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Bravateiro, reverendo mente à CPI sobre atuação na venda de vacinas

Reverendo Amilton mente aos senadores sobre não ter proximidade com integrantes do governo e é confrontado com documentos que mostram sua atuação na tentativa de compra superfaturada de vacinas com cobrança de propina
Bravateiro, reverendo mente à CPI sobre atuação na venda de vacinas

O reverendo Amilton Gomes de Paula, citado como intermediador entre o governo Bolsonaro e empresas que ofereceram vacinas, apresentou nesta terça-feira (3) explicações completamente estapafúrdias e sem sentido sobre sua tentativa de venda de 400 milhões de doses de vacinas inexistentes por meio da Davati Medical com oferta de propina de um dólar por dose.

Chamou a atenção dos membros da CPI o fato de o reverendo, fundador da entidade privada Secretaria Nacional de Assuntos Humanitários (Senah), ter conseguido realizar reuniões no Ministério da Saúde horas depois de solicitá-las por e-mail para discutir a venda dos imunizantes. Tratamento completamente diferente ao dispensado pelo governo Bolsonaro à farmacêutica Pfizer e ao Instituto Butantan, que passaram meses sem obter respostas a ofertas autênticas de vacinas.

No dia 22 de fevereiro, pouco antes das 13h, Amilton disse ter encaminhado uma mensagem ao Ministério da Saúde solicitando uma reunião naquela mesma tarde, às 16h30, para tratar sobre a compra das vacinas. No mesmo dia, segundo ele, a reunião de fato ocorreu. Outros encontros ocorreram em 2 de março e 12 de março.

Foto: Reprodução

Apesar da clara diferença de tratamento e do favorecimento dispensado pelo governo Bolsonaro, quando questionado sobre seu aparente trânsito livre, o reverendo Amilton mentiu ao afirmar que não conhecia ninguém que trabalha da administração. Pouco depois, Amilton admitiu ter sido filiado ao PSL e ter trabalhado na campanha de Bolsonaro. Os senadores também destacaram que diversos membros da Senah são parlamentares.

Foto: Reprodução

“Tem algumas coisas que não batem de jeito nenhum. Talvez o receio de que isso represente algum tipo de comprometimento. O senhor tem foto inclusive com o senador Flávio Bolsonaro. O senhor tem uma aproximação política com esse governo”, disse o senador Humberto Costa (PT-PE). “Tem muita coisa que não se explica. Eu sei que esse governo é bagunçado. Mas alguém pegar um telefone, mandar um email no meio de uma pandemia ao meio-dia e ser recebido poucas horas depois… O senhor está protegendo alguém. E foi alguém que lhe apresentou ao Ministério da Saúde para fazer essa intermediação”, emendou.

Foto: Alessandro Dantas

O reverendo também afirmou à CPI que se tratava de uma “bravata” a frase “falei com quem manda” digitada por ele em conversa por celular ao PM Luis Paulo Dominguetti, representante da Davati, na qual os dois tratavam da venda de vacinas.

Reverendo assina documento com um dólar a mais
Os senadores questionaram o reverendo acerca da participação dele na negociação da propina de um dólar por dose das 400 milhões de unidades da farmacêutica AstraZeneca que estavam sendo negociadas junto à Davati Medical.

A CPI apresentou ao depoente um documento da empresa Davati ofertando ao Ministério da Saúde no dia 15 de março uma proposta de 10 dólares por dose. O religioso, então, encaminhou posteriormente uma carta assinada por ele ao Ministério da Saúde atualizando o valor da proposta da Davati para 11 dólares por dose. A diferença de um dólar corresponde ao valor da propina solicitada por integrantes do Ministério da Saúde para fechar o negócio, de acordo com denúncia de Dominguetti à CPI.

O reverendo chegou a negar que tivesse encaminhado a proposta ao Ministério da Saúde e alegou que o reajuste foi determinado pela Davati, mas não entregou nenhum documento ao colegiado comprovando que a tal atualização do valor teria partido da empresa.

Foto: Alessandro Dantas

“O senhor, ao que me parece, participou de toda a operação para a venda dessa vacina que não existia. E o governo, no afã de ver na intermediação algum ganho indireto, propina, se submeteu a tamanha bagunça. É uma confusão sem tamanho. Isso mostra que esse governo não tem condição nenhuma para gerir este país, tampouco gerir o país no seu pior momento, que foi o combate à pandemia”, disse o senador Rogério Carvalho (PT-SE).

Uso ilegal de entidades para enganar terceiros
Os integrantes da CPI também estranharam documentos da Senah carimbados com uma série de insígnias de entidades como a ONU, a CNBB e o Vaticano. O reverendo Amilton foi questionado sobre a legitimidade da entidade para ostentar tais símbolos e, como nas demais respostas, se enrolou para explicar os motivos pelos quais utilizava os símbolos nos documentos oficiais.

O senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) insistiu em saber se o reverendo tinha autorização, por exemplo, para utilizar o símbolo da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). E o reverendo admitiu que a Senah não era reconhecida pelo órgão ligado à Igreja Católica.

Foto: Alessandro Dantas

“O senhor não tem legitimidade para colocar a insígnia da ONU num papel como esse”, criticou o senador Jean Paul Prates (PT-RN). “Estamos diante de falsários e estelionatários que usam símbolos de entidades internacionais para abrir portas e fazer negócios escusos na negociação de vacinas. Queremos saber quem financia e quem se beneficia com isso”, completou.

Ministro da Defesa tentou intimidar senador
O senador Rogério Carvalho afirmou no início dos trabalhos da CPI da Covid que foi alvo de espionagem de militares do Exército, com ordens do ministro da Defesa, o general Walter Braga Netto.

Segundo o relato do parlamentar, uma pessoa próxima a ele foi visitada, na semana passada, por oficiais da ativa do Exército, em Sergipe. O senador acusou o ministro da Defesa de espioná-lo. “Eles foram ao meu estado para bisbilhotar a minha vida, querendo saber algo para usar contra mim. O Braga Netto foi o emissário dessa espionagem. Eu não tenho medo e não abrirei mão das minhas convicções. Ninguém vai me intimidar”, denunciou.

Requerimentos aprovados
Antes do início do depoimento, a CPI aprovou uma série de requerimentos. Dentre eles, estão o pedido de afastamento de Mayra Pinheiro, a ‘Capitã Cloroquina’, do cargo de secretária de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde do Ministério da Saúde, e a reconvocação do ex-secretário executivo da pasta, Elcio Franco.

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