O relatório da viagem realizada na semana passada ao Amazonas, produzido pelo senador do PT, Fabiano Contarato (ES), será incluído no texto do relator da comissão temporária que investiga os assassinatos do indigenista Bruno Pereira e do jornalista inglês Dom Phillips, senador Nelsinho Trad (PSD-MS). Na reunião desta quarta-feira (6) que aprovou os apontamentos da diligência, Contarato destacou a esfera em que os crimes devem ser investigados. Ele teme que prospere a versão de que cabe às autoridades estaduais essa apuração.
“Antes desse homicídio, havia a denúncia, feita em abril, de um crime ambiental cuja competência é da justiça federal, praticado por um dos executores do crime mais recente. Houve também uma denúncia de ameaça, que também teria sido feita por um dos executores. E essa ameaça se transformou numa execução de duplo homicídio. Há um liame subjetivo, uma conexão entre esses crimes. Não podemos separar esses fatos. Porque a prova de um interfere na prova de outro”, explanou o senador, também delegado por 27 anos, que foi apoiado pelo presidente da comissão, Randolfe Rodrigues (Rede-AP): “Não há que se falar em federalização do crime. A competência, per si, é federal”.
Randolfe igualmente concordou que a comissão deve requerer a colaboração entre os responsáveis pela apuração das mortes de Bruno e Dom e os investigadores federais que cuidam de outro assassinato, o do colaborador da Funai Maxciel Pereira dos Santos, em setembro de 2019, que segue impune.
Fabiano Contarato chamou a atenção, ainda, para a forma como operam os criminosos na região. E denunciou o abandono da população.
“Há uma gritante ausência do Estado na região, cuja economia é em grande parte dominada pelo tráfico de drogas e pela exploração ilegal de recursos naturais das terras indígenas, tais como minerais, madeiras, pescados e caça. O crime organizado exerce um controle de fato dessas atividades”, anotou Contarato, para quem os habitantes, em busca de sustento, acabam prestando serviços a criminosos.
A forma como se operou o duplo assassinato de Bruno e Dom, no dia 5 de junho, aponta para uma coordenação por trás dos crimes, concluiu o senador. “São várias pessoas envolvidas na morte e na ocultação dos cadáveres, o que desperta o justificado receio de que tenha havido coordenação e um mandante, o que resta ser investigado”.
Esse e outros detalhes da investigação podem ganhar o acompanhamento de representante designado pela Procuradoria Geral da República (PGR). O anúncio foi feito pelo relator, Nelsinho Trad. Uma reunião com esse procurador deve acontecer na próxima quarta-feira (13), quando também ficou agendada audiência dos senadores com parentes de Bruno e Dom, além do líder indigenista Jader Marubo.