Jair Bolsonaro usou mais uma vez a cadeia de rádio e televisão na última quarta-feira (8) a noite para fazer uma defesa enfática dos efeitos da cloroquina e da hidroxicloroquina no combate aos efeitos da COVID-19, doença causada pelo novo coronavírus.
Sem apresentar nenhum estudo, Bolsonaro afirmou que o uso da cloroquina se apresenta cada vez mais eficaz.
“A cloroquina é uma forma que Bolsonaro encontrou de passar a ideia de que estamos diante de um mal menor. E não estamos. Pior ainda, cria falsa esperança porque não há remédio ainda comprovado contra o coronavírus”, destacou o senador Rogério Carvalho (SE), líder do PT no Senado.
O senador Humberto Costa (PT-PE) criticou a atitude de Bolsonaro que tem vendido o medicamento como a “salvação de todos os males” enquanto profissionais de saúde de todo o mundo trabalham de forma séria no combate ao vírus.
“Enquanto estamos combatendo a pandemia com toda seriedade, Bolsonaro atravessa o debate com bobagens e temas irrelevantes. É típico dele. O uso da cloroquina como salvação de todos os males, por exemplo, não devia gastar tanta energia. É um falso debate”, disse.
O discurso irresponsável de Bolsonaro em defesa da cloroquina fez com que a medicação desaparecesse das farmácias pelo Brasil. Em reportagem de 21 de março, o Globo relatou que o remédio havia sumido das prateleiras das drogarias do Rio de Janeiro. Para impedir o sumiço do remédio utilizado para tratamento da malária e de doenças reumatológicas, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aumentou as restrições para compra do produto.
O próprio ministro da Saúde do governo Bolsonaro, Luiz Henrique Mandetta, pediu cautela na utilização da cloroquina. Na entrevista coletiva concedida ontem (8), ele afirmou que o Conselho Federal de Medicina (CFM) está fazendo estudos sobre o medicamento e estabeleceu que os resultados sejam entregues ao Ministério da Saúde até o próximo dia 20 de abril.
Interesses financeiros
Reportagem publicada nesta semana pelo The New York Times aponta indícios de interesses financeiros escondidos atrás da defesa da cloroquina. De acordo com a publicação, Trump recebeu doações eleitorais de empresa que é acionista da Sanofi, que produz a cloroquina na França e vende no mercado internacional.
Além disso, a própria família Trump teria investimentos em um fundo mútuo, Dodge & Cox, cuja maior participação era na Sanofi.
Entre suas defesas da cloroquina, Bolsonaro ressaltou ter conversado sobre a medicação com “dezenas médicos e alguns chefes de estados”, entre eles o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e o primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi.