Defender a Democracia e o Voto Popular – Por Marcelo Zero

A mídia conservadora criou uma cultura de desprezo da política e das instituições.

Os manifestantes têm direito de questionar tudo. Mas não podem questionar as instituições democráticas e, sobretudo, a primazia e a legitimidade do voto popular.

Não poderiam. Porém, o que mais se observa nas manifestações são hostilidade e desprezo em relação à “política” e aos “políticos”, de forma inteiramente genérica. Muitos manifestantes proíbem, de forma absurdamente autoritária, que partidos políticos, ou pessoas que são simpatizantes de partidos políticos, participem das manifestações. Eles se acham os donos das ruas. Eles acham que são os donos espaços públicos.

Alguns também se acham os novos “donos do poder”, que podem revogar, a seu bel-prazer, a vontade expressa no voto popular. Parecem acreditar que só os jovens que têm acesso à internet e às redes sociais são o “Brasil” ou os “cidadãos”. O resto, que apenas vota, só merece o desprezo.

O problema é que e mídia conservadora e neoudenista criou uma cultura de desprezo da política e das instituições democráticas que é francamente protofascista. A direita brasileira e latino-americana, sucessivamente derrotada em pleitos eleitorais limpos e livres, vem questionando a legitimidade do voto popular há muito tempo. Tal como ocorria na ditadura, afirma-se que o “povo não sabe votar”, que “o povo vota errado”, que “o povão só vota por interesse” e outras pérolas fascistas.

Daí a querer substituir o voto pelas ações decididas nas redes sociais é um passo. Trata-se de uma “democracia” que incluiria apenas a minoria que já está incluída digitalmente. Daí ao golpe contra as instituições democráticas é somente mais um passo.

Nada pode substituir o voto popular e a representação democrática. As manifestações, que oxigenam a democracia, não podem ser a contrafação da livre vontade do povo, de todo o povo, expressa no voto.

O Brasil lutou muito para se tornar um país democrático. Numa época em que não havia internet e em que as dissensões eram punidas com sequestro, tortura e morte, muito brasileiros deram suas vidas para que outros brasileiros pudessem depositar o voto numa urna. O Brasil também vem lutando muito para se tornar um país mais justo, e livre daquilo que Gandhi denominava de a “pior forma de violência”, a miséria.

Essas conquistas não podem ser ameaçadas. Os cidadãos brasileiros, não somente a minoria que faz parte das redes sociais, têm de reagir contra essa antiga barbárie, travestida de novidade e modernidade.

Afinal, as ruas e o país pertencem a todos os brasileiros, sejam eles jovens ou não, tenham ou não computador. E todos eles têm o direito de votar e, também, de ter o seu voto respeitado.

Marcelo Zero é assessor técnico da Liderança do PT no Senado

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