Especialistas defendem união de esforços contra ‘bullying’
Em audiência pública nesta segunda-feira (28/11) na Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa (CDH) do Senado, presidida pelo senador Paulo Paim (PT-RS), os debatedores defenderam a união de esforços de todos os segmentos da sociedade na busca de soluções para enfrentar a prática do bullying no ambiente escolar.
Durante o debate, Paulo Paim, que é autor de dois projetos – PLS 191/09 e o PLS 178/09 – que tratam do tema, ressaltou também os casos de violência de alunos contra professores e a necessidade de desenvolver uma cultura de paz nas escolas. Para o senador Walter Pinheiro (PT-BA), não basta aprovar leis, mas sim criar um conjunto de ações que possam mudar a cultura a violência nas escolas.
“Não basta só aprovar uma lei e dizer que vamos ser mais rígidos e combater [a violência]. A lei é algo tão frágil que as pessoas às vezes a rasgam. A cultura é muito mais difícil. A lei é importante para sedimentarmos esse caminho e criar esse aspecto da cultura”, disse.
Epidemia
De acordo com o psicólogo Augusto Pedra, o bullying é uma epidemia psicossocial com “um rápido poder de propagação”. Ao contrário de outras ações violentas, explicou Pedra, o bullying se caracteriza por ações deliberadas e repetitivas sem motivo evidente, pelo desequilíbrio de poder entre agressores e vítimas e por causar constrangimento ao agredido. Para o psicólogo, o envolvimento de professores, funcionários, pais e alunos é fundamental para a superação dessa epidemia. “O bullying se propaga com uma velocidade muito grande. Nós precisamos somar nossos esforços para enfrentar e erradicar esse mal de uma vez por todas”, disse.
Segundo Pedra, o bullying afeta o processo de socialização, ensino e aprendizagem, além do desenvolvimento cognitivo e emocional das crianças, acarretando sequelas para toda a vida. Ele também observou que a carência afetiva, a ausência de limites e os maus tratos por parte dos pais são os principais causadores do problema.
Participação dos pais
Ao narrar experiências de combate ao bullying desenvolvidas em escolas do Distrito Federal, a presidente da Federação Nacional das Escolas Particulares (Fenep), professora Amábile Pácios, defendeu maior participação dos pais no ambiente escolar para a superação do problema. Segundo ela, as famílias têm atitudes paradoxais em relação ao bullying. “Ou os pais acham que tudo é bullying e denunciam até casos de crianças de dois anos que mordem outras crianças ou fingem que não acontecem casos de violência com seus filhos”, afirmou.
Para ela, a falta de dados concretos sobre bullying também dificulta o combate à violência no ambiente escolar. De acordo com a professora, são comuns os casos de diretores de escolas públicas e particulares que se negam a relatar casos de violência para não prejudicar a imagem da instituição de ensino. “Por vezes, o diretor prefere dizer: não, na minha escola não há bullying, do que assumir publicamente que ela tem esse fenômeno no seu interior”, disse.
Para Rosangela Gonzaga, assistente social do Ministério Público do Mato Grosso do Sul, a ênfase do combate ao bullying deve estar na aproximação da família com a escola. Ela sugere acompanhamento de assistentes sociais a todas as famílias de crianças envolvidas em casos de violência. “A criança já vem toda desestruturada de casa. Não é na escola que começa a violência, é dentro de casa”, disse.
O major Roberto Lobato Marques, do Batalhão Escolar do Distrito Federal, também vê a omissão dos pais na educação dos filhos como uma das principais razões para o crescimento do bullying. “Os pais muitas vezes se ausentam do seu papel de educadores e jogam toda a responsabilidade para a escola”, disse.
Reforçar autoridade das escolas
Durante o debate, o promotor de Justiça do Mato Grosso do Sul, Sérgio Harfouche, defendeu reforçar a autoridade de professores e diretores. Ele sugeriu que a escola tenha o poder de determinar a adoção de medidas disciplinares e educacionais mais rígidas para estudantes que cometerem práticas de bullying.
De acordo com o promotor, a adoção desse tipo de “castigo” impede a judicialização do problema e evita transformar o estudante agressor num menor infrator. Ele citou iniciativas com esse intuito promovidas no Mato Grosso do Sul. “O que pretendemos é fortalecer a autoridade da escola, sem autoritarismo – salientou Harfouche
Informações da Agência Senado
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Foto externa: bullyingnaoebrincadeira.com.br