A CPI da Covid decidiu nesta quinta-feira (16) reconvocar Pedro Benedito Batista Júnior, diretor-executivo da operadora de saúde Prevent Senior, para a próxima quarta-feira (22), após sua ausência no dia de hoje.
Apesar de não comparecer à CPI alegando não ter sido comunicado em tempo hábil, o representante da Prevent Senior recorreu ao Supremo Tribunal Federal (STF) ainda na noite de ontem (15) para obter o direito de permanecer em silêncio durante a oitiva.
Documentos obtidos pelo colegiado apontam que a empresa adotou de forma indiscriminada aos seus usuários a prescrição de remédios do chamado “kit covid”, comprovadamente ineficazes para o tratamento da doença.
Além disso, os parlamentares acreditam haver ligações entre o gabinete paralelo do Ministério da Saúde – grupo de assessoramento extraoficial de Bolsonaro que defende a imunidade de rebanho e o tratamento precoce –, e as práticas adotadas pela Prevent Senior durante a pandemia. As investigações do colegiado apontam que a médica Nise Yamaguchi e o empresário Carlos Wizard seriam alguns dos integrantes do chamado gabinete paralelo.
“Esse não comparecimento [à CPI] e a ida ao STF [para garantir o direito ao silêncio] é paradoxal. Afinal de contas, essas pessoas têm propalado que o trabalho desenvolvido por essa instituição é preciso, científico e o objetivo é ajudar a enfrentar a pandemia. Nada mais natural que essas pessoas quisessem vir aqui. A melhor coisa é que a gente marque para a próxima semana a vinda desse pessoal. É uma contradição que eles tenham tantas coisas boas feitas e peçam ao Supremo para ficar em silêncio”, criticou o senador Humberto Costa (PT-PE).
A Prevent Senior é investigada desde março pelo Ministério Público de São Paulo. O órgão abriu inquérito civil para apurar denúncia de associados do plano que estavam recebendo o kit covid sem nem sequer terem confirmado o diagnóstico de Covid-19.
Além disso, a CPI também investiga a possível ocultação de mortes, por parte da Prevent Senior, de pacientes que participaram de um estudo realizado pela empresa para testar a eficácia da hidroxicloroquina, associada à azitromicina, para tratar a Covid-19. O estudo contou, inclusive, com o apoio de Bolsonaro.
“Nós precisamos atentar para um fato muito grave desse pessoal da Prevent. Eles estão aqui, numa nota pública, veladamente ameaçando as pessoas que queiram contribuir com a CPI. Diz a nota: ‘A Prevent Senior vai pedir investigações ao Ministério Público de denúncias infundadas e anônimas levadas à CPI por um suposto grupo de médicos’. É grave. A pessoa não vem aqui e ameaça as pessoas que estão contribuindo com a CPI”, denunciou o senador Jean Paul Prates (PT-RN), líder da Minoria.
O presidente da CPI, senador Omar Aziz (PSD-AM), informou que o colegiado tentará obter, para a próxima semana, o testemunho de um profissional de saúde que atuou na Prevent Senior durante a pandemia e presenciou, na prática, os crimes documentados aos quais os parlamentares tiveram acesso.
“Nós temos mensagens e gravações fortíssimas. Mas, talvez, teríamos que conversar para ver se algum deles [profissionais de saúde] se dispõem a vir à CPI”, explicou.
Denúncia de fraude em estudo pró-cloroquina agita CPI
Reportagem da GloboNews produzida a partir de documentos obtidos pela CPI da Covid mostram que a Prevent Senior teria manipulado estudo sobre a eficácia da hidroxicloroquina associada à azitromicina no tratamento contra a Covid-19 e na divulgação dos dados, mortes de pacientes teriam sido ocultadas.
A pesquisa começou a ser feita em 25 de março de 2020 e, numa mensagem publicada em grupos de aplicativos de mensagem, o diretor da operadora, Fernando Oikawa, orienta os subordinados a não avisar os pacientes e familiares sobre a medicação.
Dos nove pacientes que morreram, seis estavam no grupo que tomou hidroxicloroquina e azitromicina. Dois estavam no grupo que não ingeriu as medicações. Há um paciente cuja tabela não informa se ingeriu ou não a medicação. Houve, portanto, pelo menos o dobro de mortes entre os participantes que tomaram cloroquina.
“Lá atrás, ainda na época do ex-ministro [Luiz Henrique] Mandetta, no início de 2020, havia denúncia de subnotificação de casos de Covid-19 nessa entidade. Portanto, temos as informações, as gravações, as mensagens que precisam ser apuradas. Nós esperávamos que o senhor Pedro Batista Junior pudesse estar aqui hoje para enfrentar todas essas denúncias que são muito graves”, disse o senador Otto Alencar (PSD-BA).
Requerimento aprovado
A CPI aprovou requerimento de pedido de informações ao Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo para apurar o andamento das investigações relacionadas a denúncia de profissional de saúde da Prevent Senior que denunciou ao órgão ter sido ameaçado pela operadora de saúde.
Wagner do Rosário será ouvido na próxima semana
O colegiado definiu para a próxima terça-feira (21) o depoimento do ministro-chefe da Controladoria Geral da União (CGU), Wagner do Rosário.
O senador Omar Aziz pediu ontem (15) a inclusão de Rosário no relatório final do senador Renan Calheiros (MDB-AL) pela prática do crime de prevaricação.
“Wagner do Rosário é um prevaricador. Ele tem que vir mesmo aqui. Como ele sabia que Roberto Dias estava operando dentro do Ministério da Saúde e não tomou providência? Ele tem que explicar. Não são as operações que ele fez, não, mas a omissão dele em relação ao governo federal”, disse o senador durante o depoimento do lobista da Precisa Medicamentos, Marconny Faria.