Pacto pela reconstrução do Brasil

Comissão aprova projeto do governo Lula para retomada de obras paralisadas

Requerimento apresentado pela senadora Teresa Leitão, relatora da proposta na Comissão de Educação, garantiu encaminhamento da proposta ao plenário em regime de urgência

Agência Senado

Comissão aprova projeto do governo Lula para retomada de obras paralisadas

Senadora Teresa Leitão manteve texto aprovado pela Câmara dos Deputados para acelerar tramitação e garantir amparo legal ao programa do governo Lula

A Comissão de Educação (CE) do Senado aprovou nesta terça-feira (3/10) o Projeto de Lei (PL 4172/2023), que retoma o conteúdo da Medida Provisória (MP 1174/2023) e garante a manutenção do pacto nacional de retomada de cerca de 3,5 mil obras e serviços de engenharia, principalmente de escolas e de unidades de saúde. O relatório aprovado é da senadora Teresa Leitão (PT-PE).

O texto permite que façam parte desse pacto obras e serviços de engenharia paralisados ou inacabados cuja execução tenha sido financiada com valores repassados pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) no âmbito do Plano de Ações Articuladas (PAR) previsto na Lei 12.965/2012. Esse plano existe desde 2007 e, em 2012, a lei incorporou suas regras antes constantes em um decreto.

A proposta aprovada pela Câmara dos Deputados em forma de substitutivo também incluiu mudanças na política cultural Aldir Blanc e no Fundo de Financiamento Estudantil (Fies).

“O projeto de lei permite liquidar dívidas do Fies, incluindo desconto de até 99% do valor devido para estudantes com débitos vencidos por mais de 360 dias para inscritos no CadÚnico ou que tenham sido beneficiários de auxílio emergencial em 2021”, detalhou a senadora.   

Foram apresentadas diversas sugestões de mudanças no relatório apresentado pela senadora Teresa Leitão, mas todas acabaram rejeitadas. Ela explicou ser fundamental a manutenção do texto aprovado pela Câmara em decorrência da perda de eficácia da MP 1174 e evitar o retorno do texto para revisão dos deputados, atrasando ainda mais a sua tramitação.

O texto editado pelo governo Lula perdeu a eficácia no dia 11 de setembro, o que deixou o pacto sem amparo legal.

Segundo Teresa Leitão, as sugestões apresentadas serão debatidas posteriormente pela própria Comissão de Educação.  

Será possível ainda a retomada de obras e serviços de engenharia nas instituições federais que ofereçam educação básica, na forma de regulamento do Ministério da Educação.

As obras do setor de saúde a serem retomadas dependerão de regulamentação do Ministério da Saúde, envolvendo aquelas financiadas por transferências fundo a fundo no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS).

A data de referência para saber quais obras serão contempladas será a de publicação da futura lei, segundo a situação registrada no Sistema Integrado de Monitoramento, Execução e Controle do Ministério da Educação (Simec).

Programa voluntário

Como se trata de um programa de repasses voluntários e não obrigatórios por parte da União, os estados, o Distrito Federal e os municípios deverão manifestar ao FNDE interesse na retomada das obras.

Segundo o governo, os investimentos até 2026 poderão somar cerca de R$ 4 bilhões, com previsão de criar mais 450 mil vagas na rede pública de ensino por meio da conclusão de cerca de 3,5 mil obras dadas como paralisadas ou inacabadas desde o início do PAR.

Embora a retomada das obras deva ser financiada com dinheiro do FNDE, os estados também poderão entrar com recursos para acabar obras em municípios de seu território, mecanismo não permitido pelas atuais regras do PAR, que preveem somente a entrada de dinheiro do ente beneficiário.

Estados e municípios poderão usar o dinheiro direcionado a eles por meio de emendas parlamentares individuais na modalidade de transferência especial, quando o dinheiro repassado é de livre uso pela administração contemplada.

Os entes federados poderão ainda pedir ao FNDE ressarcimento de verba anteriormente pactuada e pendente de pagamento se eles concluíram as obras com recursos próprios.

Obras irregulares

As obras irregulares com processo de tomada de contas especial poderão ser incluídas no pacto desde que não haja prejuízo para a apuração de responsabilidade das pessoas naturais e das empresas que tenham dado causa ao descumprimento do contrato original.

Esse processo de tomada de contas é formalizado após o encerramento de medidas administrativas para ressarcimento do poder público pela empresa que cometeu irregularidades.

Entretanto, não poderão participar do esforço para retomar as obras, em qualquer licitação, empresas declaradas não idôneas pelo poder público, independentemente do órgão ou da entidade que aplicou a sanção.

Obras inacabadas

No caso de obras inacabadas, deverá ser firmado um novo termo de compromisso entre o FNDE e o ente federativo, no qual devem constar a repactuação dos valores e dos prazos inicialmente firmados, observadas as regras e diretrizes da Lei 12.695/2012.

Em razão de um maior tempo de abandono da obra, serão admitidas mudanças nos projetos iniciais se precedidas de análise técnica do FNDE. Para isso, as mudanças devem ser fundamentadas pelo ente interessado e o seu valor não poderá ultrapassar os limites de correção previstos.

Já a análise da prestação de contas final deverá abranger o termo de compromisso inicial e o termo de compromisso de repactuação.

