As eleições de 2020 mal acabaram e o país se depara com o prenúncio de uma crise social sem precedentes para 2021, com o aumento da desigualdade no país já a partir de janeiro. É quando acaba o pagamento do auxílio emergencial de R$ 300 e a realidade vai gritar na cara do Palácio do Planalto e da classe política brasileira, minando a pouca credibilidade que o presidente Jair Bolsonaro ainda goza em segmentos da sociedade e expondo a lógica política perversa dos conservadores e da mídia hegemônica, que fingem estar longe do Planalto, mas defendem com unhas e dentes a pauta econômica do ministro Paulo Guedes.
A realidade vai terminar de desmascarar os responsáveis pela tragédia que o Brasil atravessa desde 2016, quando Dilma Rousseff foi sacada da Presidência da República para a adoção da agenda neoliberal, de venda de empresas estatais e da entrega do pré-sal aos estrangeiros. MDB, DEM, PSDB, PSD e PP terão de explicar, mais cedo ou mais tarde, por que o Brasil não obteve qualquer benefício social até agora ao cortar investimentos e congelar os gastos sociais. A crise só piorou, apesar das promessas e da propalada melhoria da economia. O que todos vêem é miséria, fome e crise social, combinada com fuga de investidores e desvalorização excessiva do real.
O país tem 14,1 milhões de desempregados e a expectativa no mercado e entre especialistas é que este número cresça no próximo ano. A taxa de desemprego já é de 14,6% na média brasileira, mas em 14 estados brasileiros – a metade do país –, o índice já superou 15%, como em São Paulo. No Rio, passou de 19%. E em quatro estados do Nordeste – Pernambuco, Bahia, Sergipe e Alagoas essa taxa oscila entre 18% e 20%.
Sem um programa de investimentos sociais e de geração de empregos – medidas consideradas abomináveis pelo Chicago Boy Paulo Guedes e os próceres da Faria Lima, em São Paulo – o que fazer com a massa de até 15 milhões de trabalhadores? Essas pessoas estarão em busca de postos de trabalho, se e quando pandemia for superada – o que também parece incerto. A estimativa de 15 milhões é modesta e partiu de pesquisadores do Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper). É o tamanho do contingente de novos pobres que Bolsonaro vai jogar nas estatísticas da desigualdade brasileira no ano que vem. O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), posa de responsável, mas apoiou a política econômica de Bolsonaro até aqui e sinaliza com mais reformas para 2021. A crise social vai avançar. E o desemprego também.
Era só tirar a Dilma…
A pandemia ceifou em 2020 o emprego de 11 milhões de pessoas, mas desde o Golpe de 2016, o mercado de trabalho não avança, apesar das promessas de Michel Temer e dos neoliberais que se cercaram do Palácio do Planalto a partir daquele ano. Mesmo com a aprovação das reforma – previdenciária e trabalhista – a retomada da economia e a geração de empregos simplesmente não aconteceu. Em 2015 – último ano de Dilma, antes do impeachment fraudulento –, a taxa de desemprego foi de 6,4%. Em 2016, chegou a 12%. E, no ano seguinte, a 12,7%. Em 2018, foi a 12,3% e, no ano passado, bateu em 11,9%.
Neste ano, especialistas em mercado de trabalho consideram que a taxa de desemprego não explodiu porque 10 milhões deixaram de procurar trabalho – e, por isso, não são contabilizados oficialmente pela metodologia do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A realidade hoje está mascarada pelas estatísticas, mas há entre os economistas quem aponte que o número de desempregados no país supere os 20 milhões de trabalhadores brasileiros. Soma-se a este contingente os mais de 40 milhões vivendo na informalidade e tem-se o quadro de destruição da política econômica desenhada e perseguida pelo governo de maneira obsessiva.
Um dos grandes críticos da agenda neoliberal da atual equipe econômica é Aloizio Mercadante. Ex-ministro da Casa Civil no governo Dilma e presidente da Fundação Perseu Abramo, Mercadante alerta que o país terá dias duros pela frente e que a política do Palácio do Planalto é um agravante, e não solução. “Essa obsessão neoliberal de ortodoxia fiscal é uma tragédia para o Brasil”, aponta. “Guedes está completamente perdido, não tem resposta para a crise. Essa política não tem a menor consistência”.
Velha receita nem FMI recomenda
E então, superadas as eleições municipais, imagina-se que a equipe econômica tenha na manga algumas cartas para o enfrentamento da crise. Ledo engano. Nas últimas aparições públicas, Paulo Guedes blefou com novas cartas ortodoxas da sua mão viciado no jogo do neoliberalismo e velhas promessas: a aprovação das reformas no Congresso – administrativa e tributária – e a venda de estatais importantes – Eletrobrás, Pré-Sal S/A, Correios e Porto de Santos –, além de pitadas de arrocho e miséria no lombo dos trabalhadores.
Essa agenda que agrada ao mercado com a promessa de atrair investidores é um equívoco. Em meio à mais devastadora pandemia dos últimos 80 anos, o país mergulha numa crise sem precedentes, encolhendo não apenas o PIB, mas ampliando a desigualdade histórica do país. Justamente porque mantém a cantilena da ortodoxia fiscal que continua a ceifar empregos e renda, enquanto os ricos ficam mais ricos.
Nem o Fundo Monetário Internacional defende ajuste fiscal como solução para a pós-pandemia, como os ortodoxos aqui da Igreja do Santo Sepulcro da Justiça Social. No Brasil, só os conservadores aplaudem a agenda de Bolsonaro e Guedes – MDB, DEM, PSDB, PSD e PP – e a mídia oligopolista capitaneada pela Globo, Folha e Estadão. São esses que acreditam nos planos de Guedes, que sinaliza com boas intenções mas que, desde 2016, só entregou ao país miséria e desigualdade.