A semana da CPI da Covid se inicia nesta terça-feira (1º/6) com o depoimento da defensora do chamado “tratamento precoce” para pacientes da Covid-19, Nise Yamaguchi.
A oncologista e imunologista foi citada no depoimento do diretor da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Antônio Barra Torres. Ele relatou aos senadores que Nise, numa reunião com o governo Bolsonaro, propôs alterar a bula da cloroquina para incluir a indicação do medicamento para o tratamento da Covid-19.
Ouvido pela CPI em 11 de maio, Barra Torres explicou que a alteração seria impossível, porque só quem pode modificar a bula de um medicamento registrado é a agência reguladora do país de origem, desde que solicitado pelo detentor do registro.
Na avaliação do senador Rogério Carvalho (PT-SE), a CPI já dispõe de informações sobre a participação de Nise Yamaguchi na assessoria paralela que orientava Bolsonaro a vender soluções milagrosas para a população e minimizar os riscos da doença, incentivando os brasileiros a se exporem ao novo coronavírus.
“A Nise é fundamental para sabermos quem é esse gabinete [paralelo], como funciona, de onde veio a orientação para uso da cloroquina. Sabemos que esse remédio cumpriu um papel muito ruim por gerar uma falsa sensação de proteção. Muita gente se infectou, se internou e morreu em função dessa informação equivocada”, disse o senador.
“Tudo indica que a Nise participa do grupo que dá suporte ao presidente e é responsável, junto com outras pessoas, por orientações que o presidente segue como a questão da imunidade de rebanho e as demais medidas que ele tentou adotar contrariando tudo que o mundo orientava em termos de controle da expansão da pandemia”, emendou Rogério Carvalho.
O senador Renan Calheiros (MDB-AL), relator da CPI, disse em entrevista à GloboNews, que o colegiado tem provas de reuniões diárias, do que ele chama de gabinete paralelo com Bolsonaro, para tratar das diretrizes de enfrentamento à pandemia, dentre elas, o questionável tratamento precoce.
Bolsonaro é culpado direto pela morte de brasileiros
O colunista Celso Rocha de Barros destacou em sua coluna na Folha de S. Paulo, desta segunda-feira (31), dois fatos levantados pela CPI. A omissão do governo Bolsonaro sobre a oferta de vacinas da Pfizer e a rejeição das ofertas do Instituto Butantan.
Utilizando estimativas do epidemiologista Pedro Hallal, o colunista destaca que a decisão de Bolsonaro em não aceitar a oferta da Pfizer pode ter custado cerca de 14 mil vidas. Já no caso do Butantan, Hallal estima que 81,5 mil brasileiros não teriam morrido se a oferta do instituto tivesse sido aceita pelo governo.
“Somando as vítimas das duas decisões, já são, no mínimo, cerca de 90 mil mortes que Jair Bolsonaro, comprovadamente, causou sozinho. Se algum defensor do governo tiver cálculos diferentes, por favor, apresente-os”, provoca o colunista.