O plenário do Senado promoveu, nesta quinta-feira (10), por iniciativa do senador Jaques Wagner (PT-BA), uma sessão especial de homenagem às vítimas do Holocausto e a realização da cerimônia do Yom HaShoá, Dia da Lembrança do Holocausto.
O Yom HaShoá é realizado anualmente com o propósito de recordar os milhões de vítimas do Holocausto. “Mais do que nunca, parece-nos que devemos insistir na tarefa de manter viva a lembrança do que aconteceu. Embora mais de 75 anos já se passaram desde o final da Segunda Guerra Mundial, ainda restam vivas as sementes do mal. É preciso combatê-las para que não prosperem”, disse o senador Jaques Wagner.
O Holocausto é considerado a maior tragédia humanitária da História da Humanidade. Ao todo, os nazistas condenaram à morte 6 milhões de judeus, 7 milhões de civis soviéticos, dentre eles, 1,3 milhões de judeus soviéticos. Também foram vítimas 3 milhões de prisioneiros de guerra, 1,8 milhões de poloneses não-judeus, 312 mil civis sérvios da Croácia, da Bósnia e Herzegovina.
Os nazistas também mataram 250 mil pessoas com deficiência que viviam em instituições, entre 250 e 500 mil ciganos, cerca de 2 mil testemunhas de Jeová e, pelo menos, 70 mil delinquentes. Já o número de opositores políticos alemães, ativistas da resistência e homossexuais mortos pelos nazistas nunca foi precisado.
Apesar dos números e dos registros históricos das atrocidades cometidas, sempre surgem os negacionistas dos crimes cometidos pelo nazismo. Por isso, os judeus fazem questão de relembrar os horrores cometidos para que não caiam no esquecimento e não voltem a se repetir.
“Fracassaram, como fracassarão todos aqueles que insistirem em negar aos seres humanos os seus direitos fundamentais. O nosso desafio e o desafio das gerações futuras é impedir que tudo isso caia no esquecimento. Recordar é impedir que o mal se repita, ainda que tente retornar com disfarces mais contemporâneos”, enfatizou Wagner.
Antissemitismo retorna com contornos modernos
Os participantes da sessão demonstraram preocupação com o crescimento recente de grupos neonazistas e manifestações públicas de apoio ao ideário do sistema fascista. O mais recente, ocorrido no início da semana, envolveu o influenciador Bruno Aiub, conhecido como Monark, durante episódio do podcast Flow.
Para o embaixador de Israel no Brasil, Daniel Zohar Zonshine, apesar de passados 77 anos desde o dia da libertação dos prisioneiros no campo de extermínio de Auschwitz, parte da sociedade ainda não assimilou os perigos da conexão entre as ideias e as ações de cunho nazista.
“Nossa guerra é levantar nossa voz contra a legitimação desse tipo de ideia. Estou aqui não só como Embaixador de Israel, mas como judeu e filho de sobreviventes do Holocausto. Conheço pessoalmente os resultados da ideologia e das ações horríveis executadas pelo regime nazista durante a Segunda Guerra Mundial. E o silêncio diante do ódio aos judeus não pode mais ser tolerado. O antissemitismo deveria ser uma preocupação dos líderes do mundo todo e do Brasil também”, disse.
A representante da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), Marlova Jovchelovitch Noleto, destacou que recebeu com perplexidade a manifestação do influenciador Monark defendendo não apenas ideias de cunho nazista como o direito de ser antijudeu.
“De que maneira esses influenciadores se sentem à vontade e com liberdade para propor isso? Como é possível ser antijudeu? Como é possível ser antinegro, anti-índio, anti seja lá o que for, se nós temos como premissa da vida em sociedade o exercício da humanidade e do respeito aos direitos humanos? É muito importante que situações como essas não sejam banalizadas e tampouco minimizadas, porque minimizando situações desse tipo é que situações assim progridem, ganham escala e se tornam verdade para muitos”, apontou.
Ela destacou que 17% do conteúdo relacionado ao nazismo publicado na rede social Tik Tok nega ou distorce a existência do Holocausto.
O presidente da Confederação Israelita do Brasil, Cláudio Lottenberg, indicou a necessidade de criação de frentes de ensino junto às diferentes plataformas de educação do Brasil para que se reforce que a liberdade de expressão tem limites quando vivemos em coletividade.
“Temos um marco constitucional que é abundante, robusto, em todo o seu conteúdo, e lá está prevista, sim, a liberdade de expressão, mas ela não pode afrontar outras liberdades e as garantias individuais”, salientou.
Intolerância não pode ter espaço na vida pública
O senador Jaques Wagner destacou o fato de a defesa da vida, da pluralidade, e da convivência entre os diferentes nada ter a ver com disputas político-partidárias. É algo anterior a isso e, na verdade, integra a “grande arte da democracia”.
Para ele, tolerar a intolerância é justamente o que produziu o maior crime humanitário da História da Humanidade. E, neste ano, o Brasil terá escolhas a tomar que, segundo Wagner, devem passar pelo pré-requisito de não acolher ideias intolerantes.
“Nós não podemos admitir na vida pública brasileira os intolerantes, aqueles que pregam qualquer tipo de discriminação à opção individual de cada um de nós: religiosa, política, sexual, qualquer uma delas”, disse. “Escolham o partido que quiserem, mas não escolham a intolerância como seu partido. Vamos ser do partido dos tolerantes, dos que respeitam a diversidade”, concluiu.