“A estabilidade está na base e a instabilidade no comando”. A frase, utilizada pela senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR) para explicar as dificuldades do Governo para fazer o Brasil caminhar a passos mais largos dá o tom para o artigo do ex-ministro da Fazenda Delfim Netto, publicada na edição dessa quarta-feira (12) da Folha de S. Paulo. Delfim elogia a postura da ex-ministra da Casa Civil durante sua gestão como condutora dos rumos do Executivo, gestão da máquina e relações entre os poderes público e privado.
Para ele, a “inteligência, o comportamento e a humildade” da então ministra foram decisivos para o sucesso de alguns dos mais delicados projetos do Governo Dilma, como as concessões, por exemplo. “Foi ela, juntamente com os ministros Mantega (da Fazenda) e César Borges (dos Transportes) que garantiram os potenciais concorrentes de que a defesa da ‘mocidade tarifária’, na transferência de monopólios públicos para o setor privado, estava longe de ser o desejo ideológico de construir um ‘capitalismo sem lucro’”, analisa Delfim.
Sobre o que a mídia chama de “pouca mobilidade” do Governo, a análise humilde e clara de Gleisi, segundo Delfim, é prova de sua coragem. Ao responder à repórter Débora Bergamasco, durante uma entrevista para O Estado de S. Paulo, sobre por que a administração da máquina pública parece emperrada, a senadora respondeu: “porque as respostas dependem da articulação das três esferas da Federação e de vários órgãos” e chama para si parte da responsabilidade pelas dificuldades: “Claro que se eu tivesse, no início, a experiência e o conhecimento que tenho agora, acho que eu teria conseguido fazer isso”, disse à jornalista.
Mas o que chamou mesmo a atenção do especialista em contas públicas foi a forma como Gleisi Hoffmann respondeu à pergunta objetiva da repórter sobre qual seria a maior dificuldade para fazer o Brasil andar. “Ainda é a falta de cultura da máquina pública de agir por resultado. Temos uma baixa cultura de comprometimento de entregas. O serviço público não está acostumado a isso, então quando nós cobramos resultados muitas vezes tem reação. Quando cobramos metas, organização, não temos o retorno esperado porque é uma questão de cultura e também da própria organização do serviço público, em que a estabilidade está na base e a instabilidade está no comando. Isso faz com que o setor público acabe ficando mais acomodado”, respondeu Gleisi.
Para Delfim, aí está o “pulo do gato”: Delfim, convencido da verdade do pensamento da ex-ministra avalia, como ela, que existe uma cultura, dentro do serviço público de que os resultados não são importantes, porque quem define metas não estará no mesmo lugar a longo prazo, enquanto que quem deveria cumprir essas metas é quase eterno.
“Se há alguma dúvida sobre a verdade essencial dessa ponderação, basta atentar para as dificuldades que estamos vivendo no setor elétrico, além dos problemas climáticos: 40% do volume de energia planejado para estar em operação não foi entregue na data prevista, por dificuldades de toda natureza. Ainda mais lamentável é o descompasso de mais de um ano entre os projetos que estão prontos e as necessárias linhas de transmissão, o que elevará para sempre o custo da energia”, conclui o articulista.
Com informações da Folha e do Estado de S.Paulo
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