Dilma recebe atletas do Bom Senso e promete ajuda nas demandas

Dilma recebe atletas do Bom Senso e promete ajuda nas demandas

Jogadores relataram a situação de completa instabilidade da profissão.

Presidenta ficou estarrecida com relatos dos
jogadores sobre a situação do futebol brasileiro

Do pontapé inicial à audiência com a presidenta Dilma Rousseff, ocorrida na segunda-feira (26), foram quase nove meses de intensa movimentação no meio campo. Mas o bate-bola inicial entre os jogadores Alex e Juan, ao final de mais um Coritiba e Internacional, no Paraná, em setembro do ano passado, pela Série A do Campeonato Brasileiro, progrediu e tirou a categoria da defesa. A conversa deu início ao aplaudido movimento Bom Senso FC e, pela primeira vez, surgem perspectivas concretas para que se mude a intensa rotina de jogos, o descumprimento quase generalizado dos contratos entre clubes e atletas e o atraso sistemático dos salários.

No encontro com os jogadores líderes do Bom Senso, a presidenta Dilma disse ter ficado “estarrecida” com os relatos dos jogadores levados à audiência pelo ministro dos Esportes, Aldo Rebelo, e assegurou apoio integral do governo para as mudanças que precisam ser feitas não só nos torneios que reúnem a elite dos clubes brasileiros, mas em todas as divisões do futebol profissional no Brasil. Os pontos prioritários da pauta dos jogadores são a reformulação do calendário e a criação de leis que punam os clubes pelo atraso dos salários.

A ideia de receber os jogadores no Palácio do Planalto – pela primeira vez, um presidente da República do Brasil reuniu-se com ídolos dos gramados para debater problemas do futebol – havia surgido uma semana antes, quando Dilma se reuniu, também no Palácio do Planalto, com os repórteres e colunistas que são referência no jornalismo esportivo para falar da realização da Copa do Mundo no Brasil a partir do dia 12 de junho. Os profissionais de imprensa se anteciparam no lance e apresentaram uma radiografia do futebol brasileiro.

De acordo com o texto veiculado no blog do jornalista Paulo Vinícius Coelho, da ESPN, Dilma se permitiu ouvir sobre a dificuldade de o futebol do País estar tão perto de se tornar relevante no cenário dos clubes em âmbito mundial e tão longe ao mesmo tempo, pela dificuldade de colocar as pessoas certas nos lugares certos, retirar a corrupção e expulsar o coronelismo de campo. Também ouviu quais são os empecilhos que impedem a transformação do futebol brasileiro num setor da indústria de entretenimento, capaz de gerar empregos e pagar impostos, como um setor da economia.

Ainda de acordo com relato do jornalista, a presidenta sinalizou que “esta é a hora”, ao defender que a Copa do Mundo pode permitir que o governo federal auxilie nas mudanças necessárias para que se torne possível a modernização do futebol nacional. “Ela disse que vai receber e ouvir o Bom Senso. E trabalhar. Tentar fazer o legado da Copa ser a transformação do futebol brasileiro” escreveu PVC. Dilma cumpriu com o compromisso.

Ao final do encontro com os jogadores, na última segunda (26), Alex, do Coritiba, relatou que a presidenta Dilma ficou tocada com as histórias contadas pelos jogadores. O relato feito pelo jogador Thiago Gasparino, do Maringá, da Primeira Divisão do Paraná, foi uma das que mais espantou a presidenta. O jogador contou que o filho de nove anos, que cursa a quarta série do ensino fundamental, está em sua décima quinta escola. Isso tudo, devido à instabilidade nos clubes.

Já o jogador Ruy Cabeção, que está sem clube, disse, ao final da reunião, que alguns dos pontos que ficaram acertados entre os jogadores e o governo federal serão:

– fortalecimento da Lei de Responsabilidade Fiscal do Esporte;

– regulamentar a participação de atletas nas assembleias geral das entidades;

– criação de um grupo de trabalho para discutir a criação do Plano Nacional do Desenvolvimento do Futebol.

