O ministro-chefe da Controladoria Geral da União (CGU), Wagner Rosário, irritou os membros da CPI da Covid em diversos momentos de seu depoimento nesta terça-feira (21). Os parlamentares se queixaram por diversas vezes pela postura arrogante e de desrespeito demonstrada por Rosário ao longo da oitiva.
Wagner Rosário não conseguiu justificar a ausência de medidas de controle por parte de sua pasta no escândalo Covaxin e o envolvimento de agentes públicos, dentre eles o ex-diretor de Logística do Ministério da Saúde, Roberto Dias, acusado de ter feito pressão em servidores para agilizar a liberação da compra de 20 milhões de doses do imunizante indiano, mesmo após a apresentação de indícios de irregularidades como as notas fiscais internacionais (invoices).
Esses documentos, inclusive, foram levados pelo deputado Luiz Miranda (DEM-DF) ao presidente Jair Bolsonaro para denunciar o caso de corrupção que ocorria dentro do Ministério da Saúde. De acordo com o deputado, Bolsonaro teria afirmado ser um “rolo” do deputado Ricardo Barros (PP-PR). Entre as irregularidades encontradas estava o pagamento de US$ 45 milhões de forma antecipada para uma empresa sediada em Cingapura que não constava no contrato original.
A senadora Simone Tebet (MDB-MS) apresentou vídeo no qual Wagner Rosário aparece afirmando que o Ministério da Saúde havia tomado todas as medidas de controle necessárias para a aquisição da Covaxin. O próprio Ministério posteriormente cancelou o contrato, que custaria R$ 1,6 bilhão aos cofres públicos.
Tebet criticou a postura de Rosário e afirmou que a CGU não foi criada para defender nenhum governo, mas fazer a defesa do Estado brasileiro. “Temos um controlador que passa pano, deixa as coisas acontecer”, criticou, lembrando que até mesmo documentos falsos foram utilizados na operação de compra da Covaxin.
Ao responder, Wagner Rosário comentou que a senadora lesse novamente o processo indicando que a parlamentar tivesse trazido “inverdades” a seu respeito. Logo depois, o ministro afirmou que a senadora estaria “descontrolada”.
O ataque revoltou os demais senadores, que o acusaram de machismo, e causou a suspensão dos trabalhos. No retorno da sessão, o relator da CPI, senador Renan Calheiros (MDB-AL) informou que Wagner Rosário passaria à condição de investigado pela CPI.
Importância da CPI
O senador Humberto Costa (PT-PE) destacou a importância da CPI da Covid para desnudar os casos de corrupção ocorridos na gestão da pandemia por parte do governo Bolsonaro e citou como exemplo a operação Pés de Barro, deflagrada pela Polícia Federal na manhã desta terça.
O objetivo da ação é investigar fraudes na aquisição de medicamentos de alto custo por força de decisão judicial pelo Ministério da Saúde entre 2016 e 2018.
De acordo com Humberto, a operação é fruto do trabalho de investigação realizado pela CPI, que detectou a empresa Global como vencedora de uma licitação, vencida irregularmente, e que não foi cumprida, já que recebeu o contrato, mas não entregou os produtos.
“Fomos nós que trouxemos de volta o debate da Global. O governo da época tinha Ricardo Barros como ministro [da Saúde] e pagou antecipadamente 20 milhões de reais. O governo não recebeu os medicamentos e 14 pessoas morreram. E esse governo contratou a Precisa [Medicamentos], que é a mesma Global, como intermediária na compra da Covaxin”, destacou Humberto.
Reação ao vídeo de Jair Renan
Logo no início dos trabalhos, o senador Rogério Carvalho (PT-SE) apresentou questão de ordem pedindo providências da CPI junto à Procuradoria Geral da República (PGR) e à Presidência do Senado sobre o vídeo postado nas redes sociais, nesta segunda (20), pelo filho do presidente, Jair Renan Bolsonaro.
No vídeo, Jair Renan diz estar visitando a loja de um amigo e filma um arsenal de armas de fogo que ele chama durante a filmagem de “brinquedo”. Sobre o vídeo, ele escreveu o termo “Alô, CPI”.
“Na condição de filho do presidente, ele deve servir de exemplo para todos aqueles que cometem atos de intimidação das instituições democráticas. E parece que esse é um traço familiar, agredir a democracia, o Estado democrático de direito e as instituições”, disse o senador.
“O filho do presidente deveria servir de exemplo de respeito às instituições. Não é na bala que ele vai se livrar daquilo que ele tem a responder perante a Justiça, pelos possíveis delitos ou crimes que ele tenha cometido e essa comissão identificou”, completou Rogério Carvalho.
O presidente da CPI, senador Omar Aziz (PSD-AM), informou que o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), se solidarizou com os membros da CPI e se comprometeu a tomar as providências cabíveis em resposta à ameaça do filho de Bolsonaro.