O Brasil já está experimentando os sintomas de uma depressão econômica, mas as ações do governo Bolsonaro caminham na direção contrária das soluções para essa crise.
O alerta é dos economistas Guilherme Mello, professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Antonio Corrêa de Lacerda, diretor da Faculdade de Economia da PUC-SP, e Fernando Gaiger, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).
Na manhã desta terça-feira (18), os três participaram de uma audiência pública da Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) para analisar as graves dificuldades geradas pela mais longa crise econômica da história do Brasil. O debate foi requerido pelo senador Rogério Carvalho (PT-SE).
Década perdida
“A crise atual não só é uma das mais profundas, como também a mais prolongada”, aponta Guilherme Mello, da Unicamp. Ele projeta ainda alguns anos de sérias dificuldades antes que o País volte ao patamar de 2014. “Esta é a verdadeira década perdida. Muito mais do que a década de 80”.
O governo vinha anunciando 2019 como “o ano do crescimento”. A realidade, porém, não se subordina a correntes de whatsapp. O Produto Interno Bruto (PIB) do primeiro trimestre deste ano caiu 0,2% e “nenhum indicador aponta para um resultado melhor no segundo trimestre”, avisa Antonio Corrêa de Lacerda, da PUC-SP — tecnicamente, dois trimestres seguidos de queda do PIB caracterizam recessão.
Inoperância de Bolsonaro
A gravidade da situação é aprofundada pela incapacidade do governo Bolsonaro e de seu guru, Paulo Guedes, de formularem qualquer proposta para enfrentar a crise. “Tratam a reforma da Previdência como panaceia, um remédio que cura todos os males”, aponta o senador Jean Paul Prates (PT-RN).
“Num curto período, esse é pelo menos o quarto milagre vendido como salvação ao País. Era o impeachment, depois foi o teto de gastos, a reforma trabalhista. Agora, a reforma da previdência”, enumerou o senador.
Aposta no confronto
Para o pesquisador do Ipea Fernando Gaiger “um governo de confronto, que alimenta o confronto e não vem com propostas a discutir” dificilmente conseguirá liderar a formulação de saídas para a crise.
Gaiger critica a aposta única na reforma da Previdência, que considera sintoma de “letargia” do governo em relação à crise. “Quanto menos se atuar [na busca de soluções], mais a crise vai se agudizar”. O economista lembrou a turbulência social vivida no Brasil dos anos 80 em função da recessão econômica. “Eu espero que a gente não chegue a esse tipo de esgarçamento social”.
Proteção social
Para o pesquisador do Ipea, o que tem contribuído para impedir a reprise da desordem social vivida naquela época são exatamente as políticas demonizadas por Bolsonaro e sua trupe.
“Nos anos 80 houve saques no Rio de Janeiro, no Nordeste, em São Paulo. Isso não está acontecendo agora, em alguma medida, porque temos uma rede de proteção social, com escola universal, o Sistema Único de Saúde, Previdência mais abrangente, Bolsa Família, o BPC e seguro-desemprego”, exemplificou Gaiger.
Essa rede de proteção, porém, está claramente ameaçada pelo congelamento dos investimentos sociais determinado na Emenda Constitucional 95, a emenda do teto dos gastos.