Paralisadas

Na hipótese de obra ou serviço paralisado, deverá ser assinado um termo aditivo ao termo de compromisso vigente, constando o compromisso de conclusão da obra e a reprogramação física da sua execução, incluídos os prazos repactuados, além dos novos recursos que serão aportados pelas partes.

Valores e vigência

A repactuação envolverá a correção dos valores correspondentes à fração não executada da obra ou do serviço de engenharia pelo acumulado do Índice Nacional de Construção Civil (INCC) desde o ano da assinatura do primeiro instrumento de repasse até o fim de 2022.

Essa repactuação poderá prever a construção em local diferente do originalmente previsto quando o anterior não estiver mais disponível.

A valoração da parte não executada usará os dados lançados no Simec, e o novo termo ou aditivo fixará o aporte de cada ente federativo. Entretanto, o FNDE é autorizado a transferir recursos adicionais ainda que os valores inicialmente acertados tenham sido totalmente transferidos.

Para isso acontecer, deverão ser apresentados laudo técnico sobre o estado atual da obra, planilha com valores necessários à sua conclusão e novo cronograma físico-financeiro.

Os documentos deverão evidenciar a necessidade de restabelecer o equilíbrio econômico-financeiro do contrato em caso de força maior, caso fortuito ou fato do príncipe (ocorre nos casos em que um ato praticado pelo Estado afeta indiretamente o contrato administrativo, impedindo a sua execução).

Outras hipóteses são fatos imprevisíveis ou previsíveis de consequências incalculáveis que inviabilizem a execução do contrato original.

Na repactuação, o projeto determina que serão computados e atualizados também os saldos financeiros depositados em conta bancária específica vinculada à obra ou ao serviço de engenharia, inclusive as receitas obtidas nas aplicações financeiras realizadas.

O prazo de conclusão será de 24 meses, prorrogável uma única vez por igual período pelo FNDE.

Responsabilidade

O texto deixa claro que a retomada das obras ou serviços não impedirá a eventual apuração de responsabilidade das pessoas naturais e jurídicas que tenham dado causa ao descumprimento dos contratos originais.

Da mesma forma, a retomada não afasta a prerrogativa do FNDE de suspender a liberação das parcelas para pagar a obra e determinar ao banco a suspensão da movimentação da conta vinculada até a regularização de pendências pelo descumprimento do termo de compromisso.

Por outro lado, o prazo de 60 dias para a prestação de contas no âmbito do PAR começará a contar a partir do fim do novo prazo de conclusão repactuado.

Cultura

Na área cultural, o projeto especifica que, durante a vigência do novo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), o Ministério da Cultura definirá diretrizes para aplicação dos recursos da Política Nacional Aldir Blanc de Fomento à Cultura (Lei 14.399/2022)

Entre essas diretrizes, o texto cita:

– construção, ampliação, reforma e modernização de espaços culturais, inclusive daqueles criados pela administração pública de qualquer esfera ou vinculados a ela;

– aquisição de equipamentos e acervos;

– fortalecimento da Política Nacional de Cultura Viva; e

– demais políticas e programas nacionais de cultura.

Ao definir as diretrizes, o ministério poderá condicionar o repasse de até 30% dos recursos disponíveis à aplicação em políticas e programas nacionais de cultura específicos.

Do total de recursos previstos na lei (R$ 3 bilhões), no máximo 10% irão para obras vinculadas ao PAC e, no mínimo, 10% para o fortalecimento da Política Nacional de Cultura Viva.

No entanto, os beneficiados deverão manter, em relação a esses recursos, os percentuais de aplicação direcionada fixados na lei, que prevê o uso de 80% do repassado em ações de apoio ao setor cultural por meio de editais ou subsídios; e de 20% em ações de incentivo direto a programas, a projetos e a ações de democratização da produção artística e cultural em áreas periféricas, urbanas e rurais.

Ao contrário da lei atualmente, que dispensa celebração de convênio, contrato de repasse ou instrumento semelhante para esses recursos, o PL 4172/23 permite sua assinatura se o dinheiro for para a construção de espaços culturais, considerando tal repasse como transferência obrigatória.

Fies

Na lei do Fies (Lei 12.260/2001), a Câmara propôs a reabertura de parcelamento com as mesmas condições estipuladas na legislação para estudantes que tinham dívidas junto ao fundo em 30 de dezembro de 2021. A nova data de referência será 30 de junho de 2023, a partir da qual são contados prazos para estabelecer quão antiga é a dívida.

Ainda nessa lei, o texto aprovado muda o percentual de aporte das instituições privadas de ensino participantes do Fies no Fundo Garantidor FG-Fies, condição exigida para seus alunos poderem contar com 100% da mensalidade financiada.

Do sexto ano de adesão em diante, elas terão de aportar entre 10% e 27,5% das mensalidades, variável em função de critérios estabelecidos em regulamento.

Atualmente, devem entrar com um percentual calculado em função da inadimplência comparada ao valor mensal esperado de pagamento pelo financiado.

Segundo o último relatório divulgado pela Caixa Econômica Federal, agente operador do fundo, em 2021 o FG-Fies honrou o pagamento de 265.074 contratos em um montante de R$ 6,8 bilhões.

Com informações da Agência Câmara

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