Jair Bolsonaro passou três anos e meio de seu governo mentindo sobre a existência de milhões de pessoas em situação de miséria no Brasil. E utilizou desse artifício para manter seu governo completamente omisso em relação às famílias que estão em situação de pobreza extrema.
Com a chegada do período eleitoral, Bolsonaro decidiu fingir se importar com essa parcela da população que cresceu durante seu mandato. Tanto que o Brasil voltou para o Mapa da Fome da ONU com a existência de 33 milhões de pessoas em situação de insegurança alimentar no país.
A solução encontrada por Bolsonaro, então, foi propor um aumento temporário do Auxílio Brasil, um arremedo do prestigiado Bolsa Família, para tentar ludibriar aqueles que ignorou nos últimos anos. Seu governo resolveu dar R$ 200 a mais até dezembro deste ano. Mas, Bolsonaro dá com uma mão e tira com a outra.
Seu governo também abriu a possibilidade de famílias que recebem o Auxílio Brasil possam adquirir empréstimo consignado, ou seja, com descontos mensais realizados direto no benefício. A contratação do benefício permite empréstimos com limite de parcela de até 40% do valor mensal. Isso significa que quem pegar o consignado terá essa proporção do Auxílio Brasil que recebe descontada antes mesmo do pagamento.
Por exemplo, quem tem direito a R$ 400 do Auxílio Brasil passaria a receber apenas R$ 240, no limite. Os outros R$ 160 ficariam retidos para pagar a dívida. Fazendo com que a renda das famílias beneficiadas fique menor por um longo período.
O problema é que muitas famílias estão se endividando sem saber que, mesmo que percam o direito ao benefício ou ele seja reduzido após dezembro, a dívida contraída com a instituição financeira se manterá. Mesmo que o Auxílio Brasil seja extinto, as famílias que contraírem a dívida terão de honrar com as parcelas do consignado.
Em três dias, segundo a Caixa Econômica Federal, teria sido liberado R$ 1,8 bilhão para empréstimos médios de R$ 2,6 mil a um juro anual de 50%, para um público de 700 mil pessoas.
Reportagem do UOL mostra como as pessoas estão contraindo a dívida ofertada por Bolsonaro sem a devida explicação. Cícero Pereira, entrevistado pela reportagem do portal, afirmou que “vai trocar de governo, esse auxílio vai acabar e nós não vamos pagar o empréstimo”. Para ele, “a conta vai ficar para o próximo presidente”.
Ao ser informado que, com ou sem auxílio, ele precisará honrar a dívida contraída com o banco, o cidadão retrucou. “Não, moço. A dívida vai para o nome do governo. Eu vi a notícia na internet”.
O senador Paulo Rocha (PA), líder da bancada do PT, afirma que o governo Bolsonaro tem utilizado da fragilidade dessas famílias e da desinformação para empurrar uma dívida que provavelmente muitas delas não terão condições de arcar.
“Bolsonaro nunca se importou com a situação de fome e miséria dessas famílias. E em pleno período eleitoral, abriu as portas para o setor financeiro piorar a situação de endividamento de famílias que já estão numa situação de pobreza extrema. Esse tipo de atitude mostra o caráter do atual presidente e seu completo desprezo pelos mais pobres do Brasil”, destacou o senador.
TCU pede suspensão do empréstimo vinculado ao auxílio
Parecer técnico emitido pelo ministro Aroldo Cedraz, do Tribunal de Contas da União (TCU), sugere a suspensão imediata do empréstimo consignado do Auxílio Brasil.
Ofício do subprocurador-geral junto ao TCU, Lucas Furtado, acusou desvio de finalidade do programa com objetivos eleitorais.
Diversos especialistas têm tecido críticas ao programa e consideram a política danosa para a população, já que os recursos do Auxílio Brasil são destinados a gastos básicos de sobrevivência de famílias carentes.