Diretora-gerente do FMI escreve sobre sua visita ao Alemão; imprensa censura

Ministra Tereza Campello (esq) e Christine Lagarde, do FMI: inclusão social além do Bolsa FamíliaÉ raro a imprensa brasileira omitir qualquer tipo de manifestação do Fundo Monetário Internacional (FMI) sobre o Brasil. Mais raro ainda é não encontrar nos jornais, rádios e televisões declaração de qualquer um de seus dirigentes, em particular quando quem fala ocupa o topo da entidade – no caso, sua diretora-gerente, Christine Lagarde. É raro, mas acontece. Principalmente se a manifestação for favorável a uma realização do governo de Dilma Rousseff, ou, mais principalmente ainda, quando se trata de elogio à política de inclusão social desenvolvida desde 2003 no Brasil a partir do Programa Bolsa Família.  

Nesta sexta-feira (29), o grupo de empresas privadas que controla os meios de comunicação no País sonega novamente informação. Nenhum jornal, rádio ou televisão registra as impressões da principal dirigente do Fundo sobre sua visita ao Complexo do Alemão, na região norte da cidade do Rio de Janeiro, durante sua visita ao Brasil na semana passada.

Acompanhada da ministra do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, Tereza Campello, Lagarde quis ver pessoalmente os resultados da política de inclusão social implantada pelo PT, que não se resume apenas no benefício do Bolsa Família às famílias mais pobres, mas também à valorização do salário mínimo e ao recorde na oferta de emprego registrada no primeiro mandato de Dilma Rousseff. O noticiário deu importância quase zero à visita, concentrando sua atenção à recessão, ao desemprego ou às dificuldades fiscais que o Brasil atualmente enfrenta, depois de resistir durante seis anos seguidos à crise financeira global.

Mas, ontem, em seu blog, a diretora-gerente tentou corrigir a desinformação resultante da manipulação das informações sobre sua visita ao Complexo do Alemão, e publicou em sua página suas impressões reais sobre a visita. Não adiantou. Predominou novamente a censura aos feitos positivos das gestões do PT.

Leia, abaixo, o que escreveu a diretora-gerente do FMI:

Reativar o crescimento forte e inclusivo no Brasil– Christine Lagarde – 28/05/2015

O Brasil realizou avanços sociais notáveis na última década e meia. Milhões de famílias saíram da pobreza extrema e o acesso à educação e a saúde melhorou graças a uma série de programas sociais eficientes, como o Bolsa Família, o programa de transferência condicional de renda. Tive o privilégio de ver alguns desses progressos tangíveis durante minha visita ao Brasil na semana passada.

Estive com Tereza Campello, Ministra do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, que me explicou como funciona a rede de programas sociais do país e nos guiou na visita ao Complexo do Alemão — um bairro e um conjunto de favelas na Zona Norte do Rio de Janeiro. Para chegar até lá, utilizamos o novo teleférico que liga diversas comunidades dos morros à Zona Norte. O teleférico é um grande exemplo de infraestrutura que contribuiu imensamente para melhorar as oportunidades econômicas da população, que agora tem uma alternativa rápida para se deslocar e se conectar com o resto da cidade. As próprias estações são pontos focais do esforço para melhorar o dia-a-dia dos cariocas, pois abrigam serviços importantes, como um centro de juventude, um posto de referencia de assistência social, uma biblioteca pública, um centro de treinamento para microempresários e até mesmo um posto do banco que distribui as mensalidades do Bolsa Família.

Na estação Alemão, encontrei-me com diversas mulheres que se tornaram empreendedoras de sucesso em suas próprias comunidades com o apoio de programas dirigidos a microempresários. Mulheres como Regina Célia, que explicou que agora pode sair para trabalhar graças à creche; Solange, uma revendedora de cosméticos; e Cristiane, que administra um albergue. Vi também algumas de suas crianças, que estavam praticando capoeira, uma arte marcial (ou talvez dança!) brasileira, no centro de referência da juventude.

Todas essas histórias são animadoras, e fiquei impressionada com os esforços para capacitar às mulheres para que se tornem empreendedoras independentes e bem sucedidas em suas comunidades.

Essa visita ilustrou concretamente a afirmação repetida pelo Ministro da Fazenda Joaquim Levy de que o principal objetivo do fortalecimento das finanças públicas do Brasil é garantir que o conjunto de programas sociais possa ser sustentado ao longo do tempo. É animador ver que o governo brasileiro está segundo essa estratégia:

Para estabilizar a dívida pública bruta, o governo anunciou uma meta para o superávit primário de 1,2% do PIB em 2015 e no mínimo 2% do PIB em 2016 e 2017; essa medida, aliada ao fim dos empréstimos oficiais aos bancos, deve colocar a dívida pública em uma trajetória declinante.

Um elemento chave da estratégia de política é a redução ou eliminação dos subsídios ineficientes, mal direcionadores e onerosos — e nesse aspecto o governo reajustou os principais preços administrados, sobretudo eletricidade e combustíveis.

Ao mesmo tempo, o Banco Central pretende trazer a inflação de volta à meta de 4,5% e evitar os efeitos secundários do aumento dos preços administrados e da depreciação do real.

Embora as políticas macroeconômicas possam afetar a demanda a curto prazo, elas beneficiarão o povo brasileiro a mais longo prazo. De fato, durante o Seminário sobre Metas de Inflação do Banco Central, comentei que, à medida que essas medidas se firmarem, os efeitos favoráveis sobre a credibilidade e a confiança permitirão à volta ao crescimento positivo em 2016.

Para apoiar esse objetivo, o governo está também tomando medidas importantes do lado da oferta, como o programa de concessões de infraestruturas. O recente relatório do FMI sobre a economia brasileira discute outras reformas voltadas para o aumento da competitividade e do potencial produtivo da economia — algumas das quais estão sendo consideradas pelo governo.

Em vista da desaceleração contínua na demanda mundial, não há dúvida de que o Brasil — assim como outros países da América Latina — enfrenta hoje uma conjuntura externa mais difícil. As políticas econômicas que estão sendo aplicadas estão recolocando o país no caminho certo; o grande desafio agora é a sua implementação. O FMI apoia os esforços do Brasil no reforço de suas políticas fiscais e monetárias e na manutenção de suas políticas sociais bem sucedidas.

Foram esses alguns dos temas que discuti em meus encontros com a presidente Dilma Rousseff, os ministros Levy e Nelson Barbosa, e o presidente do BC, Alexandre Tombini.

Concordamos que, com perseverança e as políticas corretas, esse futuro mais promissor estará ao alcance do país.

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