Quanto maior a cobertura do programa, menor é a incidência da doençaUm grupo de cientistas brasileiros, em estudo inédito, relaciona ação do programa Bolsa Família com a redução da incidência de hanseníase no Brasil. Os pesquisadores encontraram evidências de que quanto maior a cobertura do programa, menor é o número de casos da doença, principalmente em função da melhoria das condições de vida da população derivada da transferência de renda.
A pesquisa foi realizada em 1.358 municípios, reunindo aqueles com as maiores incidências da doença e que reúnem mais de 50% de todos os novos casos diagnosticados anualmente no País. Nesses municípios, o número de casos novos de hanseníase passou de 30 mil novos casos, em 2004, para 19 mil casos, em 2011.
O Brasil tem o mais alto índice de hanseníase no continente americano, contribuindo com 16% de todos os casos novos detectados mundialmente. A doença concentra-se particularmente nas regiões mais pobres, especialmente no Nordeste, onde há a maior número de beneficiários do Bolsa Família, além das regiões Norte e Centro-Oeste.
O programa foi associado pelos pesquisadores à redução de novos casos, porque a transferência de renda pode aumentar o consumo de alimentos e reduzir a insegurança alimentar e a fome, dois dos fatores centrais que contribuem para a ocorrência da doença.
Atenção primária a saúde
Em outra frente, segundo o estudo, outra ação do governo federal contribuiu para aumentar a identificação de novos casos de hanseníase. Em 2012, por exemplo, foram diagnosticados 33.303 casos novos de hanseníase no Brasil, número que corresponde à detecção de 17,2 casos por 100 mil habitantes.
O Saúde da Família, com suas equipes de médicos, enfermeiros, agentes de saúde e dentistas, atende a população, especialmente nas áreas mais carentes, e isso foi fundamental para o aumento na detecção da hanseníase, favorecendo o início do tratamento e prevenção de novas contaminações.
Controle da transmissão
Por ser uma doença associada à pobreza, os fatores de risco para sua expansão são: ambientes com muitas pessoas, baixa escolaridade, falta de higiene, desigualdade social, escassez de alimentos e desnutrição.
Os pesquisadores concluíram que os programas voltados para a melhoria das condições socioeconômicas e de saúde da população, em longo prazo, podem ter impactos no controle da transmissão e ocorrência da hanseníase e outras doenças ligadas à pobreza. A literatura científica para respaldar o vínculo entre programas de melhoria social e a redução da doença é escassa. Sabe-se, no entanto, que, em países como Noruega, Espanha e Japão, o recuo da doença está associado ao aumento das condições socioeconômicas da população.
A pesquisa levou em conta alguns indicadores associados com a incidência de novos casos da doença, como urbanização, pobreza, analfabetismo, desemprego, número de pessoas na família e de jovens com menos de 15 anos de idade, além do índice de Gini – medida internacional de desigualdade socioeconômica. Quanto menor o índice de Gini, mais próximo o País está da distribuição mais igualitária de sua riqueza.
Ao final de oito anos de estudo, todos os índices apresentam melhorias nos municípios estudados: urbanização (61,3%, em 2011); percentual da população pobre (de 43,8 para 29,8%), analfabetismo (de 23,1 para 19,6%); desemprego (9,0 para 6,9%), número de pessoas na família (3,9 para 3,5), proporção de jovens com menos de 15 anos (34,7 para 28,3%) e índice de Gini (de 0,56 para 0,53).
O estudo “Efeitos dos programas brasileiros de transferência de renda condicional e atenção primária à saúde no coeficiente de detecção de casos novos de hanseníase” é assinado pelos pesquisadores Joilda Silva Nery, Susan Martins Pereira, Davide Rasella, Maria Lúcia Fernandes Penna, Rosana Aquino, Laura Cunha Rodrigues, Maurício Lima Barreto e Gerson Oliveira Penna.
De acordo com a pesquisadora Joilda Nery, doutoranda em Saúde Coletiva na Universidade Federal da Bahia (UFBA), “são claras as evidências de que os dois programas [Bolsa Família e Saúde da Família] contribuem para reduzir a incidência da hanseníase no País e quanto mais consolidados nos municípios melhores são os resultados, mas não é possível dizer que somente os dois programas sejam os responsáveis pela diminuição da doença no Brasil”.
Com informações do Ministério do Desenvolvimento Social
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