![CPI vê novos indícios de omissão após depoimento de Wagner Rosário](https://ptnosenado.org.br/wp-content/uploads/2021/09/51501684495_6d3892d695_c.jpg)
Foto: Alessandro Dantas
O ministro-chefe da Controladoria Geral da União (CGU), Wagner Rosário, irritou os membros da CPI da Covid em diversos momentos de seu depoimento nesta terça-feira (21). Os parlamentares se queixaram por diversas vezes pela postura arrogante e de desrespeito demonstrada por Rosário ao longo da oitiva.
Wagner Rosário não conseguiu justificar a ausência de medidas de controle por parte de sua pasta no escândalo Covaxin e o envolvimento de agentes públicos, dentre eles o ex-diretor de Logística do Ministério da Saúde, Roberto Dias, acusado de ter feito pressão em servidores para agilizar a liberação da compra de 20 milhões de doses do imunizante indiano, mesmo após a apresentação de indícios de irregularidades como as notas fiscais internacionais (invoices).
Esses documentos, inclusive, foram levados pelo deputado Luiz Miranda (DEM-DF) ao presidente Jair Bolsonaro para denunciar o caso de corrupção que ocorria dentro do Ministério da Saúde. De acordo com o deputado, Bolsonaro teria afirmado ser um “rolo” do deputado Ricardo Barros (PP-PR). Entre as irregularidades encontradas estava o pagamento de US$ 45 milhões de forma antecipada para uma empresa sediada em Cingapura que não constava no contrato original.
A senadora Simone Tebet (MDB-MS) apresentou vídeo no qual Wagner Rosário aparece afirmando que o Ministério da Saúde havia tomado todas as medidas de controle necessárias para a aquisição da Covaxin. O próprio Ministério posteriormente cancelou o contrato, que custaria R$ 1,6 bilhão aos cofres públicos.
Tebet criticou a postura de Rosário e afirmou que a CGU não foi criada para defender nenhum governo, mas fazer a defesa do Estado brasileiro. “Temos um controlador que passa pano, deixa as coisas acontecer”, criticou, lembrando que até mesmo documentos falsos foram utilizados na operação de compra da Covaxin.
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Ao responder, Wagner Rosário comentou que a senadora lesse novamente o processo indicando que a parlamentar tivesse trazido “inverdades” a seu respeito. Logo depois, o ministro afirmou que a senadora estaria “descontrolada”.
O ataque revoltou os demais senadores, que o acusaram de machismo, e causou a suspensão dos trabalhos. No retorno da sessão, o relator da CPI, senador Renan Calheiros (MDB-AL) informou que Wagner Rosário passaria à condição de investigado pela CPI.
Importância da CPI
O senador Humberto Costa (PT-PE) destacou a importância da CPI da Covid para desnudar os casos de corrupção ocorridos na gestão da pandemia por parte do governo Bolsonaro e citou como exemplo a operação Pés de Barro, deflagrada pela Polícia Federal na manhã desta terça.
O objetivo da ação é investigar fraudes na aquisição de medicamentos de alto custo por força de decisão judicial pelo Ministério da Saúde entre 2016 e 2018.
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De acordo com Humberto, a operação é fruto do trabalho de investigação realizado pela CPI, que detectou a empresa Global como vencedora de uma licitação, vencida irregularmente, e que não foi cumprida, já que recebeu o contrato, mas não entregou os produtos.
“Fomos nós que trouxemos de volta o debate da Global. O governo da época tinha Ricardo Barros como ministro [da Saúde] e pagou antecipadamente 20 milhões de reais. O governo não recebeu os medicamentos e 14 pessoas morreram. E esse governo contratou a Precisa [Medicamentos], que é a mesma Global, como intermediária na compra da Covaxin”, destacou Humberto.
Reação ao vídeo de Jair Renan
Logo no início dos trabalhos, o senador Rogério Carvalho (PT-SE) apresentou questão de ordem pedindo providências da CPI junto à Procuradoria Geral da República (PGR) e à Presidência do Senado sobre o vídeo postado nas redes sociais, nesta segunda (20), pelo filho do presidente, Jair Renan Bolsonaro.
No vídeo, Jair Renan diz estar visitando a loja de um amigo e filma um arsenal de armas de fogo que ele chama durante a filmagem de “brinquedo”. Sobre o vídeo, ele escreveu o termo “Alô, CPI”.
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“Na condição de filho do presidente, ele deve servir de exemplo para todos aqueles que cometem atos de intimidação das instituições democráticas. E parece que esse é um traço familiar, agredir a democracia, o Estado democrático de direito e as instituições”, disse o senador.
“O filho do presidente deveria servir de exemplo de respeito às instituições. Não é na bala que ele vai se livrar daquilo que ele tem a responder perante a Justiça, pelos possíveis delitos ou crimes que ele tenha cometido e essa comissão identificou”, completou Rogério Carvalho.
O presidente da CPI, senador Omar Aziz (PSD-AM), informou que o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), se solidarizou com os membros da CPI e se comprometeu a tomar as providências cabíveis em resposta à ameaça do filho de Bolsonaro.