O chamado “empreendedorismo por necessidade” avança no Brasil desde a retirada da ex-presidenta Dilma Rousseff do cargo conquistado democraticamente e tem sido a solução para muitos diante da degradação do mercado de trabalho durante o atual governo. Para fugir do desemprego, das más condições de trabalho e da queda da renda, trabalhadores e trabalhadoras cada vez mais apelam para atividades autônomas que acabam se transformando em negócios próprios – e muitas vezes, por falta de opção.
A segunda edição do Indicador Nacional da Micro e Pequena Indústria revela que, nos últimos quatro anos, o número de trabalhadores que se tornaram empreendedores após o desemprego cresceu 20%. O levantamento é elaborado pelo Sindicato da Micro e Pequena Indústria do Estado de São Paulo (Simpi-SP) em conjunto com o Datafolha.
Coletados entre 7 e 27 de julho, os dados apontam que, em 2022, mais da metade dos micro empresários do país (54%) estavam sem trabalhar quando abriram o próprio negócio. Outros 42% deixaram o emprego para empreender.
O índice é maior no Nordeste – 62% dos novos empreendedores da região estavam desempregados quando abriram o negócio. O Sudeste vem em seguida, com 56%. Enquanto no Centro-Oeste e no Norte é observado o mesmo percentual (49%), a menor proporção foi registrada no Sul do país (47%).
“Estamos vivendo um momento crítico, com a questão da pandemia e a guerra na Ucrânia. Foram muitos baques financeiros e das cadeias produtivas”, comenta o presidente do Simpi-SP, Joseph Couri, na Folha de São Paulo. “O que se percebe é que muitas pessoas abriram seu próprio negócio porque não tinham outra opção.”
“Outras se consideram mais qualificadas e competentes, achando que têm melhores oportunidades se trabalharem por conta própria”, prossegue Couri, lembrando que a realização financeira é dos principais motivos para a decisão de empreender. “A pesquisa demonstra que 74% daqueles que montaram o seu negócio estão financeiramente melhor”, afirma ele, com ressalvas ao que considera um ponto polêmico: “Quantas horas essas pessoas trabalham”.
Quase metade dos empreendedores (49%) trabalha seis ou sete dias por semana. E neste ano eles estão trabalhando por mais horas – 59% dos empresários afirmaram trabalhar mais de 9 horas por dia. Em 2014, o percentual era de 55%.