Censo mostra que Brasil não é mais um país de maioria jovem

Amplo acesso aos métodos contraceptivos e crescimento no nível de instrução das mulheres brasileiras, além da maior longevidade a população em geral estão alterando significativamente a pirâmide demográfica brasileira. Até hoje, o Brasil era um país de crianças e jovens. A base mais larga da pirâmide, antes dominada por crianças até dez anos, e o pico estreito, com pessoas acima de 60 anos, não representa mais a distribuição etária da população. Hoje, os brasileiros hoje se dividem em faixas etárias bem menos simétricas, com a firme tendência do País, em um futuro breve, se tornar uma nação de idosos.

Outros indicadores do Censo 2010, divulgado nesta quarta-feira (17/10) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), confirmam essa mudança de perfil, que provocará múltiplos desdobramentos na economia e nas demandas sociais a serem atendidas por todas as esferas de governo, particularmente na Previdência Social e no mercado de trabalho. O mais evidente deles é que, hoje, com exceção da Região Norte, a taxa de fecundidade – ou o número de filhos que uma mulher pode ter durante o período fértil de sua vida – é de 1,9 filho, número que se encontra abaixo da taxa de reposição da população – de 2,1 filhos. Para se ter uma ideia da mudança, esse índice era de 6,16 em 1940.

Número de filhos cai com maior nível de educação
O censo ainda aponta que, entre as mulheres sem instrução e com ensino fundamental incompleto, a taxa de fecundidade chega a 3,00 filhos por mulher. Já entre as mulheres com ensino superior completo, a taxa cai para 1,14 filho. Essa proporção também pode ser observada regionalmente: mulheres sem instrução ou com ensino fundamental incompleto da Região Norte são responsáveis pela maior taxa de fecundidade do (3,67), enquanto mulheres com ensino superior do Sudeste tem a menor taxa (1,10).
Mas, mesmo entre as mulheres com menor escolaridade, o número de filhos caiu, de 3,43 filhos em 2000 para 3,00 em 2010, relação que fez com que diminuísse a diferença entre as faixas etárias. Os mais velhos e os mais jovens, somados, representam 67,1% da população brasileira; hoje, 61,9%.

A instrução das mulheres também se relaciona à idade com que ela se torna mãe. Quanto mais alto é o nível de instrução da mulher, mais tarde ela se torna mãe. Das mulheres sem instrução e com ensino fundamental completo, a maior contribuição da fecundidade vem do grupo de mulheres com idades entre 20 e 24 anos. O grupo com ensino médio completo e superior incompleto mostra um comportamento do padrão da fecundidade mais dilatado, com concentração no grupo de 25 a 29 anos, enquanto no grupo de mulheres com ensino superior completo a maior contribuição da fecundidade vem daquelas com idades entre 30 e 34 anos, que concentram 1/3 da sua fecundidade total neste grupo.

Isso significa dizer que as mulheres com ensino superior completo têm seus filhos, em média, 5,5 anos depois que as brasileiras sem instrução e com ensino fundamental incompleto. Enquanto as primeiras têm seu filhos em média com 30,9, as que não tiveram as mesmas condições de educação têm seu primeiro filho, em média, com 25,4 anos. Como as mulheres com ensino superior completo representam 11,2% das mulheres em idade fértil, contra 33,7% sem instrução e ensino fundamental incompleto, o perfil da fecundidade para o conjunto da população ainda apresenta uma tendência predominante de ter filhos mais cedo.

Famílias chefiadas por mulheres crescem rapidamente
Em dez anos, o número de mulheres responsáveis pela manutenção de suas famílias passou de 22,2% para 37,3%. O detalhe é que há mulheres chefes de família mesmo em domicílios onde existe a presença de cônjuge (de 19,5% para 46,4%), contra o decréscimo de 77,8% para 62,7% no caso de homem responsável. Também houve queda no percentual de homens responsáveis em domicílios com presença de cônjuge, de 95,3% para 92,2%.

Os motivos podem ser creditados a mudanças de valores relativos ao papel da mulher na sociedade e a fatores como o ingresso maciço no mercado de trabalho e o aumento da escolaridade em nível superior, combinados com a redução da fecundidade.

Também aumentou o número de famílias formadas por casais sem filhos. A mudança, segundo o IBGE, tem relação direta com a maior participação da mulher no mercado de trabalho, entre outros fatores. No total, o percentual de casais sem filhos passou de 14,9% em 2000 para 20,2% em 2010.

O percentual de famílias compostas por casais com filhos é superior na área rural, em função das taxas de fecundidade historicamente mais elevadas, e também, devido a valores culturais mais tradicionais. Observa-se, ainda, nas áreas rurais, um percentual consideravelmente inferior de famílias monoparentais femininas: 9,1% contra 17,4% nas áreas urbanas.

O tipo mais frequente dentre as famílias conviventes (residem na mesma unidade doméstica) é o das monoparentais femininas (53,5%), 98,6% delas formadas por parentes da família principal. Ao examinar o parentesco dos núcleos secundários, verifica-se que, em 78% dos casos, há presença de filhos do responsável ou do cônjuge da família principal que poderiam ser considerados membros da família principal. As monoparentais femininas são provavelmente compostas por filhas dos responsáveis e/ou dos cônjuges, que tiveram seus filhos sem contrair matrimônio ou retornaram à casa dos pais por motivo de separação ou divórcio.

Veja outros destaques da pesquisa:

Casamentos
As uniões consensuais já representam mais de 1/3 dos casamentos; subiram de 28,6% para 36,4% das uniões entre 2000 e 2010, sendo mais frequente nos grupos com rendimentos menores, representando 48,9% na classe com rendimento de até 1/2 salário mínimo.

Outro dado interessante é o que revela que, 69,3% das pessoas com alguma união afetiva estavam unidas a pessoas do mesmo grupo de cor ou raça, enquanto, em 2000, esse percentual era 70,9%. Esse comportamento foi mais forte dentre os grupos de brancos (74,5%), pardos (68,5%) e indígenas (65,0%). Já dentre os pretos (45,1%), observou-se que os homens tenderam a escolher mulheres pretas em menor percentual (39,9%) do que as mulheres pretas em relação a homens do mesmo grupo (50,3%).

Giselle Chassot, com informações do IBGE

Veja a íntegra do Censo do IBGE 

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