A equipe econômica do governo Lula, comandada pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, decidiu trilhar um caminho mais difícil ao enfrentar antigos problemas da economia brasileira e, ao mesmo tempo, conciliar sustentabilidade econômica e social do país com um discurso transparente. Essa é a fórmula que fez com que as perspectivas mudassem para uma flexibilização monetária, inclusive, com esperada queda da taxa básica de juros no curto prazo, afirmou Gabriel Galípolo – que era secretário-executivo de Haddad na Fazenda e foi indicado para assumir a Diretoria de Política Monetária do BC – em sabatina na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado.
O debate transparente sobre os gastos tributários afastou, inclusive, a tese de que o povo não cabe no orçamento. Para Galípolo, a inclusão dessa parcela da sociedade no orçamento não passa de “uma questão de escolha” do governante.
Essa foi a tônica das sabatinas de Galípolo e do advogado Ailton de Aquino – indicado para a Diretoria de Fiscalização do banco – realizadas na manhã desta terça-feira (4/7). Os dois foram aprovados na comissão e as indicações foram remetidas para votação em plenário.
“As medidas até aqui implementadas produziram no primeiro semestre a valorização da nossa moeda, previsões de um déficit primário menor, aprovação de uma nova regra fiscal, projeções de crescimento mais elevado, menor inflação e o mercado já projeta taxas de juros mais baixas e cortes na taxa de juros futura”, disse Galípolo.
Vontade popular deve ser respeitada por economistas
Durante a sabatina, Galípolo afirmou que nenhum economista deve impor seus saberes e ideologias sobre economia e sobrepô-los à vontade democrática, muito menos utilizá-los para interditar o debate sobre a política econômica do país.
“Durante muito tempo, nós, economistas, usamos a necessidade de debate técnico para tentar interditar o espaço da economia para o debate democrático ou público. Não cabe a nenhum economista, por mais excelência que tenha, impor o que ele entende ser destino econômico do país, à revelia da vontade democrática”, enfatiza.
Juros elevados são um problema
O líder do Governo no Senado, Jaques Wagner (PT-BA), relatou aos parlamentares um recente diálogo que manteve com empresários do setor de transportes e as dificuldades enfrentadas pelo setor, principalmente pelas montadoras, que têm decidido pela paralisação das atividades por conta dos pátios lotados.
“Evidentemente que a questão dos juros nos atrapalha. Um empresário me dizia que o problema é que ele financiava um caminhão por R$ 12 mil e, hoje, sai a R$ 18 mil o juro do financiamento. Essa diferença, muitas vezes, é impeditiva para que alguém troque de caminhão ou amplie sua frota. Assim como cidadãos comuns querem trocar um carro, uma geladeira ou uma televisão, e quando você parte para o financiamento fica algo extorsivo”, aponta o senador.
A senadora Teresa Leitão (PT-PE), vice-líder do PT no Senado, destacou que diversos índices econômicos têm melhorado, menos a taxa básica de juros, que está em 13,75%. Para ela, os senadores devem pensar na possibilidade de utilizar de suas prerrogativas para cobrar o presidente do BC, Roberto Campos Netto, a dar explicações para a manutenção da taxa Selic.
“O Banco Central pode atuar de forma objetiva para fomentar a inclusão financeira e reduzir as taxas de juros para os setores mais vulneráveis da sociedade. É para esses que entendemos que a economia deva girar”, avalia a senadora.
Otimismo com o futuro da economia brasileira
O primeiro homem negro da história indicado para compor a diretoria do BC, Ailton Aquino, mostrou confiança e otimismo em relação ao futuro do país e da economia brasileira.
Em sua apresentação, o advogado lamentou o descaso promovido pelas gestões anteriores que terminaram por encolher a área de supervisão da autoridade monetária, que não realiza concurso público há dez anos.
“O BC é instituição de Estado que preza pela ética e pela excelência. Temos hoje um sistema financeiro moderno, complexo e mais sólido, no qual se destaca o papel do Banco Central como regulador”, disse. “Um trabalho desafiador supervisionar todo o universo de instituições bancárias e não bancárias em um país tão vasto e complexo como o nosso. Mas é um trabalho fundamental”, complementa o indicado à diretoria de fiscalização do BC.
Duração dos mandatos dos indicados
O Comitê de Política Monetária (Copom) é formado pelo presidente do BC e mais oito diretores. O Copom decide a taxa de juros da economia a cada 45 dias. Após aprovação pelo Senado, ambos terão mandato até fevereiro de 2027.