Entrevista
José Eduardo Cardozo
O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, disse ontem que o governo não vai tolerar ações de vandalismo e crimes que estariam sendo cometidos por ordem dos chefes da greve da PM em Salvador.
Ele afirmou que não pode prever se o movimento se estenderá a outros estados.
Mas o serviço de inteligência federal já detectou que o movimento na Bahia obedece a uma estratégia de paralisação em âmbito nacional.
Jailton de Carvalho
O GLOBO. Como está a situação em Salvador?
JOSÉ EDUARDO CARDOZO: Há uma situação em Salvador que precisa ser (vista de forma) diferenciada.
Uma coisa é a reivindicação.
Isso é absolutamente normal numa democracia.
Agora, coisa bastante diferente é a prática de atos de vandalismo, atos criminosos, a disseminação de ações que, obviamente, são orquestradas no sentido de gerar insegurança nos cidadãos. Esse tipo de postura, que configura prática criminosa, não pode ser tolerada.
É verdade que grevistas mataram moradores de rua em Salvador?
CARDOZO: Nós não podemos fazer uma afirmação sem a efetiva prova. Então acho que cabe, neste momento, investigar com rigor suspeitas que possam existir de envolvimento de algumas pessoas nesses atos hediondos. Cabe à polícia investigar, elucidar e propor a punição ao Poder Judiciário.
É verdade que grevistas apontaram armas para as pessoas e usaram ônibus como barreiras nas ruas?
CARDOZO: Alguns desses relatos nos foram passados. Isso é inaceitável. Greve é um direito legítimo, independentemente do mérito do que se reivindica.
Não nos cabe julgar o mérito.
O que não se aceita é se utilizar arma, comprada com dinheiro público, para atemorizar a população que paga por essas armas. O que não se aceita, não se admite, é que pessoas que devem garantir a ordem pública sejam as primeiras a buscar a sua desestruturação.
A Polícia Federal vai prender os líderes grevistas acusados de cometer crimes?
CARDOZO: Por solicitação do governador Jaques Wagner, a presidente determinou medida de garantia de lei e ordem, que está prevista em nossa legislação e admite a utilização das For ças Armadas. As ações de apoio na Bahia são comandadas pelo Ministério da Defesa. O general Gonçalves Dias coordena as ações. As forças do Ministério da Justiça (Polícia Federal e Força Nacional) se somam a isso. Nossa linha é cumprir os mandados de prisão em conjunto com a Secretaria de Segurança da Bahia.
Mas já há os mandados?
CARDOZO: Os mandados já existem. E a PF, por si só ou em conjunto com as forças de segurança da Bahia, irá cumprir esses mandados (contra o comando do movimento grevista).
O senhor acha que hl á risco de esse movimento se espalhar por outros estados?
CARDOZO: Nós temos situações bastante diferenciadas nos estados.
É impossível prever o que possa acontecer em cada estado.
É muito importante que exista diálogo entre os governadores e as polícias. Agora, o que não se admite é o desrespeito à lei. E, nesse ponto, sempre que necessário, o governo federal estará preparado para agir.
Essas greves das polícias militares estão se tornando cíclicas e cada vez mais violentas? O governo tem alguma proposta de reforma estrutural das polícias?
CARDOZO: Nossa política de segurança pública parte do pressuposto de garantir aos estados autonomia com a disciplina do seu quadro de pessoal. Buscamos incentivar a integração das forças estaduais com as federais.
Inclusive desenvolvemos ações para que possamos estruturar melhor as atuação das polícias nos estados.
O governo da Bahia vai negociar, vai reajustar os salários como querem os grevistas?
CARDOZO: Não posso entrar no mérito de algo que não compete ao governo federal. O que eu posso afirmar é que parece correta a postura do governo do estado de não negociar anistia para crimes que tenham sido cometidos por agentes policiais.
O Globo