Em quase duas horas de entrevista exclusiva ao Brasil de Fato, concedida nesta quarta-feira (23), Luiz Inácio Lula da Silva falou sobre as comemorações Brasil afora pelo seu aniversário, neste domingo (27), e a rotina dentro da prisão em Curitiba.
Visivelmente emocionado ao falar da Vigília Lula Livre, o ex-presidente diz que sente vontade em passar seu aniversário junto das pessoas que estão acampadas em frente a Superintendência da Polícia Federal, em Curitiba (PR), desde quando foi preso, em abril de 2018.
“Vou até falar para o diretor aqui, o doutor Luciano, que ele poderia vir aqui na hora do aniversário, eu sair daqui com ele e ir lá, soprar as velinhas. São 74 velinhas, e eu não vou ter fôlego para assoprar tudo. Aí eu vou lá, vejo o aniversário, como um pedaço de bolo e volto para cá, não tem nenhum problema”, brinca Lula.
Lula fica emocionado ao dizer que só vai poder receber um pedaço de bolo que os militantes vão preparar para ele na terça-feira, após o feriado do funcionalismo público, quando o expediente da Polícia Federal volta a funcionar. “Eu não tenho nem como receber. Vão ter que guardar o bolo para eu comer um pedacinho. Vou ouvir [os parabéns]. Eu estou triste por estar aqui, mas feliz por ter tantos amigos do lado de fora”, completa.
Como presente de aniversário, ele pede que “as pessoas não deixassem destruir o país” e completa que “não há presidente que seja eleito para destruir o país”.
Entre livros e músicas
Quanto à rotina dentro da Superintendência da Polícia Federal, além da leitura de livros e biografias, como a de Nelson Mandela, Gandhi, Carlos Marighella e Padre Cícero de Juazeiro, ele diz que está lendo mais sobre o tempo em que os negros foram escravizados no Brasil.
“Uma coisa que me interessa muito é ler sobre a escravidão. Estou aprendendo porque o Brasil é do jeito que é, porque ainda existe preconceito… Esse é um tema que me apaixonou, porque eu nunca consegui entender, não sei se vocês lembram, quando eu era presidente, a gente tentou, foi aprovada uma lei, o Fernando Haddad [então ministro da Educação] deve se lembrar disso, para ensinar a história africana no Brasil, que era umas formas que eu achava que a gente iria vencer o preconceito nesse país”, lembra.
Entre uma leitura e outra, Lula também ouve muita música, inclusive cantos gregorianos, que às vezes, embalam suas noites de sono. O ex-presidente acorda cedo, prepara o próprio café e garante o sabor inigualável da bebida.
“Eu vou dormir por volta de meia-noite, uma hora da manhã. Eu acordo todo dia às seis e meia da manhã, faço meu café, faço um café de qualidade. Acho que não tem ninguém que faça um café melhor do que eu”.
Na conversa, o ex-presidente também reafirma o desejo de casar novamente, ressaltando que encontrou uma pessoa que o está ajudando a passar por esse momento.
Para o futuro, Lula já está se preparando agora. Ele afirma que não vai deixar o ódio, a solidão, o desânimo ou a depressão tomar conta, o que ele quer é viver.
“Eu, quando sair daqui, eu quero… Não sei pra onde ir, mas eu quero me mudar pra outro lugar. Eu quero viver. Eu espero que o PT me utilize, espero que a CUT me utilize, espero que os sem-terra me utilizem, espero que os LGBT me utilizem, espero que os quilombolas me utilizem, espero que as mulheres me utilizem, espero que todo mundo me utilize para fazer com que eu tenha utilidade nessa minha passagem pelo planeta Terra”, finaliza.
Ao se despedir, o ex-presidente pede que a equipe do Brasil de Fato diga para todo mundo que está bem, muito disposto a brigar e manda um abraço a todo mundo.
Confira os trechos mais importantes da entrevista: