A política armamentista de Jair Bolsonaro, uma das marcas de sua desastrosa trajetória pela Presidência, além de causar uma explosão da violência no país, serviu aos interesses do crime organizado. Reportagem da Folha de S.Paulo desta quarta-feira (22/5), revela que quase seis mil armas de integrantes dos CACs (caçadores, atiradores e colecionadores) foram alvo de roubo, furto ou extravio entre os anos de 2018 e 2023.
O número representa um aumento de 68% em relação ao ano de 2018. As notificações foram feitas ao Exército, responsável pela fiscalização das armas. Segundo o jornal, as informações foram obtidas e organizadas pelo Instituto Sou da Paz.
Especialistas ouvidos pelo jornal apontam que o afrouxamento da legislação sobre a aquisição de armas pelos CACs alimentou o comércio ilegal de armas, permitindo, assim, que os artefatos fossem utilizados para alimentar organizações criminosas. Na terça-feira (21/5), a Polícia Federal realizou duas operações contra CACs suspeitos de venderem armas para facções do crime organizado.
Projetos da extrema-direita trazem perigoso retrocesso para o país
No Nordeste, 20 suspeitos de integrar uma organização formada por policiais militares da Bahia e de Pernambuco, além de CACs e proprietários de lojas de armas e munições, foram presos durante a operação Fogo Amigo. O grupo é investigado por possível venda ilegal de armas para facções da Bahia, de Pernambuco e de Alagoas.
Para a presidenta do PT, Gleisi Hoffmann, não resta dúvidas de que a política armamentista de Bolsonaro atuou em favor do crime organizado. “Foi nisso que deu a criminosa liberação de compra e porte de armas no governo do inelegível”, condenou a deputada federal pelo PT do Paraná, por meio da rede social X. “Podemos escrever com todas as letras: Bolsonaro é aliado do PCC e do crime organizado”.
Gleisi apresentou projeto de lei para restringir porte de armas
Gleisi lembrou ainda de seu projeto de lei, apresentado na Câmara, para restringir o porte de armas dos CACs a atletas olímpicos, cancelando todo os registros de portadores e clubes de tiro que não não sejam compostos por atletas do topo do nível esportivo.
“Para fechar essa porta que ele abriu para a bandidagem, apresentei projeto de lei na Câmara extinguindo a categoria dos CACs”, explicou Gleisi. “A não ser nas mãos de agentes do estado, devidamente instruídos e sob as regras da lei, armas nunca trouxeram segurança a ninguém, só mais violência contra as famílias e a sociedade”, justificou.
Região Militar
De acordo com a Folha, o Exército não fornece dados por estado, e sim por Região Militar. Segundo o Instituto Sou da Paz a 1ª Região, que cobre os estados do Rio de Janeiro, Espírito Santo, e a 3ª, Região, que responde pelo Rio Grande do Sul, tiveram a maior quantidade de armas desviadas. Especialistas apontam que os dados são preocupantes, especialmente porque ainda há as subnotificações.
“O problema é ainda maior porque a gente sabe as dificuldades enfrentadas por muitas polícias civis na investigação de ocorrências, especialmente no que diz respeito ao desvio de armas de fogo. Atualmente, apenas Rio de Janeiro e Espírito Santo possuem delegacias especializadas nesse tipo de crime”, declarou Roberto Uchôa do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, ao jornal.
“Liberou geral” de Bolsonaro enfraqueceu fiscalização
Outro fato inequívoco de que o “liberou geral”de Bolsonaro favoreceu o crime durante o seu mandato consta de um relatório do Tribunal de Contas da União (TCU). De acordo com o tribunal, nada menos do que 5.200 condenados pela Justiça não tiveram problema em obter ou renovar o registro de CAC no Exército entre 2019 e 2022. As acusações dos condenados eram variadas, indo de porte ilegal de armas, lesão corporal e até tráfico de drogas.
A partir de 2025, por determinação do governo Lula, a responsabilidade pela fiscalização de CACs, bem como lojas de armas e clubes de tiro, ficará a cargo da Polícia Federal.