Após 2008, a economia não voltou ao ritmo de crescimento que experimentava historicamente, disse o diretor-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC), Roberto de Azevêdo. Em termos de comércio global em 2016, houve crescimento de apenas 1,3%, destacou ele. Azevêdo participou de audiência pública da Comissão de Relações Exteriores (CRE), no Senado Federal.
“Esse foi o menor nível de crescimento comercial desde a eclosão da crise em 2008. É preocupante. Nossa projeção é de que esse ano nós tenhamos um crescimento em torno de 2,4%. Mas, em 2017 devemos ter o sexto ano consecutivo de taxa de crescimento econômico-comercial abaixo de 3% e isso não tem precedente. Nunca aconteceu desde o período pós-guerra em 1947”, afirmou.
O diretor da OMC alertou que “não se pode ignorar o impacto” que a adoção de políticas antiglobalização podem ter nas economias em desenvolvimento, como a brasileira. “Isso acontece porque muitos sentem que essa globalização só beneficiou alguns. Esse sentimento contra o estrangeiro é muito presente, sobretudo nas economias avançadas”, disse ele.
Educação
“É preciso ter um sistema educacional que prepare a sua força de trabalho para uma indústria de serviços e produção que não é a do século XX mais. É a do século XXI. Não basta apenas saber ler e escrever”, alertou o diretor-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC).
De acordo com o brasileiro que coordena o principal órgão internacional de fiscalização e regulamentação do comércio mundial, estudos apontam que 2/3 das crianças que estão ingressando no ensino fundamental hoje não trabalharão em empregos que existem atualmente, devido a mudanças promovidas pela automação e expansão tecnológica.
“É preciso saber ler, escrever, interagir com máquinas e os mais variados softwares. É um processo educativo completamente diferente [do atual] que vai tratar não somente dessa questão. Tem de haver um tratamento especial no processo educativo. Empregos estão sendo criados”, disse ele.
O diretor da OMC chamou a atenção de que hoje já existem áreas do mercado de trabalho que já possuem uma demanda de vagas não preenchidas por ausência de pessoal capacitado para aquelas funções, inclusive na área educacional. “Há várias profissões que serão afetadas de maneira muito evidente. Tudo tem que ser repensado”, advertiu.
O senador Jorge Viana (PT-AC), vice-presidente da CRE, mostrou preocupação com a revolução tecnológica em andamento no mundo e o atraso do Brasil em relação ao rápido avanço e surgimento de novas tecnologias. “O fundamental com a chegada da internet de quinta geração que mudará tudo, é que há uma percepção de especialistas que nós teríamos hoje, que as crianças de hoje quando alcançarem uma formação trabalharão em alguma atividade que ainda não conhecemos.
Ainda, para Viana, deverá haver uma drástica redução dos postos de trabalho por conta da automação da internet das coisas”. Segundo o senador do PT do Acre, essa revolução cibernética implicará num agravamento da “guerra por trabalho, renda e sobrevivência das pessoas”.