Cenário econômico do Brasil piorou com saída de Dilma, afirma Gleisi Hoffmann

Cenário econômico do Brasil piorou com saída de Dilma, afirma Gleisi Hoffmann

Gleisi: “o que mais causa espanto é que mesmo com esses números devastadores e com a inflação em clara tendência de queda, o BC não abre mão de manter a taxa de juros em patamares acima do tolerável”A senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR) avalia, em artigo, publicado nesta segunda-feira (24), que a política de juros altos do governo Michel Temer, além de fazer a economia “capotar”, fez com que o cenário econômico piorasse bastante no País após o golpe de Estado que tirou a presidenta Dilma do cargo conquistado democraticamente.

Gleisi, que preside a Comissão de Assuntos Econômicos (CAE), coordenará, na próxima terça-feira, audiência pública que debaterá alternativas à PEC 241 que prevê restrições ao investimento público nos próximos 20 anos.

“É inadmissível que nas condições atuais do país, em que a recessão só faz se agravar, o governo insista em seu projeto de corrigir a aplicação dos recursos do orçamento apenas pela inflação do ano anterior”, disse. 

Confira a íntegra do artigo:

Juro faz economia capotar -Gleisi Hoffmann

Nesta terça-feira (25), dia da semana em que a Câmara vota em segundo turno a proposta de emenda constitucional que limita os gastos públicos pelos próximos 20 anos, a Comissão de Assuntos Econômicos do Senado (CAE) promoverá mais uma audiência pública sobre essa medida que tanto assusta diversos segmentos da sociedade.

Como presidente da CAE e angustiada com a falta de investimentos que tira o emprego e a renda das pessoas, é difícil aceitar que a matéria tenha tramitado na Câmara sem uma ampla discussão em torno das consequências que a mudança na Constituição poderá provocar na economia brasileira. É inadmissível também que nas condições atuais do país, em que a recessão só faz se agravar, o governo insista em seu projeto de corrigir a aplicação dos recursos do orçamento apenas pela inflação do ano anterior. Caberá ao Senado, caso a PEC 241 seja aprovada na Câmara, travar com mais firmeza esse debate.

Na semana que passou, fomos bombardeados com más notícias no cenário econômico, desmentindo a falácia palaciana de que as expectativas dos agentes econômicos melhoraram depois da destituição da presidenta Dilma. É impressionante como o falso discurso da suposta estabilidade não bate com a realidade dos números.

Na quinta-feira, por exemplo, foi divulgado o Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br), que é uma prévia do PIB. Houve uma queda de 0,91% em agosto, na comparação com julho, o maior tombo em 15 meses. Nos oito primeiros meses deste ano, a retração já é de 5,42%. Isso é resultado da produção industrial, que, segundo o IBGE, sofreu em agosto um recuo de 3,8% sobre julho, interrompendo cinco meses seguidos de ganhos. Reflete também a queda de 0,6% nas vendas no varejo e de 1,6% no setor de serviços, ambas também registradas em agosto.

Mas o que mais causa espanto, além do discurso enganoso de que a PEC 241 será o remédio certo para as aflições das famílias brasileiras, é que mesmo com esses números devastadores e com a inflação em clara tendência de queda, o Banco Central não abre mão de manter a taxa de juros em patamares acima do tolerável.

Até aliados do atual governo concordam que o conservadorismo do BC, para não dizer outra coisa, passou dos limites. Também na quinta-feira, um dia depois de o Copom ter reduzido a Selic em apenas 0,25 ponto percentual, o economista tucano Luiz Carlos Mendonça de Barros qualificou como “covarde” a estratégia do BC. “Prevaleceu o medo das críticas dos radicais do mercado financeiro”, disse ele, ao ressaltar que a recuperação da economia está sendo travada justamente pelos juros. “O sinal claro é que a economia tentou melhorar um pouquinho e capotou sob o peso dos juros”, completou.

Como se observa, a repulsa ao discurso do Banco Central não é monopólio do PT e dos demais partidos de esquerda. Neste domingo, o consultor Amir Khair, mestre em finanças públicas pela FGV, mostrou no jornal O Estado de S.Paulo o quanto a política de juros altos é nociva para os brasileiros. Ele destacou em seu artigo a explosão da despesa com juros no setor público: “Passou de R$ 249 bilhões (4,7% do PIB) em 2013 para R$ 311 bilhões (5,5% do PIB) em 2014 e R$ 502 bilhões (8,5% do PIB) em 2015, levando o déficit nominal para o pico de R$ 613 bilhões (10,4% do PIB)!”. E concluiu: “É o Banco Central contribuindo para o desrespeito à meta fiscal nominal (que inclui os juros). Vale ressaltar esses dados, pois estão sendo omitidos pelo governo federal e pelas análises ligadas ao mercado financeiro para não atrapalhar a aprovação da PEC 241. Enquanto isso, em cada dia corrido aumenta R$ 1,4 bilhão o déficit fiscal em despesa com juros”.

É isso que o governo procura esconder da população. A taxa de juros reais subiu, nos últimos meses, dois pontos percentuais, para uma economia que está parada, que está estagnada. E aí, o que vai acontecer? Nós não estamos fazendo investimento público, nós vamos fazer a PEC 241, retirar dinheiro público de circulação, justamente quando o setor privado não está fazendo investimento; estamos com um índice de desemprego elevado. Como a economia brasileira vai crescer? Como a economia brasileira vai voltar a se desenvolver? Eu gostaria muito de saber como se dará esse milagre.

Na audiência pública desta terça-feira na CAE vamos debater alternativas a esse arrocho fiscal nunca visto em país nenhum do mundo. Discutiremos propostas como a progressividade tributária e o papel do Estado na superação da crise.

Vai ser um excelente debate. Não podemos nos omitir!

Gleisi Hoffmann é senadora da República pelo Paraná. Preside a Comissão de Assuntos Econômicos do Senado (CAE) 

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