Debate e negociação devem crescer com chamamento ao diálogo

Wellington: superamos o ódio e a difamação“Diálogo”. Essa deverá ser a principal marca do segundo mandato da presidenta Dilma Rousseff, que já anunciou a intenção de ouvir todos os segmentos com o objetivo de construir linhas de consenso que orientem as “mudanças e reformas” que ela compreende terem sido reclamadas nas urnas, no pleito presidencial. “É hora de construir pontes, de dar as mãos e procurar os pontos convergentes”, afirmou Dilma nas entrevistas concedidas logo após o anúncio de sua vitória na eleição.

Para a presidenta reeleita, isso não significa que as pessoas precisem abrir mão de suas convicções. “Em uma democracia madura, isso não quer dizer uniformidade de pensamento ou uma postura monolítica na ação, mas que busquemos nossos pontos em comum em prol de um futuro ainda melhor para o Brasil”, afirmou Dilma nas duas entrevistas que concedeu na última terça-feira (27), no dia seguinte à confirmação de seu segundo mandato, a duas das principais redes de televisão do País.

As manifestações da presidenta nos telejornais das TVs Record e Globo segue a essência de seu discurso da vitória, na noite de domingo, quando conclamou os brasileiros a um diálogo que assegures as reformas necessárias ao aprofundamento da democracia e aos avanços sociais e econômicos. “Conclamo, sem exceção, a todas as brasileiras e todos os brasileiros para nos unirmos em favor do futuro da nossa pátria, do nosso país e de nosso povo”, disse Dilma na ocasião. “Não acredito, sinceramente, que essas eleições tenham dividido o País ao meio. Entendo, sim, que elas mobilizaram ideias e emoções às vezes contraditórias, mas unidas por sentimentos comuns: a busca por um futuro melhor para o País”.

O Poder Legislativo, que deverá desempenhar um papel fundamental na construção das reformas defendidas pela presidenta, já começa a se mobilizar para o debate que começa a ser desenhado. O presidente do Congresso Nacional, senador Renan Calheiros (PMDB-AL), elogiou a conclamação de Dilma pela união nacional e defendeu a superação das divergências e a realização de uma reforma política, “uma unanimidade estática” à qual “todos são favoráveis”, mas que nunca prospera. “Devemos mesmo recorrer à força transformadora da sociedade”, avaliou Calheiros, em nota divulgada na última segunda-feira.

O senador também alertou que “eleição não tem 3º turno” e defendeu a necessidade de “seguir em frente no propósito de união nacional pelo bem do País, como também defendeu elegantemente o Senador Aécio Neves, candidato da oposição”. Para Calheiros, “um dos maiores recados dados aos governantes nas ruas em 2013 e, agora nas eleições gerais de 2014, foi que a sociedade está atenta, madura e exigindo ser ouvida com mais assiduidade e mais respeito. A sociedade exige mudanças, mas também deseja ser protagonista neste processo”.

O também senador Wellington Dias (PT-PI), que vai se despedir da Casa para assumir pela terceira vez o governo de seu estado, acredita que o equilíbrio de forças expresso nas urnas e a polarização entre PT e PSDB não vão prejudicar o segundo mandato da presidente. “Superamos o ódio e a difamação”, destacou ele, que está confiante na capacidade de Dilma de trabalhar para livrar o Brasil da “política do ódio” e  fazer um segundo mandato melhor que o primeiro.

Wellington, que exerceu a liderança da bancada de senadores do PT em 2013, avalia que o Congresso mais fragmentado, que tomará posse em 2015, exigirá do Executivo mais negociação e a pressão da sociedade para aprovar as reivindicações dos brasileiros. “Pode ser que seja necessária a consulta popular para que o Parlamento tenha coragem de tomar decisões de que o Brasil precisa. Mudanças estruturais vão exigir negociação forte, mas teremos líderes à altura. Além disso, a presidenta vem para um segundo mandato muito mais amadurecida”.

Desde o anúncio de sua reeleição, Dilma vem acenando a todos os setores— “as forças produtivas, os diversos segmentos da sociedade e até ao setor financeiro”—por um diálogo que permita a definição de uma agenda de “mudanças e reformas”, para ela o clamor que emergiu mais claro das urnas. “A democracia é um dos mais importantes fatores para que um país não só possa mudar, mas o faça de forma pacífica e ordeira”, lembrou a presidenta na entrevista ao Jornal Nacional, da Rede Globo. Para ela, tanto em seus eleitores como nos que votaram em seu oponente havia uma aspiração em comum, que é a busca por um futuro melhor para o Brasil.

“Essa busca é a grande base para que nós tenhamos uma união”, afirmou, apostando na abertura para o diálogo e na disposição para construir pontes que a presidenta percebe na sociedade brasileira. “A população quer continuar melhorando de vida e nós temos o compromisso de assegurar um país mais moderno, mais inclusivo, mais produtivo, com base valores fundamentais, como as oportunidades para todos”. Dilma considera a garantia de oportunidades e o combate à corrupção como dois valores éticos fundamentais para a construção do futuro.

“Depois de uma eleição, nós temos de respeitar todos os brasileiros. Os que votaram em mim e os que não votaram em mim”, destacou a presidenta, que defende um “Brasil da solidariedade, que dá importância à criação de oportunidades, focado na educação, na cultura, na ciência e na inovação”. A valorização do trabalho e do empreendedorismo, afirmou Dilma, precisa ser combinada com a atenção especial aos segmentos que mais emergiram nos últimos 12 anos: as mulheres, os jovens e os negros. “E pra isso tudo, nós precisamos de nos dar as mãos e caminhar juntos para construir esse futuro que todos nós queremos”.

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