamento recorde que estamos tendo”, resumiu.
O senador lembra ainda que, apesar de o presidente afirmar que o Brasil precisa de dinheiro para combater as questões do desmatamento, “quase R$ 3 bilhões do Fundo da Amazônia só estão paralisados pela sua postura”. Para Jaques, foi “mais uma fala vazia, com mentiras e sem nenhum plano para o país chegar à neutralidade das emissões em 2050”, conforme anunciado por Bolsonaro.
Já o senador Humberto Costa (PT-PE) disse que Bolsonaro “mentiu da forma mais aberta possível e continua se afundando nas próprias mentiras” ao dizer que reforçou o processo de fiscalização do desmatamento.
“É uma mentira deslavada. O governo transformou o Ibama e outros órgãos ambientais num espaço de favorecimento daqueles que ilegalmente promovem o desmatamento. O país com Bolsonaro se transformou em pária mundial. Não merecíamos isso”, afirmou.
Humberto ressalta também que o Brasil tem hoje um ministro do Meio Ambiente (Ricardo Salles) “que atua o tempo inteiro para promover desmatamento, que só olha para a comunidade internacional para querer mais recursos que seriam utilizados para uma fiscalização realizada por milícias, que vão resolver quem deve ou não ser fiscalizado”.
Para o senador Rogério Carvalho (PT-SE), o discurso mostra que o atual governo não tem o que mostrar sobre proteção do meio ambiente.
“Sem ter o que falar sobre preservação ambiental, com disparada nos crimes ambientais, Bolsonaro resgata dados dos governos do PT para tentar impressionar”, afirmou. “Até Biden sai da sala na Cúpula do Clima em um sinal de desprestígio deste desgoverno”, afirmou, em referência ao presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, proponente da Cúpula, que se retirou da sala em que acompanhava a sessão virtual pouco antes do discurso do presidente brasileiro.
O senador Paulo Paim (PT-RS) alertou para a conexão entre os debates sobre meio ambiente e direitos sociais.
“Tudo está conectado: aquecimento global, queimadas, poluição da água e do ar, doenças, vírus, pandemias, saúde pública, segurança alimentar, fome, direitos sociais, desigualdades, mobilidade urbana. Por isso, temos que entender a real dimensão do problema”, afirmou.
Para ele, as agressões ao meio ambiente são devastadores para a humanidade. “Mudanças climáticas atingem vidas. Os efeitos são catastróficos. Em março de 2021, a Amazônia teve uma destruição de 810 km², a maior em 10 anos para o mesmo período”, concluiu.
Por sua vez, o senador Jean Paul Prates (PT-RN) considera que o presidente, “em vez de falar do futuro, falou do passado” e comemorou a redução de índice de desmatamento, “mas esqueceu de mencionar que a conquista se deu nos governos de Lula e Dilma”.
Para ele, Bolsonaro mente “ao dizer que fortaleceu e aumentou o orçamento dos órgãos de controle”, citando o estrangulamento financeiro do Ibama e o recorde de 216% de aumento no índice de desmatamento registrado em março, em comparação com março de 2020.
“Ainda temos a esperança de que o Brasil voltará ao convívio das demais nações como um parceiro cooperativo no debate ambiental e climático. Estamos carregando um trágico legado que só poderemos superar com a união de esforços na luta pela democracia”, concluiu.