Delcídio: “Estamos muito longe de um racionamento de energia”

"O Brasil não corre risco nenhum de racionamento", avalia o senador. 


“Infelizmente, confundem apagão com
racionamento” (André Corrêia)

O senador Delcídio do Amaral (PT-MS) deu uma importante contribuição, nesta quinta-feira (13), durante discurso na tribuna do Senado, ao explicar o desligamento no sistema de transmissão de energia elétrica ocorrido na semana passada e que ganhou na mídia contornos catastróficos e alarmistas. Por um pequeno período, alguns estados ficaram sem o abastecimento de energia por causa da ocorrência de dois curtos circuitos. Um entre Colinas, no Tocantins e a Serra da Mesa, e outro na linha de transmissão Miracema-Colinas.

“Se criou um celeuma muito grande e vi divergências de interpretação no que se refere à realidade do suprimento de energia no País. O Brasil não corre risco nenhum de racionamento. Mas, lamentavelmente, confundem apagão com racionamento. Racionamento é falta de energia e o Brasil não corre esse risco. Precisamos deixar isso claro para que a população compreenda”, afirmou.

As linhas de transmissão que foram alvo do problema pertencem a grupos privados e companhias estaduais. Uma das empresas é a Fipe Brasil, controlada pelo BTG, a outra, a Cemig, controlada pelo governo de Minas Gerais.

Delcídio explicou que o Relatório do Operador Nacional do Sistema (ONS) indicou que o primeiro curto ocorreu numa linha de transmissão monofásica de 500 Kv, que é de extra alta tensão e, em seguida, entre Miracema e Colinas.  Segundo ele, os oscilogramas, que medem a variação da energia transmitida e os registros de eventos sequenciais indicarão o verdadeiro causador do problema. “Há todo um sistema de proteção para mitigar os efeitos de descargas atmosféricas, mas nenhum sistema do mundo é imune. Não é frequente, mas acontece, principalmente em linhas de extra alta tensão”, disse ele.

Sistema de operação
O senador explicou que o sistema de proteção operou corretamente ao interromper o fornecimento de energia e não sobrecarregar as linhas de transmissão imediatamente após o incidente. “Nos meus idos de 1983 e 1984 já operávamos com esses sistemas não só de alívio de carga, mas de alívio de geração de energia na interligação Norte/Nordeste”, disse ele, acrescentando que esse sistema funciona da seguinte maneira: faz a avaliação da frequência, calcula o número de carga que eventualmente deve ser cortada e desliga automaticamente a transmissão.

“Foi isso que aconteceu. O alívio de carga verificou que a frequência baixou porque se perderam linhas que estavam despachando mais de três mil megawatts e se retirou as cargas. Por que fez isso? Para que o sistema inteiro não caísse”, observou. O senador explicou ainda que, quando o sistema fica sobrecarregado, há o risco de as usinas saírem do sistema interligado nacional. “Falo isso porque eu não li. Eu vivi isso. E vivi desligamentos em usinas em que trabalhei, em que nós levávamos quase cinco, seis horas para restabelecer as cargas de todo o sistema. Portanto, o sistema de alívio de cargas foi acionado e manteve o sistema operando, porque o retorno da energia foi rápida”. 

Planejamento energético
Para Delcídio, apesar de existir no País uma produção de energia que atende à crescente demanda da sociedade, é necessário colocar em discussão o planejamento energético brasileiro do ponto de vista das opções para novos empreendimentos. “Temos que discutir desavergonhadamente, sem hipocrisia, a questão das usinas com reservatórios de acumulação e as usinas de fio d’água. As grandes usinas em construção no Brasil são todas a fio d’água e que não tem regularização e nem acumulação de água. Na época de estiagem podem comprometer a geração de energia, o que implica o acionamento das usinas termoelétricas a gás, carvão e a óleo diesel”, afirmou.

Um levantamento feito pelo ONS mostrou que o despacho de energia pelas usinas termoelétricas bateu um recorde ao produzir quase 13 mil megawatts, por conta da estiagem que atrasa a recuperação dos reservatórios de outras usinas. A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), em seu relatório de operações, indicou que o custo marginal de operação, calculado por fórmulas matemáticas e modelos computacionais estabelece quatro níveis de alertas baseados nesse custo.

Quando o valor ultrapassa R$ 1.364,42 o custo de geração por megawatt/hora, em função do acionamento das termoelétricas, o modelo alerta para a necessidade de corte de 5% do consumo.  “Na última sexta-feira esse valor chegou a R$ 1.691,39 por megawatt/hora. Embora reconhecendo o déficit e a necessidade de racionamento identificada pelo programa de computador, o ONS descarta a adoção de cortes, porque a maior parte do País está num período de chuvas e isto leva à expectativa de reversão do atual cenário hidrológico”, afirmou.

Marcello Antunes

 

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