Plenário

Com voto contrário do PT, Senado aprova PEC do marco temporal

Pela regra, os povos indígenas só teriam direito a áreas ocupadas ou sob disputa na data da promulgação da Constituição

Alessandro Dantas

Com voto contrário do PT, Senado aprova PEC do marco temporal

Com os votos contrários dos senadores do PT, o plenário aprovou nesta terça-feira (9/12), em dois turnos, a Proposta de Emenda Constitucional (PEC 48/2023) que insere na Constituição a tese do marco temporal para a demarcação de terras indígenas.

A proposta, que segue para a Câmara dos Deputados, modifica o artigo 231 da Constituição. Pela regra, os povos indígenas só teriam direito a áreas ocupadas ou sob disputa na data da promulgação da Constituição, em 5 de outubro de 1988.

O líder do PT no Senado, Rogério Carvalho (SE), criticou o fato de uma proposta de extrema relevância ter sido pautada para votação diretamente no plenário.

“Uma matéria dessa importância, com essa relevância, deveria ser analisada e votada na Comissão de Constituição e Justiça. Essa é uma matéria constitucional de extrema relevância. É fundamental que essa matéria seja discutida com calma, tranquilidade. Não pode uma matéria dessa natureza ser assim, a toque de caixa”, criticou o líder.

Entidades de representativas dos povos indígenas argumentam que a tese do marco temporal representa uma ameaça direta à demarcação e à proteção das terras indígenas por restringir direitos territoriais, abrir brechas para contestar demarcações já concluídas, estimular conflitos fundiários e levar ao deslocamento forçado de comunidades inteiras.

Judicialização

Em setembro de 2023, o STF considerou a tese do marco temporal inconstitucional. Na sequência o Congresso Nacional aprovou projeto de lei contrariando a decisão da Corte. Logo depois, o presidente Lula vetou os principais pontos da proposta. No entanto, os vetos foram derrubados pelos parlamentares.

Essa discussão sobre a constitucionalidade e a validade da lei foi parar no Supremo, que criou uma comissão de conciliação para tratar do tema. Em junho deste ano, a comissão finalizou os trabalhos e aprovou a minuta de um anteprojeto para sugerir alterações na lei do marco temporal.

O líder do governo no Senado, Jaques Wagner (PT-BA), afirmou que a aprovação da proposta de alteração constitucional não será capaz de pacificar o tema. Para ele, o caminho para uma solução definitiva seria o debate entre os poderes da República.

“Precisamos caminhar para uma racionalidade. O ministro Gilmar Mendes chegou a fazer um acordo reconhecendo o direito à remuneração da terra nua e da benfeitoria. Mesmo votada aqui e na Câmara, essa matéria não colocará fim ao conflito. Ficará se questionando quem dará o atestado se a tribo estava, ou não, em 1988 naquele território”, alertou o senador.

O parlamentar também apontou a hipocrisia dos parlamentares defensores da tese do marco temporal. Já que existem projetos em tramitação que admitem a regulamentação fundiária de não-indígenas que comprovem estar produzindo naquela propriedade até 2008. Outras proposições colocam 2019 como data limite. Recentemente, foi aprovado pelo Senado que, em terras de fronteira, a regularização poderá ser feita até 2028.

“Me pergunto. Estamos estabelecendo duas categorias de brasileiros? Indígenas e não-indígenas?”, questionou o parlamentar. O STF também deve retomar amanhã (10/12) o julgamento das ações que discutem a constitucionalidade da tese do marco temporal.

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