Crescer, incluir, conservar e proteger continuam sendo prioridades, diz Dilma

Dilma, no Programa do Jô: “ninguém pode dizer que os aeroportos do País, hoje, são o que foram no passado, não são mais. Ninguém pode dizer que nós não investimos em estradas. Ninguém pode dizer que não houve um grande crescimento da renda e do emprego”Poucas entrevistas tiveram expectativa como a da madrugada do último sábado (13), na longa história do Programa do Jô, da Rede Globo. Ocupando os três blocos, a presidenta não fugiu de nenhuma pergunta feita por Jô Soares na biblioteca do Palácio da Alvorada. Mais importante: não foi interrompida como nas entrevistas que concedeu à emissora durante a última campanha eleitoral.

A presidenta lembrou que está apenas no quinto mês de um mandato de quatro anos e explicou que o ajuste fiscal é necessário neste momento, porque a crise econômica global está se estendendo por muito mais tempo do que o governo esperava em seu início, no ano de 2008, quando teve início uma série de medidas de incentivo à economia – com recursos do Tesouro Nacional – que evitou que o Brasil trilhasse o mesmo caminho de recessão e desemprego que outros países enfrentaram nesse período.

Pelo contrário, frisou a presidenta, desde então o Brasil abriu 4 milhões de novos empregos – um recorde na história do País – e manteve a política de valorização ao salário mínimo, sem interrupção nas políticas e programas de inclusão social e com fortes investimentos do governo na infraestrutura..

Além da conjuntura global adversa na economia, Dilma ainda lembrou que, durante seus primeiros quatro anos de governo, o Brasil passou por uma das estiagens severas dos últimos cinquenta anos. E apontou que não só a região Nordeste, onde a falta de chuvas é histórica, mas também no Sudeste, afetando a região mais rica do País, incluindo São Paulo.

É por conta da falta de água nos reservatórios, que levou o Brasil a substituir a água, um recurso gratuito na natureza, pelo uso de gás e óleo combustível nas geradoras térmicas de energia elétrica, além das consequências na produção de alimentos que a inflação voltou a se manifestar, tornando-se sua principal preocupação na Presidência da República.

“Eu me esforço, todo santo dia, para estar à altura do que eu acho que tem que ser feito pelo País. Apesar de eu achar que nós fizemos muito, ao longo desses anos. Porque, quando você olha o mundo, o Brasil é um país que reduziu, de forma drástica, a miséria, a pobreza”, apontou Dilma. “O Brasil deu um salto na infraestrutura, em várias áreas. Ninguém pode dizer que os aeroportos do País, hoje, são o que foram no passado, não são mais. Ninguém pode dizer que nós não investimos em estradas. Ninguém pode dizer que não houve um grande crescimento da renda e do emprego”, reiterou.

Ajuste fiscal

A presidenta defendeu o ajuste fiscal, dizendo que ele é passageiro e que acredita que essa situação é momentânea. “O Brasil não passa por uma situação que ele é estruturalmente doente, pelo contrário. Ele está momentaneamente com problemas e dificuldades. Por isso, que é importante fazer logo o ajuste para gente sair o mais rápido possível da situação”.

“Utilizamos tudo que podíamos [para evitar os efeitos da crise]: o Orçamento da União bancou redução de impostos? financiamos o crédito e o consumo, alguns segmentos econômicos, investimos em infraestrutura a juros baixos e à custa do Tesouro, desonerações também da cesta básica. Fizemos políticas para assegurar que o País continuasse a crescer, porque a crise durou mais do que se imaginava e ainda tivemos a pior seca que já se teve”, recordou.

Investimentos

Simultaneamente ao ajuste, é preciso fazer investimento em infraestrutura e manter os programas sociais, adicionou a presidenta. “Para não voltar para trás, para não voltar para aquela época que as pessoas não tinham casa, não tinham médico, não tinham acesso às coisas básicas. Eu acho que tem muito o que mudar. Eu não acho que está perfeito, acho que tem muito o que mudar, muito o que avançar e muito ainda o que construir”.

A expectativa dela é de que a inflação melhore até o final desse ano. “Todas as avaliações de mercado apontam para uma queda da inflação nos próximos meses. E eu sei, também, que no caso, por exemplo, da casa própria, eu acho que muita gente deve ter sofrido com essa consequência. Agora, é importante sinalizar que no Minha Casa, Minha Vida nenhuma das prestações da casa própria foi aumentada. Elas não variam de acordo com os juros, elas são fixas”.

Lembrou que, atualmente, o programa é uma das únicas oportunidades que existem, dentro da economia brasileira, para oferecer acesso à casa própria quem tem menos renda. “Como uma pessoa que ganha até R$ 1.600 compra casa hoje? O governo assegura e isso não vai mudar. Assegura que a pessoa pague uma parte da prestação, a parte menor do valor da casa, e nós pagamos a parte maior”.

