A CPMI do Golpe ouve, a partir das 9h desta terça-feira (3), o empresário Argino Bedin, suspeito de financiar atos terroristas que almejavam um golpe de Estado. No requerimento de convocação para a oitiva, o deputado Carlos Veras (PT-PE) apontou que o latifundiário, mais conhecido como “pai da soja”, teve as contas bloqueadas, por decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), em novembro de 2022.
Argino recorreu ao (STF) para ter o direito de não depor ou de ficar calado durante a sessão. O ministro Dias Toffoli decidiu que ele é obrigado a atender a convocação, mas pode ficar calado para não se incriminar.
O clã Bedin é apoiador de Jair Bolsonaro, somando cerca de R$ 200 mil para a campanha de reeleição do ex-presidente. A família se mostrou claramente golpista também. Ao menos 15 caminhões de suas empresas, dos setores agropecuário e imobiliário, estavam entre os veículos usados para bloquear estradas após a derrota de Bolsonaro.
Oriundo do Paraná e migrante na década de 1970 para o Mato Grosso, Argino foi fotografado com o ex-presidente durante visita à cidade de Sorriso (MT) em setembro de 2020. Além de declarar voto, afirmou que “até debaixo d’água” defendia o governo Bolsonaro. Disse ainda que o período da ditadura militar trazia “segurança para toda a população e só não era bom para quem não queria trabalhar”.
Argino e família plantam cerca de 8 mil hectares de soja. O empresário já foi multado pelo Ibama por queimar vegetação nativa na Amazônia Legal em 1998 e em 2008, impedir a regeneração da mata e descumprir os embargos do órgão ambiental.
A relatora da CPMI, senadora Eliziane Gama (PSD-MA), que também apresentou um requerimento de inquirição do empresário, disse que ele poderá trazer informações de “enorme valia para a condução dos futuros trabalhos da comissão”, segundo a Agência Senado.
Iniciada em 6 de junho, a Comissão já ouviu oficiais das Forças Armadas, entre eles o “faz-tudo” de Jair Bolsonaro, o ex-ajudante de ordens Mauro Cid, e o coronel Jean Lawand Junior, além do ex-ministro da Justiça Anderson Torres e o ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional, general Augusto Heleno, todos do círculo mais próximo de Bolsonaro.
A senadora não descarta um novo depoimento do tenente coronel Mauro Cid e de comandantes militares que foram citados na delação premiada que o ex-ajudante de ordens firmou com a Polícia Federal. Segundo trechos obtidos pela imprensa, Cid revelou que, em 24 de novembro, Bolsonaro se reuniu com os então chefes das Forças Armadas e pediu apoio para um golpe. “Foi uma reunião grave, que teria planejado uma ação golpista”, afirmou Eliziane ao site Rede Brasil Atual.
O relatório final da CPMI deverá ser apresentado em 17 de outubro.