O massacre de Paraisópolis é mais uma tragédia anunciada em nosso País. Matam todos os dias. Estupram, torturam, violentam a carne humana. Massacram, psicologicamente e moralmente, a sofrida gente brasileira. Descartam da história e dos bancos escolares os atos de intolerância, de discriminação e de racismo.
O País não pode ser negligente e aceitar como natural a violência e o ódio. Não pode mais aceitar a banalização da maldade e da crueldade. Hannah Arendt já alertava sobre a banalidade do mal, ao descrever o julgamento e o depoimento de Adolf Eichmann e as atrocidades do regime nazista. “Foi como se naqueles últimos minutos estivessem resumindo a lição que este longo curso de maldade humana nos ensinou — a lição da temível banalidade do mal, que desafia as palavras e os pensamentos”.
Temos que perceber essa realidade e nos colocarmos no lugar do outro, sermos os olhos dos outros, temos que questionar o certo e o errado. Isso não é fácil, mas é possível. É daí que as sociedades passam a evoluir, por meio do resgate do humanismo. O Estado não pode se omitir. Precisamos adotar medidas preventivas, implementar políticas públicas de inclusão e não abandonar o nosso povo à própria sorte.
Os nove jovens de Paraisópolis são vítimas deste mundo que nos rodeia e que, infelizmente, aceitamos. Sim, o País aceita calado as atrocidades que fazem com o seu povo, aceita as inverdades que lhe chegam aos ouvidos. O pior erro que podemos cometer é o de aceitarmos quietos todas essas cenas de horror, com olhos desumanos e nutridos de indiferença e falta de amor. Temos que responder. Mas, responder com responsabilidade e com a não violência.
Cesar Passarinho cantava essas passagens da vida: “Reza o vento sua prece, o destino fecha a porta e o dia não amanhece. Se quebra a vida em pedaços, as horas correm vazias, sem travessuras e abraços. Tem o pão gosto de ferro, a alegria sai da casa e não há pandorgas no céu”.
As dores das mães e dos pais de Paraisópolis são dores que também sentimos. Elas são coletivas de um Brasil que ainda busca a sua verdade, a sua consciência perdida, que busca reencontrar a sua espiritualidade… São lágrimas que inundam o peito ao sabermos que os pássaros não cantam mais, ao olharmos para o infinito azul do céu e não mais encontrarmos pandorgas… Quando morre um menino, quando morre uma menina.
Artigo originalmente publicado na edição do dia 13 de dezembro de 2019 do Jornal do Brasil