Segundo Dilma, o governo banca em torno de 90% da prestação e as pessoas pagam em torno de 10%. “Quando a pessoa ganha de R$ 1.600 à R$ 3.220, você tem uma mudança, mas o governo continua pagando pelo menos uns 50 a 60% da casa própria. E depois, quando ela ganha de R$ 3.220 até R$ 5.000, nós pagamos seguro, nós facilitamos a garantia. E isso significa que aqui, hoje, no Brasil nós, com o programa Minha Casa, Minha Vida, construímos 3 milhões e  750 mil moradias, destas 2 milhões e 200 estão entregues. O restante será entregue até o início do ano que vem. E agora, em agosto, início de agosto, nós vamos lançar mais 3 milhões de moradias”.

Desafios

Dilma disse que sua maior preocupação é buscar sempre estar à altura dos desafios do País e das necessidades do povo brasileiro. E destacou que uma nova realidade contribui para mudar o padrão de vida e também das exigências das pessoas. “Tirar 36 milhões da pobreza e 50 milhões serem elevados à classe média mudou esse País. E porque mudou esse País, todas as pessoas que melhoram de vida. [Agora], elas não querem menos. Elas querem mais. Quando você melhora de vida você não quer voltar pra trás. Você quer ir pra frente. Então, é justo que as pessoas hoje reivindiquem saúde, educação, tudo de qualidade”.

A missão de governar o Brasil em um cenário de dificuldades internas e externas, muitas vezes, é incompreendida, lamentou Dilma durante a entrevista, acrescentando que, muitas vezes, os críticos se apegam aos últimos meses de dificuldades, esquecendo-se do que já foi feito e realizado nos últimos doze anos de governo no PT. “Às vezes, dói”, confessou, para, em seguida reafirmar que seu governo tem tempo suficiente para concretizar as promessas de campanha que a reconduziram à Presidência da República.

 “A minha promessa de campanha é fazer o Brasil crescer e continuar a política de distribuição de renda e investimento em infraestrutura”, disse ao lembrar que está apenas começando seu segundo mandato, iniciado há cinco meses. E que, ao final dos próximos quatro anos, além de ser a primeira mulher a presidir a Nação, quer ser lembrada como “como a pessoa que não abandonou o interesse do seu povo e a soberania do seu País. Sempre isso tem que estar na pauta”, declarou.

A retomada do crescimento num breve espaço de tempo é mais do que viável, continuou Dilma, porque, ao contrário do que ocorria nos governos anteriores ao do primeiro mandato do ex-presidente Lula, o Brasil não é um país de economia doente, frágil, obrigado a seguir receitas recessivas para continuar obtendo crédito no exterior. “Nós não temos fragilidades. Este País tem US$ 378 bilhões de reserva”, registrou.

“O Brasil tem uma estrutura forte. Nós estamos enfrentando uma dificuldade momentânea. Nós vamos superar essa dificuldade. Aliás, nessa semana, na terça-feira [9], lancei um programa bastante ambicioso de investimento e infraestrutura também para ajudar o País a retomar o rumo do crescimento. Investi em rodovia, em ferrovia, o Brasil precisa ter ferrovia”, registrou, ao apontar que o Programa de Investimento em Logística (PIL) anunciado pode atrair até US$ 200 bilhões em obras de infraestrutura.

 O exemplo brasileiro na mudança climática

Dilma apontou, por exemplo, que o Brasil já faz a diferença na mudança do clima. “Todo mundo quer conversar com o Brasil sobre mudança do clima e fazer um acordo. Por quê? Porque nós somos o único que, voluntariamente, passou uma lei dizendo que até 2020 reduziria 36% da emissão de gás de efeito estufa. Isso, em relação a 2005. Nós estamos em 2015, faltando cinco anos. Nós cumprimos 72% da mais ousada meta de redução do efeito do clima”.

Segundo ela, esse avanço foi possível porque o Brasil é capaz de ter muita hidrelétrica, eólica, biomassa, porque faz uma agricultura chamada de baixo carbono, plantando direto na palha. “Isso aumenta a nossa produtividade, reduz todos os comprometimentos do meio ambiente. Porque nós somos capazes de rotar lavoura, pecuária e floresta. Enfim, porque nós acreditamos que é possível crescer, incluir, conservar e proteger”.

Críticos de nós mesmos

Apesar de tantos fatores positivos, Dilma chamou a atenção para o fato de que os brasileiros são muito exigentes consigo mesmos. “No Brasil, tem uma coisa que eu não vejo em outros países. Eu acho que nós somos mais críticos conosco do que nós merecemos. Eu estive recentemente num país que muitos comparam com o Brasil, mas que tem metade da sua população abaixo da linha da pobreza. Então, nós temos grandes vantagens. E temos de saber usá-las. Porque um povo que não tem esperança, também não constrói o futuro. Nós precisamos de esperança, nós precisamos da confiança do povo em si mesmo”.

Assista à integra do Programa do Jô

(Com informações do Blog do Planalto)

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