A ideia é incluir na Lei de Responsabilidade dos Clubes, uma forma de punir atrasos de salários e a garantia da representação de atletas nas assembleias da CBF e das federações estaduais.

Os pontos discutidos, em sua maioria, fazem parte da Lei de Responsabilidade Fiscal do Esporte, proposta que se encontra em discussão na Câmara dos Deputados, com a relatoria do deputado federal Otávio Leite (PSDB-RJ) e que aguarda votação no plenário.

De acordo com texto veiculado no blog do jornalista Juca Kfouri, nesta terça, a presidenta Dilma teria prometido postergar o andamento da tramitação da Lei da Responsabilidade Fiscal do Futebol em discussão no Congresso Nacional para poder lê-la “pelo avesso”.

Ainda, de acordo com o jornalista dos canais ESPN, a presidenta também teria prometido averiguar, junto aos servidores do Ministério do Trabalho, o motivo pelo qual a pasta não tem agido para fazer valer o pagamento em dia de salários dos atletas profissionais.

Elogios à iniciativa
O senador Aníbal Diniz (PT-AC) elogiou a iniciativa da presidenta Dilma Rousseff e defendeu o movimento dos jogadores em defesa de melhorias da estrutura do futebol brasileiro. Além disso, o petista alertou para a necessidade de se discutir uma fórmula que torne os clubes de divisões menores, sustentáveis financeiramente.

“Mantenho minha preocupação com os clubes profissionais das 2ª, 3ª e 4ª divisões do futebol nacional. Por isso, o meu projeto, no sentido de que 3% do recurso arrecadado com as loterias da Caixa se destinem a clubes das séries B, C e D”, disse.

Outra possível solução apontada pelo senador passa por órgãos oficiais, como: Caixa, Banco do Brasil e Petrobras. No caso, quando instituições oficiais decidirem patrocinar clubes de futebol, os valores possam ser destinados também para clubes das divisões menores.

Conheça outras propostas do movimento Bom Senso FC:

Calendário
A maioria dos clubes do país joga em média apenas dezessete partidas por ano. Cerca de dezesseis mil atletas ficam desempregados ao final dos estaduais por falta de um calendário mais democrático e inclusivo. Em contrapartida, os times da elite podem jogar até 85 jogos em uma mesma temporada.

Fair-Play financeiro
Nos últimos cinco anos, apesar do crescimento das receitas dos principais clubes brasileiros, suas dívidas aumentaram em 90%. Além disso, o não pagamento do salário e do direito de imagem dos atletas cujo contrato está chegando ao fim se tornou prática comum em todo o país.

Confira alguns dados sobre o futebol brasileiro

– dos 684 clubes profissionais do País, 583 deles não possuem um calendário anual. 85% dos clubes ficam inativos por seis meses. Clubes que disputam apenas os campeonatos estaduais podem jogar apenas 15 vezes numa temporada. Na outra ponta, um clube de elite pode disputar até 85 partidas no espaço de um ano;

– dos 20 mil atletas profissionais, cerca de dezesseis mil recebem menos de dois salários mínimos e ficam desempregados por pelo menos seis meses do ano;

– o endividamento dos clubes brasileiros cresceu 74% nos últimos cinco anos;

– somente ao governo, com dívidas tributárias, os clubes devem cerca de R$ 2,5 bilhões. Com esse recurso, seria possível construir 75 hospitais ou 178 salas de aula;

– O endividamento dos 24 principais clubes brasileiros bateu R$ 4,7 bilhões em 2012;

– hoje somos o 18º país em média de público nos estádios do mundo, com taxa de ocupação de 38% dos estádios. Levando em conta a presença de público da temporada 2012/13, nós estamos atrás de países como Austrália e Estados Unidos. O líder do ranking, a Bundesliga (Campeonato Alemão), tem taxa de ocupação de 95% dos estádios.

Acesse a página do Bom Senso F. C. para mais informações

Conheça o livreto com o detalhamento das propostas do Bom Senso FC

 

Rafael Noronha, com informações de agências de notícias e da página do Bom Senso FC

To top