Personagem central da trama golpista de 8 de janeiro, o ex-ministro bolsonarista e ex-secretário de Segurança do Distrito Federal Anderson Torres depõe nesta terça-feira (8/8) na CPMI do Golpe, a partir das 9h. Sua presença atende a nada mais do que 17 requerimentos, entre eles os de autoria dos representantes do PT no Senado na comissão parlamentar mista de inquérito — Fabiano Contarato (ES), líder da bancada, e Rogério Carvalho (SE).
Torres foi ministro da Justiça até o último dia do governo anterior e assumiu a secretaria do DF no início deste ano. Entrou em férias dias depois e estava nos Estados Unidos no dia 8, quando bolsonaristas invadiram e depredaram as sedes dos Três Poderes, cuja proteção cabe às forças de segurança do DF.
Foi preso assim que retornou ao país, ainda no aeroporto, e solto quatro meses depois pelo STF (Supremo Tribunal Federal), mas permanece monitorado por tornozeleira eletrônica. Além de ser acusado de omissão e conivência diante dos ataques terroristas e das evidências de golpismo no acampamento montado em frente ao QG foi Exército, Anderson Torres foi flagrado com a chamada “minuta do golpe” em sua casa, documento encontrado na operação de busca e apreensão da Polícia Federal em 10 de janeiro.
“É imprescindível a análise da eventual conivência na tentativa de golpe que resultou na depredação das sedes dos Três Poderes e apurar se, ainda como ministro, foi articulador de um processo golpista, inaugurado no dia 30 de outubro de 2022 [data do segundo turno das eleições], e posteriormente evidenciado nos acontecimentos em 12 de dezembro e em 24 de dezembro, quando tentaram articular uma bomba no aeroporto de Brasília”, justifica Contarato, em seu requerimento.
O líder do PT no Senado se refere à controversa atuação da Polícia Rodoviária Federal (PRF) — subordinada ao Ministério da Justiça —, que tentou impedir a chegada de eleitores de Lula às urnas em várias regiões do Nordeste por meio de operações não usuais de fiscalização em rodovias, interceptando inclusive ônibus de transporte coletivo em grande número. Torres esteve na Superintendência da PF em Salvador (BA) dias antes do segundo turno.
Pesa ainda contra o ex-secretário a denúncia de que ele foi avisado dos riscos de terrorismo no início de janeiro. “Tem-se conhecimento de que Torres foi alertado sobre o risco de que houvesse atos antidemocráticos. No entanto, optou por ignorá-lo por completo, agindo com negligência e conivência ao viajar para o exterior, deixando a polícia do Distrito Federal sem comando”, diz Rogério, em seu pedido de depoimento.
Ele lembra ainda que o ex-secretário — afastado do cargo pelo presidente Lula, que decretou intervenção na Segurança do DF ainda no domingo, 8 de janeiro — é responsável pela autorização para a entrada em Brasília de mais de 100 ônibus com golpistas para o acampamento do QG, sem o devido acompanhamento policial. “Fortes, portanto, são os indícios de que Anderson Torres participou direta e ativamente da tentativa de golpe, de maneira a alçar Jair Bolsonaro ao poder em contrariedade com os resultados das urnas”, resume.